Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Nós somos todos muito estúpidos e o Senhor Professor é muito espertinho
Visto com alguma incredulidade em directo na SIC, confirmadas as alarvidades no site de "A Bola". O texto infra é um pequeno exemplo de uma personagem em autêntica roda livre. Sem menosprezar o vergonhoso processo que montaram contra Queiroz, é impossível não sentir asco pela vitimização infantil do professor ou pela sua inacreditável teimosia em não assumir a responsabilidade pelas aleivosias que tem dito por aí. Em suma, citando o próprio, há que varrer a merda que contamina a FPF.
"Carlos Queiroz recusou esta noite, em entrevista à SIC, ter querido fazer qualquer associação entre a expressão «cabeça do polvo» e a máfia quando disse, em entrevista ao Expresso, que o vice da federação Amândio de Carvalho era a cabeça do polvo que queria vê-lo afastado da Selecção. «O que disse é que o senhor Amândio de Carvalho estaria de acordo com aqueles que pensavam que eu tinha de ser suspenso, chamem-lhe polvo, nuvem ou terramoto. O mundo caiu-me em cima quando aterrei em Lisboa. Naquela altura, se pudesse votar, até eu votava contra mim», esclareceu Carlos Queiroz.
O treinador explicou o que esteve na origem das palavras que dirigiu a Amândio de Carvalho: «Quando estava a apresentar a minha defesa no Conselho de Disciplina, há uma entrevista do senhor Amândio de Carvalho à Lusa, onde o senhor não admite outra coisa que não seja a minha suspensão, algo que estranhei porque CD não se tinha pronunciado e porque não tinha sido isto que eu tinha combinado e presidente da FPF. Não quero acreditar que um membro da direcção soubesse decisão antes de eu apresentar a minha defesa». Carlos Queiroz disse mesmo que não sabia que polvo era uma expressão associada a máfia - «eu estive 16 anos no estrangeiro», disse ao jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, que conduziu a entrevista."
Autoria e outros dados (tags, etc)
Reflexões em torno de um condomínio privado
Todos os dias o mesmo labirinto com saída e entrada única. A vida em circuito fechado, a tentação de enlouquecer no casulo repetidamente tecido.
Cópias de vidas, a massificação inevitável. O conforto da diluição no mesmo mar, a doce constância de mergulhar na mesma onda. O risco: o eterno enjoo.
O horror das cópias mal paridas. O medo de abrir a porta e sucumbir à mesma imagem reflectida em mil espelhos. O desespero pela eterna busca da originalidade, daquele cantinho sem igual.
Sentir o cheiro da rua através do filtro. Desconhecer a frescura da chuva. A excessiva protecção. O mundo paralelo. Nunca sentir a libertação da chuva que lava a alma e adoça as lágrimas.
Nota: Todas as fotografias da autoria de Leandro Erlich
Autoria e outros dados (tags, etc)
Paulo, guarda lá o pinheiro para o Natal que o Matishow e o levezinho voltaram
Há teimosias que, aliadas à irracional crença e ao entranhado fanatismo, nos fazem acreditar num determinado jogador, esperar por ele todo o tempo do mundo. Desde o dia do Sporting-Fiorentina em Alvalade que me apaixonei por Matias Fernandez, foi nesse jogo que passei a chamá-lo Matishow. Nesse dia vi um jogador que chamava todo o jogo a si, eléctrico, dono de uma técnica pouco comum e de um controlo de bola em velocidade que há muito não via em Alvalade. A juventude, o peso da responsabilidade ou a falta de aposta no jogador no momento certo hibernaram todas essas qualidades. Esta época já vi uns laivos de Matishow, este jogo mais alguns, já vai pedindo e tendo mais bola, assumindo enfim o jogo, requisito essencial para deitar cá para fora toda a sua qualidade. A equipa ganha com esse acréscimo de qualidade, o público agradece a magia, a esperança renasce no deserto da descrença leonina.
O Sporting dominou o jogo com a ajuda preciosa de Matias e ganhou o jogo com o regresso do goleador Liedshow, já a mostrar-nos toda a sua manha de goleador. A ajudar estiveram um Valdéz mais efectivo nas suas acções, fisicamente mais competente e tacticamente mais enquadrado e que se percebe também gosta de ajudar a defender, o que oferece mais segurança e consistência à equipa. A defesa muito bem a defender e também muito competentes a atacar os laterais (sim, a minha ovelha negra predilecta, o bom do Abel, até fez uma assistência para Liedson). Maniche continua a beneficiar a equipa com a sua experiência, visão e qualidade de passe, Yannick não pára de melhorar, aplicando a sua velocidade com mais critério, faltando-lhe agora melhorar o controlo de bola. André Santos insiste em afirmar-se e Patrício transmite agora imensa segurança a toda a equipa. Paulo Sérgio parece finalmente ter encontrado o seu sistema de jogo, a equipa sobe de rendimento porque também se sente mais segura no esqueleto táctico que a sustenta. A confiança cresce e a partir daí tudo é possível. Vá rapazes, there´s no way back, agora é sempre para a frente!
Autoria e outros dados (tags, etc)
Dolorosas saudades do mar (ressaca das férias parte III)
Autoria e outros dados (tags, etc)
Pérolas da blogosfera - O alcatrão manchado de sangue
Chover no molhado é voltar ao tema da assassina condução nas estradas portuguesas, da falta de respeito pelas regras de boa e segura convivência estradal e, consequentemente, do vergonhoso desprezo pelas vidas alheias dos inocentes que cumprem as regras, na ingénua esperança que isso os poupe à guerra civil a que se assiste em cada curva perigosa, em cada lomba com pouca visibilidade, em cada traço contínuo. O Luís Januário (http://anaturezadomal.blogspot.com/) insiste em chover no molhado. Na ingénua esperança de que a água um dia destes fure a teimosa e dura pedra.
"Quinze dias a conduzir num país normal chegam para, no regresso, nos escandalizarmos com o comportamento dos nossos condutores. Não respeitam os sinais de trânsito nem os limites de velocidade, buzinam continuamente, se por acaso lhes vemos as caras parecem zangados ou ameaçadores. Estacionam nos paseios tornando a vida dos peões uma aventura e interditando a via pública às crianças. O exemplo vem sempre de cima: as passadeiras, os traços contínuos e as marcações em geral empalideceram incitando à transgressão; as altas figuras do Estado e as pequenas figuras locais com direito a viatura e chofér sentem-se acima d lei e circulam a altas velocidades; a Brisa manda nas auto-estradas e tem direito a obras intermináveis, tornando o trajecto da A1 um martírio taxado. A polícia caça multas vergonhosamente, sem nenhuma missão pedagógica ou de censura, parecendo movida apenas pelo cumprimento de metas de auto- financiamento. Entretanto os inocentes sofrem, ficam estropiados, morrem.
No primeiro dia de chuva os incêndios deixaram de ser notícia e voltaram os acidentes nas estradas, um bombardeamento na A 25 com famílias desfeitas e a infelicidade disribuída por vários hospitais. Estamos condenados a isto. Aos incêndios, ao crime nas estradas, às condolências e à lamúria. Os mais corajosos já partiram e os pudicos já se calaram. Eu escrevo estas coisas como quem se lava, mas a água vem suja e faltam-me as palavras."
Autoria e outros dados (tags, etc)
O primeiro amor nunca se esquece
Há ainda quem tenha dúvidas que o futebol imita a vida, as suas tragédias e comédias. Hoje, na Luz, assistiu-se a uma imitação da vida em tons Hollywoodescos. Júlio César, a nova esperança dos adeptos e das redes encarnadas, entrou cheio de motivação, puxando pelo público, crente de que seria o salvador. Roberto, o proscrito, penava cabisbaixo no banco. É então que num erro infantil de Maxi Pereira, Júlio César não consegue (ou não sabe) ser expedito e em vez de despachar a bola de primeira, tenta dominá-la e, sem jeito e sem arte, vê-se obrigado a cometer penaltie. É bem expulso, abrindo assim a porta a um drama de proporções inimagináveis. O protegido Roberto é novamente exposto, o Benfica com menos um, ai que o barco se afunda de vez!
Roberto coloca-se entre os postes, aquela cara de susto mal disfarçado faz o imponente estádio e os estupefactos adeptos tremer. Do outro lado, Hugo Leal. Nado e criado na Luz, ex-menino bonito da agremiação benfiquista. Lá no fundo, Hugo Leal sente as entranhas em incontrolável ebulição. É visível no primeiro plano que as câmaras revelam, o homem suspira tão fundo que parece precisar de aspirar todo o ar do mundo para não desmaiar. O penaltie é pífio, Roberto o novo e inesperado herói. Lá no fundo, Hugo Leal queria marcar, mas acima de tudo isso estava o peso de marcar ao clube que o fez nascer para o futebol, o peso de enterrar ainda mais um Benfica com um começo de época desastroso. Manuel Fernandes pode saber muito de futebol e querer muito ganhar ao Benfica, mas saberá pouco das profundezas da mente humana. Tudo o resto já pouco conta, o destino definiu-se com o pontapé de um homem que não conseguiu trair o primeiro amor.
Autoria e outros dados (tags, etc)
E a fechar a silly season, rodízio de gente gira
Autoria e outros dados (tags, etc)
Summertime - Janis Joplin
Das inúmeras versões de Summertime, esta, de Janis Joplin, destaca-se pela originalidade e, diria eu, genialidade. Ao vivo Em Estocolmo, ano de 1969. Imperdível.
Autoria e outros dados (tags, etc)
As I lay dying - William Faulkner
O título desta obra de Faulkner é para mim intraduzível. Ou, pelo menos, a sua tradução nunca fará jus à beleza com que se apresenta na língua inglesa. As I lay dying contém muito mais profundidade e riqueza do que o “Na minha morte” em língua portuguesa, portanto será na língua da velha Albion que me referirei a este livro. Estamos perante uma tragicomédia genialmente urdida, tecida em torno da morte da matriarca de uma família e do seu derradeiro desejo. Toda a história é sustentada num conjunto de monólogos interiores alternados por quinze narradores com diferentes intensidades. Um objectivo norteia toda a história, cumprir o desejo da falecida Addie Bundren de ser enterrada junto à sua família, o que obriga a um estranhíssimo conjunto de sofridas aventuras dos seus familiares, que contra as intempéries e os obstáculos da natureza percorrem oitenta intermináveis quilómetros até ao destino prometido.
Faulkner utiliza nesta obra a sua característica estrutura narrativa, recorrendo a múltiplos pontos de vista dos protagonistas, explorando as suas distintas vozes psicológicas interiores. Já li As I lay dying há alguns anos, mas ainda me recordo bem do prazer intenso que senti ao percorrer essas páginas, ao calcorrear os 80 quilómetros de angústias e de quixotescas atitudes dos carregadores do caixão. Faulkner intromete-nos no mais fundo das personagens, vivemo-las de perto e facilmente entramos no ambiente criado pelo escritor. As pérolas deste livro que aqui deixarei são um pequeno exemplo da genialidade deste escritor único. Não entrar no seu mundo é abdicar de uma parcela imprescindível da história da literatura.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O milagre!!!
Têm que ter paciência, caros vikings...
Meus amigos, estou ainda em estado de choque, confesso que duvidava da possibilidade deste milagre, da alegria que o meu querido Sporting tinha guardada no baú. Agora que consegui acalmar a pobre criança após o berro incontido que o Djaló não me permitiu evitar, vou respirar fundo e escrever, ao sabor desta magnífica vitória, deliciando-me com o orgulho que hoje sinto em ser sportinguista. Parabéns rapazes, parabéns! O sofrimento foi muito (especialmente naquele período entre os 55 e os 65 minutos), mas a vontade e a confiança foram hoje imparáveis. Este clube merece a felicidade que hoje teve, sobretudo os seus sócios e adeptos. A esperança no esforço, devoção e glória, devem guiar sempre um sportinguista. Hoje, apesar das dúvidas, não deixei de acreditar, de sentir que este clube é capaz das maiores proezas. Obrigado rapazes!
Individualmente muito por onde escolher. Patrício fantástico, seguríssimo e decisivo numa milagrosa defesa a remate à queima roupa. Nuno André Coelho poderá mesmo ter sido um dos maiores erros dos últimos anos da gestão de Pinto da Costa, um verdadeiro monstro, que transborda confiança como se viu na crença no remate do 2.º golo. Carriço, como sempre, deu tudo tudo tudo. Evaldo, depois deste golo, perdeu de vez a timidez e mostrou toda a sua qualidade, que continue agora sempre assim. André Santos, apesar da falta de tarimba, é um vulcão em constante erupção, muita vontade, garra e dinamismo. Maniche, a voz da experiência, a qualidade na distribuição do jogo e a garra de quem muito quer. Djaló quase sempre muito bem, pormenores de classe, mais prático do que habitualmente,e ,e, que grande golo, que classe, rapaz! Liedson tem que pôr para trás das costas o estigma de que os seus inícios de época são uma merda e de que isso é normal, ainda assim grande assistência para o golo de Djaló. Matias ajudou a mudar mas não pode falhar aquele golo. Apesar da euforia, não me levem a mal, mas estou definitivamente descrente quanto a 3 jogadores que devem sair desta equipa e plantel: Abel sem classe, um lateral não pode não saber efectuar um cruzamento; Vukcevic, quando não joga só para si não sabe jogar, não pode efectuar cruzamentos a olhar para os seus pés, tem que ver a equipa, isto é das escolinhas, Vuk; e Postiga, um homem que no pico de forma não consegue dar mais do que isto, não podemos esperar eternamente por ti, Hélder. O Paulo Sérgio? É o Mourinho da capital do móvel, pá!
Enfim, valeu o susto ao meu pequeno Miguel, há sacrifícios que valem a pena. Agora, é pegar nesta confiança toda, na felicidade de todos, nos créditos ganhos junto dos adeptos e arrancar para uma grande época! E é para ganhar tudo, rapaziada! É a loucura!