Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A questão
Esta é a questão. A que nos encosta à parede da nossa realidade, a que nos faz pregar os olhos no chão em busca de uma qualquer resposta. Provavelmente o problema começa logo aí. Porque procuramos a felicidade no chão quando ela deveria andar bem mais lá por cima, no céu propriamente dito ou na altura ilimitada dos nossos sonhos?
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O vício do café da manhã, dos corações puros e das mentes livres (café anti-Trump)
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About Trump
Ainda agora estamos na ressaca da vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas e já vomito comentários, posts, artigos de comentadeiros encartados e publicações de tudo o que é anónimo ou conhecido enlouquecido nas redes sociais, vociferando contra os americanos, contra Trump, contra tudo e contra todos, que é como quem diz abominando (sem se aperceberem) a democracia que permite eleger uma aberração como Trump. Muito pouca gente parece preocupada em perceber o que se passou e porque se passou. Ah e tal os americanos estão quase em pleno emprego, não pode haver assim tanta gente descontente com o sistema e com os políticos que o sustentam e habitam há séculos. Será que alguém já se preocupou em saber que empregos são esses, que salários miseráveis são os auferidos, que vidas miseráveis vivem os milhões que votaram em Trump? Trump percebeu isso e, além de falar por um lado para uma minoria de empresários e gente rica que vai pagar menos impostos, falou também aos ouvidos dos desprezados da política e da sociedade, cantou-lhes a doce balada do bandido convencendo-os de que é contra o sistema que os levou até ali e, mesmo não lhes dizendo o que em concreto fará para lhes mudar a vida, encheu-os de chavões estudados ao milímetro pelos gurus da comunicação que lhes fizeram tilintar a última coisa que lhes resta: a esperança de que algo de diferente venha aí, porque o que sempre conheceram deixou-os no lodo de sempre. É tão simples que até dói. Deve ser por isso que tanta gente grita, de dor pela estupidez de não querer ver.
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Café da manhã - toca a abrir a pestana, cambada!
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Porto 1 - Benfica 1
As regras, escritas e não escritas, os valores, as emoções e a linguagem do mundo da bola serão um espelho perfeito de quanto a condição humana tem tudo para ser imperfeita. Falo da desilusão portista pelo empate de ontem com o Benfica, em que se vitupera o facto do clube da Luz ter jogado muito menos e com pouco mais de um remate ter empatado a contenda no fatídico minuto 92. Rui Vitória, sem o melhor defesa, o melhor médio e o melhor avançado, foi para uma batalha com a estratégia bem pensada, e numa batalha nada há mais importante do que a estratégia. Jogar bonito é bonito mas marcar no momento certo, mesmo que da forma mais cínica possível, é perfeito. Os homens deverão saber isso mas fazem tudo por não o querer aceitar.
No fim do jogo o bode expiatório foi Herrera, que provocou um canto desnecessário que veio a dar o golo do Benfica. Herrera, muito por fisicamente ser o que muitos apelidam de um homem feio dá um jeitão para ser o patinho feio desta equipa e o pai da derrota. A má estratégia de Nuno Espírito Santo, que preferiu reforçar a defesa e o meio campo - com isso deixando de dominar um jogo que estava a ganhar com facilidade - fica assim esquecida por entre as penas do patinho feio. Patinho feio esse que também foi há uma semana William Carvalho que falhou um penalty, e por isso foi muito criticado, bem ao contrário de Adrien, o menino bonito muito aplaudido aquando da sua substituição, isso apesar do penalty ontem falhado. O mundo é injusto não porque tem que o ser mas porque os homens preferem esconder-se nesse eterno apontar de culpas mortais, desviando assim o olhar do espelho que nunca mente.
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O cheiro do cu de Judas
Não me venham com palavras plásticas que se leem com os dedos nos tablets da moda, com obras de arte comprimidas nos Kindle aprumadinhos e sem cheiro. Ler é desfolhar páginas já amarelas, é inebriarmo-nos com o cheiro do papel a tresandar a muitas vidas e anos de dedos vorazes ou de prateleiras pardacentas, é tratar o livro com o carinho necessário para que não se desfaça num mar de folhas descoladas, é acomodar a lombada no nosso colo como se fosse um filho recém nascido. Ler Lobo Antunes é mergulhar 20 minutos diários (não mais que isso, as injeções de palavras e sensações podem conduzir a overdoses literárias) num outro mundo que esmiúça o nosso mundo até ao âmago da sua complexa simplicidade.
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"Os cus de Judas" - no Jardim Zoológico da magia das palavras
Começa assim “Os cus de Judas” de António Lobo Antunes, numa reminiscência das sensações da infância/juventude (?) de tempos passados no velhinho Jardim Zoológico de Lisboa. Os sons não eram os que esperávamos de animais mas os de vozes de gaze e sílabas de algodão, os pescoços da girafa não eram compridos como escadas mas sim a altiva e inatingível solidão de esparguete da girafa. Lobo Antunes é único, observa e reflecte com um filtro de beleza e um nível de detalhe que dificilmente alcançaremos. Lê-lo hoje é percebê-lo como não consegui fazer há uns anos atrás, é ter os sentidos mais apurados porque a vida já me ensinou outras nuances sobre a beleza e a fealdade, sobre a riqueza da linguagem e sobre a essencialidade de nunca considerar que uma palavra foi escrita a mais, pois se alguém achou que ela devia existir é porque algo provocou essa sensação, essa necessidade de a plasmar no papel, na vida.