Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Estado de alma
As coisas não estão fáceis para os corações leoninos. Já não me interessam os meandros jurídicos das assembleias, das destituições e das comissões, das providências cautelares e do diabo a sete. Neste momento procuro resolver em mim a desilusão, a tristeza, a raiva e sabe-se lá mais o quê provocados pela loucura desse furacão chamado Bruno. Depois, deixando o Bruno para trás, procuro perceber o que sinto sobre os jogadores que, não obstante serem profissionais e estarem no desempenho da sua atividade profissional - logo guiados por critérios profissionais – decidiram rescindir unilateralmente os seus contratos com o Sporting, para boa parte deles o clube que sempre disseram ser o do seu coração. Isto não é branco nem preto, eles não têm razão nem deixam de a ter, basicamente isto é tudo uma grande merda. Tentando resumir em pontos e contrapontos, resultado de uma conversa aberta e sofrida com dois amigos leões como eu:
- É por demais evidente que Bruno de Carvalho hostilizou os jogadores e, propositadamente ou não, acendeu para níveis insuportáveis as luzes vermelhas dos fracos cérebros dos adeptos mais irracionais, os barrabravas como lhes chamam na Argentina. Por outro lado, não consigo deixar de pensar que os jogadores deixaram-se manipular por empresários, que lhes acenaram com os milhões dos prémios de assinatura (não lhes falando, claro está, dos outros milhões que esses vampiros receberiam como comissões dessas assinaturas).
- Um clube é uma empresa? Um clube não é uma empresa apenas para quem nele não trabalha. Não há razão para que a paixão, a lealdade e a entrega de um profissional de futebol ou de uma empresa sejam distintas. Os adeptos não mudam de clube, os jogadores sim. Quem deveria ter lutado mais e não desistido deveriam ter sido os sócios e adeptos, os verdadeiros sportinguistas e não os jogadores, funcionários do clube. Por outro lado, no fundo de mim acredito que um clube não é uma empresa, daí as paixões que desperta. Um clube não é um presidente, é os treinadores, os mentores, os educadores de centenas de jovens atletas, nomeadamente do Gélson, do Rui, do William e do Rafael Leão. São os adeptos apaixonados que sempre os acarinharam, não são duas mãos cheias de energúmenos que os agrediram. Não consigo deixar de pensar que os jogadores se esqueceram de tudo isso demasiado facilmente. Gosto de acreditar que no lugar deles não teria desistido com esta leveza do clube da vida deles, das histórias de afectos, das pessoas que os fizeram crescer, que fizeram deles profissionais ricos e de sucesso.
- Em suma, oportunistas sempre houve e neste caso foram dadas demasiadas oportunidades por Bruno de Carvalho aos oportunistas. Por outro lado, estes rapazes desiludiram-me como homens. Um homem pode e deve resistir mais à adversidade do que eles o fizeram. O Bruno é o principal culpado, eles lutaram menos do que deviam. De um lado está a versão da empresa, dos deveres e direitos profissionais, do outro está a visão de um eterno romântico que sempre serei.
Para terminar, há quem esteja a torcer para que as coisas corram mal aos jogadores que rescindiram com o Sporting e que hoje representam a selecção nacional. A isso digo não: a selecção está acima de tudo, quero que todos os jogadores façam o jogo das suas vidas. Dói-me a alma, mas não mais do que amo o meu país! Ganhar malta!
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3 comentários
De Teresa a 18.06.2018 às 09:35
É sempre assim que me sinto quando leio sobre violência. Seja ela doméstica, profissional...
Os teus argumentos não são originais, nem sequer exclusivos da tua vontade de preserverares o Clube da destruição que se vislumbra. Já todos vimos, lemos, ouvimos ou soubemos de pensamentos, actos e omissões idênticos - quase sempre parando um pouco para reflectir mais neles quando o "mal está feito" e se pensa no "se eu soubesse" (sabendo), "se fosse eu" (sendo)...
Por isso não. Não o vou fazer.
O meu apoio incondicional a todos. Ás mulheres que saem a meio da noite de casa, com a roupa do corpo e dormem num banco de jardim sem ter ideia de onde irão quando a manhã chegar. Aos jogadores que saem para A grande prova sem saber bem sobre o seu futuro - que poderá ser tudo e o nada (o nada, em pessoas que só sabem isto, é enorme de vazio).
A uns emocionam as palmas, sincronizadas, da Islândia.
A outros emociona quando o Estado vem dizer que numa situação trágica foram, imediatamente, disponibilizados apoios psicológicos aos afectados.
Não percebem nada de nada... só têm, espero, bom ouvido.
De bolaseletras a 21.06.2018 às 10:08
De Teresa a 21.06.2018 às 20:59
Um dia depois de um passeio de domingo o meu Tio pediu à minha Tia para sair do carro e ajudá-lo a estacionar - em Lisboa e nesses tempos em que a ninguém ocorreria bater no carro de alguém, nem em pensamento e nem que soubesses que podias fugir.
A Tia saíu do carro e vá de orientar o Tio com "vai, vai, podes ir, vai, vai..." de repente PIMBA o carro do tio bate no de trás. Virando-se para a Tia diz ele: "então?", responde ela "Oh Rico tu não estavas a ver o carro?"
Em rigor a Tia na sua puerilidade tinha (tem!) razão. Eu, tu, todos podemos "ir orientando" mas não somos nós ao volante .