Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Objectivo Brandoa
- Mas o que é que se passa contigo, Jorge?
- Já não suporto mais isto. Sinto que toda a tua beleza me asfixia, que tudo o que sou vive à tua sombra, que nós os dois nos deixámos cegar pelo teu brilho ofuscante.
- Essa conversa outra vez, essa fraqueza. Passei a vida a ver os homens fugir de mim por julgarem que por eu ter um palmo de cara, um bom par de mamas e pernas que eles chamam de sonho, sou inatingível e escorregadia. Inatingível porque sentem que nunca me alcançam realmente, escorregadia porque a toda a hora temem perder-me para os outros energúmenos que me comem com os olhos.
- É isso mesmo, Sandra, já não tolero mais olhares de inveja, comentários jocosos do género “aquele gajo não tem cabedal para ela”, já não aguento nem mais um dia partilhar-te com os sonhos molhados desses filhos da puta. Não só dos desconhecidos, mas sobretudo dos nossos amigos, dos meus amigos, até do palhaço do meu irmão e do velho babado do meu pai.
- Foda-se, Jorge, pensei que eras tu! Pensei que tinhas força e sabedoria para não te perderes nesses sentimentos mesquinhos, nesses comportamentos machistas de adolescente inseguro. Afinal és mais um como os outros, mais um grão de areia numa praia de caranguejos impotentes. Em vez de avançares, recuas em direcção ao buraco fundo dos teus medos. Vai e não voltes! Vai e fecha-te num 7.º esquerdo da Brandoa com uma puta de uma gorda que os outros não invejem nem devorem em sonhos. Vai e engorda até ao fim com ela, até rebentares nos subúrbios dos teus medos.