Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O mergulho
Sabia que a sua natureza era mais forte do que todas as regras e grilhetas que a sociedade ou os que a rodeavam pretendiam impor-lhe. Gostava dela assim, selvagem, indiferente a convenções e tabus artificiais, mas pedia-lhe por vezes alguma contenção. Mais por a querer só para si, o seu precioso segredo, do que pelo choque cultural que a atitude de uma mulher selvagem pudesse provocar nos outros. Quando ela lhe sorriu da soleira da porta, anunciando que ia estrear a praia junto à nova casa, devolveu-lhe o sorriso e pediu-lhe apenas para usar o lenço de praia que lhe cobria as belezas inigualáveis que tinha o privilégio e o desmedido prazer de conhecer até ao tutano. Ela desfez-se naquela gargalhada de miúda marota que o deixava desarmado, replicando que não ia a lado algum sem o seu muito amado lenço. Da janela, viu-a afastar-se em saltinhos de gazela, chegar à praia obedientemente coberta pelo tão amado lenço, sentiu a alegria contagiante que o sol abrasador e o mar em forma de céu líquido lhe transmitiam, e não conseguiu conter a gargalhada perante o espectáculo único que foi a sua entrada mar adentro. Live and let live.