Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A toda a família, amigas, amigos, parceiros, conhecidos, enfim, vocês sabem quem
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Contra a crise, olivalenses ao poder!
Sou filho dos Olivais Sul e com orgulho o afirmo. Nessa inigualável freguesia lisboeta dei os primeiros passos, marquei os primeiros golos, roubei os primeiros beijos. Enfim, nessa terra de grandes homens e de belas mulheres me fiz homem.
Felizmente, nesta minha recente incursão no universo da blogosfera não me encontro sozinho, no que a distintos blogueiros olivalenses respeita. Tivera o Governo do nosso Socras malta da estirpe de um Chico (uma referência Sportinguista, um amante da História e da alta literatura, um futebolista com um inconfundível jogo de cabeça) - www.deramcabodistotudo.blogspot.com/ e de um Pedro (um historiador de alto gabarito, um profícuo combatente do envelhecimento geracional, um futebolista da estirpe de um Binya branco) - www.cachimbodemagritte.blogspot.com/ e não havia crise que desassossegasse os espíritos mais frágeis.
Siga eu os passos destes dois belos exemplares olivalenses e o mundo estará no bom caminho.
p.s. - para os leitores menos avisados, alerto que há quem intitule os bons e velhos Olivais de "zona histórica da Expo". Perdoai-lhes senhores, que não sabem o que dizem.
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NUNCA ESQUECER, Ó LISBOETAS!!!
A menos que gostem de circo, por favor, vejam e revejam este vídeo antes de voltarem a fazer asneira...
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Cosmopolis (pérola 2) - Arte e vida
"Não vês a tua própria imagem em todos os quadros de que gostas? Sentes um resplendor a banhar-te, qualquer coisa que não consegues analisar nem descrever com clareza. Que estás a fazer nesse momento? A olhar para um quadro na parede, só isso, mas faz com que te sintas vivo neste mundo. Diz-te que sim, que estás aqui. E sim, o âmbito da tua existência é mais profundo e mais encantador do que tu pensavas."
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Não há sistemas perfeitos, não há professores perfeitos
Há uns tempos, num velório em dia triste e escuro, encontrei o meu melhor professor do ensino secundário. Deu-me aulas durante 3 anos, isto já há mais de 17 anos. Como não moramos longe, de ano a ano ia-me cruzando com ele. Sempre foi um homem decidido, de convicções fortíssimas, um touro de energia que não via obstáculos para as suas iniciativas em prol dos alunos e do que julgava ser a melhor forma de os ensinar. Só para verem, sendo professor de Religião e Moral, chegou a presidente do conselho directivo da escola.
Mas notava-se ao longo dos anos. O desgaste, o cansaço, a descrença no sistema. Falou-me com uma amargura profunda da desilusão com a escola, os colegas, do que sentia ser uma política educativa errada que estava a destruir aquilo porque sempre lutara. Pelo que conhecia dele, confesso, fiquei extramamente impressionado com o rumo que a política educativa estaria a levar. Sim, não pensem que é nos jornais e debates que percebemos a bondade ou malvadez das soluções de que todos falam. É no terreno, nas vozes dos participantes do sistema que nos vamos aprecebendo das reais implicações deste espírito de mudança. Esta era uma voz, uma voz que me deixava preocupado.
Ouvi-o, questionei-o, a conversa fez-nos esquecer que estávamos ali para partilhar a dor de mais uma despedida de mais um familiar de uma pessoa amiga. Foi então que a amargura deu lugar a outra coisa distinta. Um desenrolar de queixumes por aquilo que sempre existira e lhe queriam tirar. Um discordar cego das correcções ao sistema que só o iriam prejudicar. O auge chegou com a revolta pelo facto de o quererem obrigar a deixar de exercer advocacia, coisa que sempre havia acumulado com as funções docentes. Os sacanas!
Há 17 anos era tão mais feliz perdido no conforto do desconhecimento. Deve ser a isto que chamam dores de crescimento.
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Fast food
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7 razões porque os bombeiros me enervam
1. Soldados da paz? Por amor de Deus, deixemo-nos de bizarrias.
2. As rifas. Não perguntam se queremos, bloqueiam-nos o carro para cravar a moedinha e esfregam-nos o papel seboso no nariz. Se não comprarmos, fazem má cara, dão-nos a entender por trejeitos e murmúrios que somos maus cidadãos, não ajudamos os soldados da paz, o bem comum é para nós uma vã palavra. Vão chatear o Cavaco, foda-se.
3. As fardas. Cinzento rato ou azul mecânico.
4. Os presépios. Foi esta a principal razão porque escrevi este post. Pediram-me para ir ver o presépio dos bombeiros que não viam há anos, que era tão lindo e tal, que todos os anos se fazia. Uma miséria. Um casco de árvore com umas míseras e sujas figurinhas, só para justificar a moedinha. Quis acertar com a maior moeda que tinha no Baltazar, mas fui olhado de lado, contive-me. A moedinha para ajudar a apagar os fogos, os soldadinhos da paz. Que chiqueiro de instituição.
5. Bombeiros voluntários. VOLU quê???? E não recebem mesmo nada?? E não ficam com direito a faltar ao trabalho e não sei quantas mais benesses??? E quem paga a moedinha invisível que a invisível mão nos vai metendo insidiosamente no bolso? Tudo bem, o estado social e tal, mas para os soldados da paz NÂOOOO!!!
6. O varão pelo qual descem, lustroso, símbolo da energia e da destreza daqueles valorosos homens e mulheres. Epá não me lixem, um varão é para as meninas de casas de má fama esfregarem entre as mamas e afagarem entre as pernas.
7. And last but not the least, o bom e velho problema da produtividade. Alguém já alguma vez ouviu a notícia de um fogo que tenha começado e logo tenha sido apagado? Um fogo terrível que o profissionalismo, expertise e coragem dos bombeiros tenha contido de forma heróica? Não, são hectares e hectares até que a coisa seja "circunscrita". E depois o rescaldo que às vezes não funciona como se queria e lá reacende a fagulha. Culpa de...? Dos madeireiros, dos fumadores incautos, dos campistas de fim-de-semana, da falta de meios, do diabo a sete! Mas porque é que esta distinta malta que em tantas terrinhas deste país, em pleno Verão, toma banhos de sol nos páteos das suas instalações, faz churrascos de leitão ao sol e vira garrafas atrás de garrafas (não é de água não) nos dias mais quentes, não aproveita esse tempo livre para limpar matas, fazer campanhas de prevenção, qualquer coisa que emagreça as possibilidades do país arder em vez de lhes aumentar as panças já significativas??
Atirem-me água fria.
p.s. - Como em tudo, convém não confundir a árvore com a floresta. Também haverá muitos e bons profissionais nos bombeiros, também há muitos heróis que deram a vida pelo bem comum, honra lhes seja feita. Mas sim, esta é uma instituição com muitos defeitos, que precisa de uma reviravolta nas mentalidades, de uma modernização de procedimentos, de um rejuvenescimento dos habituais "quadros superiores".
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Cosmopolis (pérola 1) - Ou uma visão exacerbada de porque é que aos portugueses pode faltar dinheiro para tudo menos para o carrinho à maneira
"Queria aquele automóvel porque não só era colossal como era-o de um modo agressivo e cheio de desprezo, qual metástase, um mutante gigantesco que calcava aos pés todos os argumentos aduzidos contra si".
Erick Packer, o milionário protagonista de Cosmopolis não precisava de um carro para se afirmar. Contudo, aquela limusina era o seu mundo. Nele comia, bebia, mijava e cagava, tinha consultas médicas diárias e, como não podia deixar de ser num romance que se pretende excitante, fazia kinky sex.
Os portugueses não chegam a esse extremo de tornar o seu carro o centro do mundo. Mas por vezes questiono-me se não é a isso que ambicionam. Apenas duas reflexões sobre o que representa o automóvel para os portugueses, até que ponto pode um monte de chapa e tecnologia ser uma extensão da personalidade:
1. Símbolo de prestígio
600 euros de ordenado e um carro de 25.000 euros, com correspondentes prestações que impedem uma vida decente a uma família remediada. Sim, não é excepção, é uma realidade instalada nos maus hábitos de um povo com péssimo sentido das prioridades. Para quê? Porque podemos não ter nada, não possuir nada que se veja, mas dentro do carro, ao sabor do vento, alguém há-de olhar para nós e invejar-nos o carro novinho em folha.
2. Escape para as frustrações/o casulo da coragem
A agressividade dos condutores portugueses é já um cliché repisado. Histórias do primo que levou um tiro ou uma facada depois de uma discussão de trânsito quem não as tem. Parar numa passadeira é sinal de fraqueza, abrandar quando o amarelo já há muito caiu um fraquejar comprometedor. Para mal dos nossos pecados, uma arma letal nas mãos de cobardes nunca atinge quem merece.
Que saudades das carroças e das caravelas...
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Dramas leoninos ou os 3 estarolas
Let´s get back to the basics! Sim, um tipo dos Olivais que escreve sobre livros e afins arrisca-se a ser desconsiderado pelos seus pares. E sejamos sinceros, aquilo em que um olivalense de gema se destaca é na análise apurada ao fenómeno futebolístico. Livros é giro e tal mas a malta gosta é de bola.
Gosto do Paulo Bento. Uma primeira leitura atenta do primeiro post deste blogue poderia dar a ideia contrária, mas não, o Paulo é um gajo porreiro. Pronto, alguma influência terá no facto das assistências no Alvalade XXI andarem pelas ruas da amargura. Arriscaria dizer que o Paulo convenceu a massa adepta de que os árbitros nos querem tão mal que não há a infíma possibilidade de sermos campeões. Mas não, os caminhos do Paulo são mais intrincados do que isso, eu é que ainda não consegui descobrir o atalho para chegar à Luz (não confundir com a Luz, albergue de malta pouco fina).
Caso 1 e 2 (uma e a mesma coisa):
Caso 1 - Miguel Veloso
O Miguel é um rapaz com bom ar, dizem (não estariam concerteza à espera que fosse eu a afirmá-lo). Não sei se o seu bom ar é suficiente para que possa sofrer do "estigma menino bonito Dani" encaminhando-o para um destino de passerelles, apresentador de TV frustrado ou frequentador bem pago de revistas da socialite. O estigma referido foi, naquele seu estilo inimitável, definido pelo grande Paulo Futre numa curta e fulminante frase: O Dani era demasiado bonito para ser jogador de futebol.
Mas não, não me parece que seja esse o caso do Miguel. O Miguel, tal como o Yannick, pensam que ganham pouco. Não me vou pronunciar sobre a falta de razão deles ou sobre o facto de estarem com carradas de razão. Mas o que é certo é que olham para o lado, para o Moutinho, o Liedson, o Polga, o Izmailov, o gordo e sentem-se injustiçados. Estou mesmo a ver as mulheres, namoradas, pais, empresários a encherem-lhes a cabeça da ideia de que eles mereciam muito mais. Tinha tudo para correr mal. Não vou apontar soluções, mas a questão é exactamente essa. Também não deveria ser o Paulo a tentar encontrar soluções e a dar o corpo, a cara e o crédito já ganho, por uma Direcção que não resolve os problemas que cria ou que naturalmente surgem numa equipa.
Ah, e é filho de lampião. Só podia dar merda.
Caso 2 - Yannick Djaló
A mesmíssima coisa. Só que este dá-me mais pena. Há anos que não surgia em Portugal um ponta de lança com as suas características. O sentimento de injustiça e inveja vão impedi-lo de evoluir mais, vão sobretudo afastá-lo do clube que o fez gente e jogador. E isso vale mais do que os milhares que não lhe pagam. Eu bem sei que ele e o Miguel assinaram os seus contratos de livre vontade, mas também sabemos que o futebol não se rege pelos habituais princípios da sociedade e do direito. Há que torcer a espinha para poder seduzir os melhores, valorizá-los, usufruir dos frutos e títulos que por cá vão deixando e, depois sim, receber o bolo generoso de um investimento bem trabalhado e acarinhado.
Caso 3 - Vukcevic
Tem cara de maluco e essa expressão de loucura é a prova inequívoca da sua genialidade. É preciso uma sensibilidade genial para lidar com jogadores destes. Não peçam isto ao Paulo, homem correcto, honesto como poucos, que gosta de tudo certinho e alinhado como as figuras geométricas que desenha para o esquema da equipa. Um caso perdido, para mal das dores leoninas. É por estas e por outras que aqueles milhares que iam ao estádio para ver fantasia, dribles, bicicletas e quejandos ficam agora em casa a ver o Arsenal e o Barça. Infelizmente, como os compreendo.
Afinal a bola não é muito diferente dos livros, da vida. Dinheiro, génio, loucura, inveja. Está lá tudo.
Tony Almeida (vá, desta poupo-vos ao trocadilho)
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Cosmopolis de Don DeLillo
Terminada uma farta ceia Natalícia, vou tentar acabar um livro que me está a dar alguma luta. Por nenhuma razão em especial, apenas por falta de tempo, apenas porque o hábito das leituras cruzadas torna cada vez mais difícil acabar um livro com a rapidez de outros tempos.
Cosmopolis é um livro cinematográfico. Do interior de uma limusina DeLillo relata a vida de um multimilionário de 28 anos que atingiu o topo cedo de mais, que esgotou as ambições precocemente. Por entre o caos do trânsito de Nova Iorque, a voracidade dos acontecimentos devora-nos, Erick Packer devora a vida como se fosse esse o seu derradeiro desafio. A corda bamba é o único palco onde o protagonista sente o pulsar da vida, DeLillo demonstra-o com a habitual mestria.
Nos próximos posts irei partilhar as pérolas deste livro. Sim, porque um livro é feito de pequenos diamantes por burilar, só temos de perder tempo para os absorver, permitir que nos afectem, que se revelem no brilho que lhes é imanente.
Tony Almeida (a piada da série 24 não me parece que faça sentido reforçá-la)