Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O que faz falta: prazeres simples e maneiras simples de dizer coisas simples (não querendo ser simplista)
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A ponte (e não só) é uma passagem
Tilinta-me no ouvido aquele famoso refrão de uma não menos famosa música de um não menos famoso autor/grupo/corpo de baile: “A ponte é uma passagem para a outra margem”. Tantos anos decorridos e só agora me apercebo que o único mérito destas palavras que soavam tão bem é, de facto, rimarem. De resto, a constatação de que a ponte é uma passagem para a outra margem é de uma redundância infantil o que, atentemos, não é obrigatoriamente negativo. As palavras e o seu significado perdem-se demasiadas vezes na vontade que temos de que estas soem bem ao ouvido, esquecendo-nos do eco interno que as mesmas deveriam fazer ressoar no nosso cérebro. Olho para trás para as palavras que aqui fui libertando (libertando ou prendendo para sempre a este post sem sentido?) e quase me esqueço do porquê de me ter lembrado deste refrão. Lembrei-me que por mais bonito que seja um par de pernas, não nos deveremos nunca distrair do que é realmente importante – de que as pernas são, ou se não o são deveriam ser, uma agradável passagem para umas nádegas perfeitas.
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Ele há coincidências
Ontem um árbitro espanhol deu um jeitinho aos alemães perdoando uma penalty contra a Dinamarca. Hoje um árbitro alemão perdoou dois penalties à Espanha no jogo com a Croácia entregando aos espanhóis a qualificação para os quartos-de-final em bandeja de ouro. Por outro lado, os milhões euro/alemães entram nos bancos espanhóis sem medidas de austeridade como contrapartida. Não acredito em bruxas nem bruxedos, pero que las hay hay.
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Ne me quitte pas
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Portugal 2 - Holanda 1 (CR7 - RESPECT!)
Serei eu um génio por, após o jogo com a Dinamarca, ter dito a todos os meus familiares, amigos, conhecidos, vizinhos e toda e qualquer pessoa com quem abordava o tema do Euro 2012, que Cristiano Ronaldo nos ia dar o apuramento no jogo com a Holanda? Não, não é preciso ir tão longe, basta ter acompanhado atentamente toda a fabulosa e construída a pulso carreira de Cristiano para, com pouca margem dúvida, poder prever que, no momento certo, quando mais fundamental seria o seu contributo, CR7 iria surgir em todo o seu esplendor.
E com Ronaldo continuou um imperador Pepe a sustentar toda a defesa, com CR7 surgiu João Pereira a dar não um ar mas sim um vendaval da sua graça, com ele veio um Moutinho a mil e uma rotações e com um radar na cabeça (como o classificou o inefável Freitas Lobo) e com ele veio um Nani tremendo e apenas a falhar na finalização. Aposto agora aqui, como o fiz com CR7, que contra a República Checa será Nani a deitar para trás das costas o azar. Obrigado e força, rapazes, obrigado e força Paulo!
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Os polacos e o sonho que comanda a vida
As nuvens sobre o estádio. A premonição de que toda a esperança de um povo podia desabar num aguaceiro de lágrimas. Um povo orgulhoso, uma equipa esforçada, o futebol sempre implacável e com aquela terrível mania de premiar os melhores e mais fortes. Nem sempre os sonhos vingam sobre o relvado. Aliás, raramente os sonhos se tornam realidade no que às coisas da bola respeita. Não obstante as muitas surpresas que a caixinha de surpresas do futebol reserva, se observarmos atentamente os vencedores, quase sempre, naquele momento, naquele segundo decisivo do jogo, estes foram melhores. E ainda assim, recusamo-nos a deixar de sonhar mesmo quando enfrentamos os mais fortes. É também essa a doce loucura e a inigualável beleza do futebol.
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Janela indiscreta
Olhar o mundo sem querer por ele ser vista. Beber os sons e as vozes para lá da vidraça protectora. Sentir o calor do sol filtrado de ultra-violetas. As dores passadas e as cicatrizes que teimam em não sarar obrigaram a vidros duplos, à prova de bala, à prova de gente. Permanece obscuro o dia em que a janela se abrirá, desconhece-se se algum dia aquele vidro jazerá estilhaçado a seus pés. Por ora, ela espia os movimentos de gente que desconhece, procura encontrar algum consolo na tristeza que emana para lá da janela. Ressente-se brevemente com o seu egoísmo (por segundos, por escassos segundos), com o seu incontrolável desejo de que não seja apenas ela a sofrer para cá da janela, que todas aquelas almas penadas com pastas de executivo, mochilas com laptops, chapéus-de-chuva assassinos, fatos cinzentos e enfadonhamente elegantes sofram tanto ou mais do que ela. Porque a condição de se ser gente, feita de carne, osso e podridão tem destas coisas, estes desejos irrenunciáveis, esta incapacidade de querer para os outros mais do que se quer para nós.
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Portugal 3 - Dinamarca 2 (e precisamos do nosso Ronaldo a sorrir de novo...)
Uma equipa em busca de si e da sua confiança conseguiu resgatar a vitória no final. Um enorme Pepe, um Nani em crescendo até um nível fantástico, um Postiga a mostrar as razões de Paulo Bento. Depois, o primeiro golo da Dinamarca a fazer ressurgir as dúvidas. E a partir daí o que há para falar, além do feliz e merecido golo de Varela, foram dois golos incríveis falhados por Cristiano Ronaldo. Um Cristiano de olhar ansioso, dobrado pelo peso de corresponder a toda a esperança da nação, um Cristiano soterrado pela raiva de mostrar aos seus críticos, os seus críticos compatriotas (incrivelmente, os que mais fel destilam sobre Cristiano) que tudo o que dizem são patetices.
As críticas injustas e filhas da inveja não invalidam que Cristiano tenha que reflectir seriamente nas razões que o vão condicionando nos seus desempenhos na selecção. Aproveitando essa reflexão, os nossos opinion makers, jornaleiros e comentadores encartados, têm que decidir se querem crucificar Ronaldo ou ajudá-lo a levantar-se. E o país e aqueles que o arrastam para o fundo têm que decidir se querem continuar a invejar e criticar os melhores, os que arriscam, ou se querem seguir-lhes o exemplo, apoiá-los e ancorar-se neles para atingir o sucesso. E não falo só do sucesso no Euro 2012.
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E que tal uma mudançazita de atitude?
Farto de andar a tentar explicar a uma data de ignorantes maldizentes que não percebem nada de futebol, que se pelam pelo escalpe do Paulo Bento e das nossas milionárias vedetas o porquê de termos feito um grande jogo contra a Alemanha e o porquê de devermos ser positivos e não meramente derrotistas, pessimistas e bota abaixista básicos, descobri agora a fórmula mágica para responder a toda essa gente. Ah, aproveito para incluir todos os comentadores da treta que pululam nas televisões e que só não têm solução para a morte e para a fome em África. A resposta veio de um amigo meu, ainda mais farto desta gente do que eu. Para ler e reflectir. Nunca ninguém morreu por ler e reflectir, façam lá uma forcinha.
"Somos um povo de merda!
É para todos mais do que evidente que a Alemanha é muito superior a Portugal em futebol, como em muitas coisas mais. Foi evidente que mesmo assim poderíamos ter ganho e demos uma luta do c%$#E##* apesar de sermos sob todos os aspectos menos capazes. Ser-me ia totalmente indiferente o resultado deste e dos outros jogos se não soubesse que as vitórias desta equipa dão tanta alegria a este povo que é o meu. O que me chateia é ver o povo de merda que somos! Sempre a queixar-se, sempre com palpites, sempre a dizer mal, sempre com invejas e expectativas flutuantes em função do resultado que se vai fazendo! Um dia teremos um povo que vai puxar do princípio ao fim (do campeonato) independentemente do resultado do jogo; um dia teremos um grupo de gente só vai querer ver o que há de bom; um dia vamos ser conhecidos por ser os melhores adeptos do mundo! Nesse dia seguramente iremos ganhar alguma coisa, mesmo que não seja um campeonato, porque a melhor equipa do mundo nunca seremos e isso nem interessa nada! É só futebol mas tudo o resto é o país que somos.
O hino de Portugal cantado no campeonato do mundo de rugby correu mundo, gritou-se até ao fim, não se ganhou um único jogo e fomos gigantes! Enquanto o povo exigir milagres sem dar nada em troca - ganhar jogos à Alemanha a torto e a direito; aumentar a riqueza mas sem ter que trabalhar mais ou sem aumentar a produtividade; etc. Enquanto assim for não vamos a lado nenhum! Com o país a cair no buraco é importante mudar atitudes, minha gente! Força Portugal! Mas também, não se preocupem muito... É apenas futebol!"