Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Como o futebol explica o mundo e o potencial de violência que os une
“Os críticos do futebol argumentam que a morte e a destruição é inerente ao futebol. Sustentam que o jogo dá vida a identidades tribais que deviam encontrar-se em extinção num mundo onde uma União Europeia e a globalização destroçam alegremente tais sentimentos arcaicos. Outra teoria similar muito divulgada defende que a origem da violência se pode encontrar no ritmo do próprio jogo. Porque os golos surgem tão irregularmente, os adeptos gastam demasiado tempo sublimando as suas emoções, antecipando mas nunca descarregando. Quando essas emoções se expandem e se tornam incontroláveis, os adeptos irrompem em sombrios acessos dinonisíacos de violência extática.”
Este trecho da polémica obra de Franklin Foer (“Como o futebol explica o mundo”) pode facilmente ser acusado de quase tudo: de exagero, de radicalismo, de demagogia, de insensatez. Mas algo do que é expresso neste trecho é falso? É falso que o futebol seja um dos mais apaixonados baluartes das paixões nacionalistas? É falso que o futebol estimule o sentimento de rivalidade e aumente a percepção de que quem não é dos nossos está contra nós? É falso que o suspense e a ansiedade pelo golo libertador seja o combustível de um barril de pólvora cheio de adeptos? É falso que os festejos do golo possam ser momentos da mais pura e louca irracionalidade? Foer ama o futebol mas compreende-lhe os perigos. Talvez não fosse mau seguirmos-lhe o exemplo.
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Horas extraordinárias
- Olá querida. Desculpa ter chegado tão tarde, mas não pude fugir a mais uma reunião urgente, aquelas que o cabrão do chefe gosta de impor sem avisar ninguém.
- E seria muito incómodo telefonares a avisar?
- Ele entrou-me pelo gabinete dentro, não era de bom tom interrompê-lo com um telefonema, não achas?
- E um sms rápido, achas que sua excelência teria achado de mau tom, que poderia quebrar todo o ritmo dessa enésima reunião urgentíssima?
- Está provado que quando tu queres embirrar comigo não há nada que eu diga que evite isso.
- Isso João, adoro quando trazes as tuas artes da advocacia para as nossas discussões conjugais, essa tua patética busca desesperada por inverter o papel do arguido e da vítima.
- Mas que merda, Paula! Mas tu és vítima de quê? De eu trabalhar muito, de perder demasiadas horas a ganhar dinheiro para a casa dos teus sonhos, para os sapatos que compras que nem tremoços, para as tuas férias nas Maldivas? És vítima disso, é?
- Não João. Sou vítima da humilhação do cheiro a puta fina com que chegas dessas reuniões urgentes, sou vítima da falta de tesão que essas reuniões estranhamente te provocam, sou vítima do teu olhar morto e indiferente quando fazemos amor nos dias em que não há reuniões. Enfim, sou vítima de ter acreditado num filho da puta como tu.
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Histórias do neto de Gepetto
Diz o povo que a mentira tem perna curta. Conta a lenda que Pinóquio, rapaz de pau bravio mas coração puro, encantava enquanto mentia. Se as mentiras podem ser piedosas, as verdades podem ser a origem de todos os males. “Mente Pinóquio, mente”, implorava a virginal donzela debruçada sobre a fraqueza do jovem mancebo. Nada como uma inocente fábula infantil para lançar uma descansada noite de sono.
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Pérolas do pensamento encontradas no facebook - II
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Barcelona 3 - Manchester United 1
É asfixiante, é enervante, é cinicamente perfeito, é um relógio suíço afinado ao segundo, é o futebol do Barcelona. Xavi todo ele é um tratado de futebol, Messi é uma enguia indomável e mortífera, o melhor do mundo. Guardiola é o génio da lâmpada para quem tudo é possível, até transformar o deselegante Mascherano num central de classe. A contrapor, Sir Alex Ferguson encolheu-se nos medos e nos pesadelos da final de 2009 e traiu os princípios do futebol do seu Manchester. Não que seja fácil dobrar o Braça, mas só se compreende que o seu melhor e mais decisivo jogador da época, Nani, seja colocado em jogo apenas aos 70 minutos. Sir Alex caiu na minha consideração, o Manchester terá sido riscado dos sonhos futuros de Nani. Van Der Sar e Giggs mereciam um mais brilhante final de carreira, Nani merecia mais respeito. O Barça confirma-se e afirma-se cada vez mais como uma das melhores equipas de futebol de todos os tempos. Apesar do brilhantismo e magia do futebol blaugrana, hoje, como tantas outras vezes, para mim o futebol também se faz de desilusões.
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Força miúdo!
Lembro-me dos primeiros tempos e das prematuras artes de Nani no Sporting. Lembro-me de pensar que ele era mais eficaz e objectivo que Cristiano, que rematava de modo mais certeiro, que punha todo o seu manancial de técnica ao serviço da equipa. Noutro estilo, o lingrinhas da Madeira punha todo o virtuosismo dos primeiros tempos na bandeja da sua própria glória. Cristiano cresceu, aproveitou os anos em Inglaterra para se tornar um jogador decisivo, desequilibrador mas inserido numa equipa, um atleta inigualável. Nani cresceu também em Manchester, mas como que sentiu que o futebol que sabia jogar em prol da equipa não lhe chegava para alcançar o estatuto de Cristiano. Por isso sorri menos, por isso é mais sôfrego e menos confiante. Que comece hoje a independência de Nani, que se esqueça do Ronaldo que lhe ensombra os passos, que sorria quando driblar meia equipa dos blaugrana, quando fizer aquela assistência impossível, quando merecer a taça com aquele disparo inesquecível, bem no canto da rede, onde a coruja dorme. Força miúdo, força Manchester!
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Batmumawoman (cedência gratuita à boçalidade)
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Passagem
"São poucas, e é preciso aprender a compreendê-las, as vantagens da muita idade. Uma delas, a maneira como nos revemos nos mais novos, revela-se um manancial de surpresas. Tive eu este modo apressado, exigente que eles têm? Fui assim egoísta? Ri-me sem tino? Dei-me conta de que parecia ouvir, prestar atenção, quando era só fingimento, ocupado que estava com a sarabanda dos meus interesses? Pregava eu também ideias e certezas? Revemo-nos nos jovens e muito se lhes perdoa, porque vão a caminho pela estrada por onde viemos. E assim nos perdoamos também a nós próprios, descobrindo que, afinal, tudo é quimera. Falamos de experiência, sabedoria, chamamos vida à passagem entre duas incógnitas."
Descobri há umas semanas o excelente blog do do escritor J. Rentes de Carvalho, escritor português pouco conhecido no seu país de origem, mas muito premiado e apreciado na Holanda. Pela qualidade da escrita exibida no blog, convenci-me a conhecer a obra do autor, estará para breve o mergulhar no seu legado literário. Esta pérola sobre a velhice e o conhecimento por ela proporcionado poderá convencer outros curiosos. Passem pelo blog do autor que muitas mais pérolas lá encontrarão.
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Lá se vai andando com a cabeça entre as orelhas
Em conversa com uma amiga, respondendo ao clássico “e então, está tudo bem?” respondi com uma daquelas frases que marcam o código genético tuga: “Mais ao menos, muito trabalho, pouco tempo, uns probleminhas com a saúde de um familiar, etc. e tal”. Acho que nem ela nem eu nos apercebemos do estafado que é este sentir lusitano, esta constante e viciante inclinação para a lamentação, para o empolar dos “probleminhas” e dos contratempos, da importância que damos às vicissitudes da vida que devíamos aprender a colocar no fundo do altar dos nossos humores. E o sol que brilha, e a gargalhada do nosso filho, e o sorriso trocado com um vizinho simpático, e a conversa de café com aquela colega que anda sempre bem disposta, e o beijo no regresso a casa, e essas minudências que deviam esmagar os “probleminhas” a que nos agarramos como lapas a uma rocha de insignificâncias? Quando aprenderemos a viver com V grande, compatriotas, quando?
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Tangerine Dream - Outland
Não tanto pela música, sobretudo para matar saudades do inesquecível Popeye, the sailor man.