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O Mundo pode ser um lugar maravilhoso - menos siso

Sexta-feira, 20.12.24

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Fotografia tirada por Peter Sellers à sua mulher, Britt Eckland, Roma, 1965

 

Levamo-nos demasiado a sério, cometemos cada vez menos loucuras. É sabido que os cemitérios são depósitos de circunspeção, pouco dados a arrebatamentos de muito riso e pouco siso, mas queremos mesmo ser recordados como seres sérios e de tromba fechada? Quando contarem histórias do que fomos e fizemos o nosso sonho é que brindem em nossa memória com epítetos de “epá, foi o gajo mais sério e empedernindo que já passou por este mundo”? Tenhamos menos juízo, malta, a puta da vida são dois dias.

  

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publicado por bolaseletras às 11:00

A felicidade à mão de semear - amizade

Quinta-feira, 19.12.24

 

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Demasiada gente desirmanada. Demasiadas almas penadas desavindas do amor e das comunhões físicas e espirituais que supostamente fazem o mundo mover-se, a segurança social pagar-se e as vidas valerem a pena. Ainda que nem sempre, há fogachos de felicidade que justificam o porquê de aqui andarmos, nem sempre só com a cabeça entre as orelhas. Demasiada gente que idolatra os seus dóceis e fiéis animais de estimação, demasiadas existências que padecem de um medo doentio de arriscar o amor humano, de expor-se à descoberta que a fidelidade habita apenas o mundo animal. As amizades são hoje o novo mundo das relações, um antídoto anti-solidão sem os perigos das paixões assolapadas. Muito bem, o ser humano adapta-se desde tempos imemoriais, porque não? Ainda assim, para que os rasgos de luz atravessem por vezes a estrada da vida não posso deixar de sugerir uma reflexão sobre a imagem que ilustra este texto. Porque não? Friends with benefits, como certamente terá gracejado algum fleumático ator inglês.

 

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publicado por bolaseletras às 15:08

O mundo pode ser um lugar maravilhoso - Esplanada

Quarta-feira, 18.12.24

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Da esplanada em vão me projectoPara lá de onde me sintoTento ver sem me verNa esperança súbita de saber
Em que movimentos me finto
 
Naquele entrecruzar constanteNeste chocar sem chocarOnde o espaço é quase tudoE o tempo quase nadaMe tento em vão ver passar
 
Uns vão rindo outros sorrindoOutros vão de rosto mudoHá quem simplesmente vá indoNa fé que o vento varra tudo
 
Mas eis que um olhar diferenteVestes tu a esvoaçarComo se à muitos prédiosNão nos tirassem o ar
 
Na fronte leva a certezaDe mar manso em lua cheiaDeixo 20 paus na mesa vou apanhar a boleia
 
Uns vão rindo outros sorrindoOutros vão de rosto mudoHá quem simplesmente vá indoNa fé que o vento traga tudo
 
Letra da música "Esplanada", dos Trovante 
 
 

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publicado por bolaseletras às 10:12

Divas - Marilyn Monroe

Terça-feira, 17.12.24

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Nova Iorque, 1956. O fotógrafo Cecil Beaton é "capturado" no exercício da sua arte pelo colega Ed Pfizenmaier. Marilyn, magnífica na sua naturalidade, sentenciou para a nossa eternidade: "If you can make a girl laugh, you can make her do anything".

 

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publicado por bolaseletras às 17:00

O mundo é um lugar pouco recomendável - episódio 2

Segunda-feira, 16.12.24

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Fotografias por Paula Bronstein

 

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publicado por bolaseletras às 11:23

Divas - Laetitia Casta

Sexta-feira, 13.12.24

 

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Laetitia Casta, fotografada para a Paris Match, setembro de 2004. Dificilmente poderemos imaginar uma mulher que goste mais de ser mulher do que ela parece disfrutar. Escutemo-la, sobre esse prazer inigualável: "I enjoy being a woman. It's what I learned from years of experience in modeling. You learn how to seduce; how to be sensual, how to play. It's very important for a woman, I think. But it's not by beauty that you seduce. It's a meeting - it depends on the image the other reflects back to you, how they see you and make you feel."

 

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publicado por bolaseletras às 08:54

O mundo é um lugar pouco recomendável - episódio 1

Quinta-feira, 12.12.24

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publicado por bolaseletras às 12:15

A tradição já não é o que era

Sexta-feira, 12.04.24

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Famílias tradicionais, prazeres inconfessáveis, demónios ocultos sob a tranquilidade de uma equilibrada gestão da economia doméstica. Recordo sempre com saudade aquele professor do secundário mais severo e disciplinador, o que indubitavelmente seria encontrado por algum aluno a transgredir, ou com o cigarro errado no canto da boca, no recanto mais improvável dos infinitos botecos alfacinhas, ou com a mão no sítio certo da esposa errada. Ah os defensores dos valores tradicionais, os arautos do respeitinho é muito bonito, os idólatras do sexo como veículo único e omnipotente da (pro)criação eticamente assistida. Lençóis imaculados e passadinhos a ferro como recomenda a sogra, alvos como a impoluta esposa, a divina santa que recebe submissa e agradecida a semente do missionário, na respetiva e invariável posição religiosamente aconselhada. A inominável e abençoada pureza  que, natural e diabolicamente não satisfaz o lobo com vestes de cordeiro, o selvagem escondido por trás do aprumo e dos amados sacramentos, o homem insatisfeito que dedicará a vida a procurar quem lhe sacie o desejo animal, mas que não abdicará de passar metade dos seus dias a chicotear na praça pública os devassos e as prostitutas sem valores, tudo enquanto esconde a restante metade da existência  por trás dos seus pecados e transgressões. E as esposas, essas incompreendidas santas, as esposas que se amam como mães e que amargamente choram o desconhecimento da verdadeira paixão, as que sonham sentir algo mais do que o jorro mecânico e precoce que as ensinaram a receber, as penitentes alunas, as que bebem a doutrina que lhes impregnaram sob a pele de que era só o que havia a receber.

Benditas as que provaram o fruto proibido, benditas as que escolheram homens que querem que elas sejam efetivamente mulheres, seres pensantes e livres, corpos excitados e fontes de amor e orgasmos, existências únicas e autónomas. Um homem que realmente ame as mulheres sabe, em toda a sua plenitude, que uma mulher assim, uma mulher verdadeiramente mulher, será sempre em diversas áreas da condição humana um ser a cuja sombra terá de se sujeitar. Um homem que não tenha receio da natural superioridade feminina, que estimule e potencie esse vulcão de energia e amor, é o verdadeiro amante da mais bela flor do universo.

 

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publicado por bolaseletras às 14:42

Marilu, Justino e a fonte dos males da condição humana

Quinta-feira, 01.06.23

   

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Fotografia de André Steiner

 

Por entre dois dedos de conversa, sem grande expectativa no que por aí viria, há uns dias um amigo decidiu de forma leve, como quem descasca e engole dois tremoços amaciados por um golo de imperial, brindar-me com uma simples e cortante reflexão sobre a origem dos males da condição humana. Dizia ele, enquanto analisava distraidamente a espuma da cerveja a esfumar-se das paredes do fino vidro, que a insatisfação é a principal característica que nos distingue dos animais. Somos o único bicho que nunca se contenta. Que não aproveita realmente, mesmo que por momentos pareça que o está a fazer. Somos o único ser vivo que nunca está presente. Estamos sempre a pensar no amanhã que virá, que esse amanhã será melhor. Os animais não têm futuro, é-lhes conceptualmente vedado. Por isso, vivem no presente, vivem-no mesmo, porque nada mais há para eles. A insatisfação é a essência do ser humano.

Bebo-lhe as palavras enquanto a imperial amolece no copo. Penso nas horas que perco a observar as minhas duas tartarugas - de seu nome Marilu e Justino - na maravilha que é o funcionamento do seu cérebro reptilóide, invejo-lhes profundamente a forma como repetidamente disfrutam dos seus dias. Comer, dormir, apanhar sol, correr e nadar uma atrás da outra com a felicidade de como se o fizessem sempre pela primeira vez. A Marilu, mais pequenina, morre de amores pelo Justino, também chamado de Justinão devido ao seu imponente porte. O zénite do dia dela é quando, finalmente e após inúmeras tentativas, consegue equilibrar-se no topo da carapaça do seu parceiro e tirar uma sorna de algumas horas, aproveitando o cansaço e a eterna paciência do pobre coitado. Inerte para não a incomodar, o olhar do Justino perscruta o nada, recebe o sol como se fosse tudo o que pretende para toda a vida. O sol, apenas o sol, e o aconchego de Marilu nas suas costas.

Ao fim de 5 minutos já perdemos a capacidade de ouvir o que o parceiro está a dizer. Ao fim de 10 segundos pós-orgasmo já estamos a pensar no que fazer a seguir, como se não tivéssemos acabado de ser abençoados pelo êxtase da criação. Como se disfrutar realmente de um momento por alguns minutos fosse a morte de alguma parte de nós. Como se o amanhã fosse o ansiado e inalcançável presente que eternamente buscamos e em que jamais nos instalamos. 

 

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publicado por bolaseletras às 16:42

See Naples and die

Quarta-feira, 24.05.23

 

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Nápoles. Máfia, Maradona, crime, um estranho fascínio pelo lado negro da natureza humana. Sei que não morrerei sem visitar aquelas ruas míticas onde se adorou sem limite o maior dos maiores, Diego Armando Maradona. Mas Nápoles será muito mais do que essa louca paixão, vejo-o nos olhos dos personagens reais, de carne e osso, com cheiro intenso a gente que ilustra este post. O fotógrafo Sam Gregg alimenta-me o fascínio com esta coletânea de fotos intitulada “See Naples and Die” (https://www.lensculture.com/articles/sam-gregg-see-naples-and-die). O feio pode ser contraditoriamente belo, o medo uma irresistível fonte de atração, a violência mais não ser do que uma desajeitada e fogosa forma de amar. Um dia perder-me-ei nas tuas ruas, é só o que sei.

   

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publicado por bolaseletras às 16:00





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