Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Tanto que ensinam e não aprendem o básico
É difícil aceitar que o cerne da questão está, sem margem para dúvidas, nos bancos da escola, no giz que rabisca os quadros negros, ou, se preferirem, nos dinâmicos powerpoints ou nos interactivos magalhães. Sem jogos de palavras, é preciso afirmar convictamente que o futuro deste, de qualquer país, está directa e irremediavelmente ligado à qualidade do seu sistema educativo. Este está nas mãos dos professores, estes têm nas mãos o futuro dos nossos filhos. Por isso vamos satisfazer-lhes todas e quaisquer pretensões corporativas? Não, é preciso ser mais inteligente que isso, diria que nenhuma sociedade pode dar-se ao luxo de ser refém de qualquer grupo profissional.
Todo o meu percurso educativo, dos bancos da primária ao canudo final, foi feito na rede educativa pública. Tive alguns excelentes professores, tive alguns caricatos docentes que ainda hoje não sei como construiram uma carreira no ensino sem que ninguém lhes retirasse a responsabilidade de educarem alguém (quanto mais permitir-lhes progredir na carreira), tive na maior parte dos casos professores bem formados e que percebiam e assumiam o sentido da sua missão. Contudo, tenho sérias dúvidas que ainda assim seja.
Como é possível que uma classe com este peso social permita que o futuro da sua profissão, do sistema educativo, dos nossos filhos, esteja nas manipuladoras mãos de artistas da estirpe de um Sr. Mário Nogueira? 38 pontos para chegar a um acordo? Mas será que o tanto que ensinam não lhes ensinou nada? Será assim tão difícil perceber que a razão da existência deste tipo de sindicalistas é o eterno confronto, que o encontrar de soluções significa o extinguir das razões da existência de parceiros sociais como os que estão por detrás dos Srs. Mários deste portugalzinho?
Quero acreditar que os professores irão, antes que seja tarde, perceber o pântano em que progressivamente se vão atolando. Um pântano de perda de credibilidade, de mesquinhas discussões por regalias inexistentes em quaisquer outras carreiras públicas, um pântano que poderá conduzir ao pior desfecho de uma guerra: o de uma guerra sem fim. Para este desfecho basta que eles não queiram ceder naquilo que a sociedade entende como injustificáveis regalias. Sim, porque nisso o Estado não poderá ceder, é o interesse público e o princípio de um tratamento igualitário que o impõe. Os nossos filhos são também os vossos filhos, Senhores professores, nunca se esqueçam disso.