Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta, cantava e bem o Zeca. Diria eu que o que faz falta é em tudo o que fazemos colocarmos uma pitada de beleza, uma corzinha de arte para temperar o cinzentismo da paralisante rotina. Sorrir quando não nos respeitam a prioridade, dar uma fraterna palmadinha nas costas quando nos pisam os calos no metro, gargalhar quando o empregado do restaurante despreza a nossa miserável gorjeta. Dançar à chuva não mata ninguém, rir de ridicularias a que damos excessiva importância pode salvar vidas. Pensem nisso.
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La Coca - o turista acidental (ou acidentado)
"- Isto é do pior! Uma estrangeirada! Cambada de pobretanas! Sabe do que eles estão à espera? Já lhe digo. Nós fazemos aqui um serviço de almoços da melhor qualidade, tudo fresco, a preços como ninguém é capaz. Pois não senhor! Os pelintras ficam sem comer até às três ou quatro da tarde, e mal a padaria abre vão lá comer um pão, cinquenta gramas de queijo, uma garrafa de água, e ficam espichados ao sol até à hora do jantar, que está incluído na meia-pensão. E então é um espectáculo! Já viu porcos quando se lhes deita a lavadura?"
Esta peça discursiva de um humilde estalajadeiro do Moledo espelha na perfeição o humor sarcástico de Rentes de Carvalho? Humor? Não, o autor prima por uma cirúrgica capacidade de mostrar os rendilhados das idiossincrasias lusitanas, as suas inacreditáveis ridicularias, os becos de um portugalzinho que mantém o país na periferia de uma Europa que não deixa de nos achar patuscos. Por exemplo, aquilo de que se fala à boca cheia, que devemos apostar no turismo porque somos um país com essa inequívoca aptidão colide persistentemente na nossa forma de fazer as coisas, nas nossas vistas curtas, na insistência em remediar em vez de inovar. São os turistas que têm de se adaptar aos nossos desejos e não a nossa oferta que tem de mudar para atrair mais e melhores turistas. Enquanto não mudarmos, seremos matéria prima bruta para a triste realidade retratada por Rentes de Carvalho.
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Fico bastante satisfeito...
...com o facto do meu filho ser completamente fanático por balões. Por mordê-los, por beijá-los, por se deitar sobre eles, enfim, por fazer trinta por uma linha com eles. Han? Epá, não sejam maliciosos!
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Porto 3- Braga 2
Quando leões e águias cantam as exéquias ao dragão impera sempre a predisposição para um optimismo excessivo. Nos tempos de hoje, os adeptos dos clubes da capital esquecem-se de que enquanto houver Hulk haverá um Porto sempre pronto a queimar os adversários com as labaredas deste extraordinário jogador. Não havendo túneis da vergonha nem milionários russos dispostos a queimar mais uns petrodólares nos caprichos da bola, Hulk continuará no Porto. Do outro lado, nos arsenalistas da cidade dos arcebispos, brilha a grande altura um guarda-redes que Paulo Bento tem esquecido. Quim está numa extraordinária forma e não o levar ao europeu para que a sua experiência faça uma óbvia parelha com a juventude de Rui Patrício será pouco inteligente. Por falar em guarda-redes, quem teve o privilégio de assistir hoje ao Liverpool-Manchester City terá testemunhado uma das maiores exibições de um guarda-redes nos tempos mais recente: Joe Hart, do City, simplesmente assombroso.
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Benfica 1 - Sporting 0
Sem vontade nem ânimo para articular grandes frases ou pensamentos. Como temia, um bom Sporting deixou-se trair pelos pormenores. Lançou-se o jogo com vergonhas que este país só aceita aos poderes instalados, com a vergonhosa jaula que o Benfica criou para os adeptos do Sporting. Lá fora usa-se? Cá nunca foi preciso, mas como se acha normal que um clube como o Benfica jogue sem portugueses, também se considera normal o início do fim do respeito mínimo pelas gentes dos outros clubes. Quanto ao jogo ficam-me na retina o patético amarelo a Elias aos 2 minutos, uma intimidação cirúrgica, dois guarda-redes em excelente momento, a arte de Aimar e a velocidade de Capel, a persistência de Elias e a consistência de Witsel. O Benfica soube sofrer e nós não soubemos matar. Estamos a crescer, nada está perdido. Mas estou triste e soube-me a pouco.
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Horas difíceis
Hoje vai ser um dia muito difícil. São tanto mais difíceis as horas que antecedem os grandes jogos quanto mais confiança sinto na equipa. Porque sei que uma má entrada pode deitar tudo a perder, ou aquela bola no poste, ou aquele penaltie mal assinalado. É também esta a beleza única do futebol, a sua imprevisibilidade, a ausência de certezas, o medo do que aí vem, a esperança e fé tão fortes que até assustam. Daqui a umas horas os jogadores devem lembrar-se dos grandes símbolos leoninos, do seu amor pelo clube, de um clube maior que qualquer lenda, devem inspirar-se no Vítor Damas, no Mamede, no Carlos Lopes, no Oceano, no Moniz Pereira, no nosso Manel, nos cinco violinos, no Sá Pinto, em todos aqueles que nos fizeram grandes. Esforço, dedicação, devoção e glória – GANHAR! GANHAR! GANHAR!
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A inveja não é nada bonita
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Not to special
Um divertido leitor do The Guardian participou numa rábula sobre o futuro special one que tarda em o ser, com esta montagem que vale não por mil, mas por um milhão de palavras. Até à chegada de Mourinho e da armada portuguesa a Stamford Bridge sempre desconsiderei o Chelsea como uma equipa de futebol, pelo menos como uma equipa que respeitasse ou levasse a sério, porque deitar milhões de euros, rublos ou lá o que é aquilo que brota dos bolsos sem fundo de Abramovich para um campo cheio de rapaziada a jogar à bola, nunca foi coisa que respeitasse muito.
Depois, com a chegada de Mou e da armada lusitana o bacoco patriotismo falou mais alto e quase me esqueci (acho que poderia dizer esquecemos, não devo andar sozinho nisto) que pelo facto de alguns jogadores pedirem a bola na língua de Camões não diminuía o tamanho da ignomínia. Saiu Mou e ficou o espectáculo de sempre: um bando de vedetas contratadas e pagas a peso de ouro, um rodopio de treinadores que serviam enquanto os caprichos do mestre eram cumpridos e o seu ego afagado com vitórias. Um clube e uma equipa deverão viver de suor, arte e esforço, da sua capacidade de superar as dificuldades e do consequente orgulho que esses factores chave provoquem nos seus adeptos e assim os estimulem para a adoração clubística. Se tudo é fácil, se tudo depende de assinar um cheque, onde fica a paixão, a que cheira o suor ressequido nas camisolas, onde nasce a vontade de superação? Dormirão de consciência tranquila os adeptos do Chelsea? Amarão o seu clube como nos tempos em que o dinheiro custava a ganhar? No futebol, como na vida, geralmente a justiça rebenta muros de betão com as suas raízes de imparável pujança. Por isso a ansiada taça não chega, por isso depois de um special one que venceu a justiça nada mais foi como antes.
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Deixemo-nos de tonterias
Londres, 1926, dia de greve geral
Amanhã, dia de mais uma greve geral, sei que muitos dos meus colegas não virão trabalhar, ora porque optarão por aderir à greve, ora porque não terão transportes para se deslocar para o trabalho, ora porque os funcionários dos colégios/escolas dos filhos farão greve, ora porque esses funcionários não terão transportes para ir trabalhar. Obviamente que não sou filho dos tempos áureos da defesa ardente dos direitos dos trabalhadores, pelo que será natural olhar para este fenómeno global com algum desdém. Por outro lado, estranho que se mantenha toda esta torrente de adesões e de perturbações ao normal funcionamento do que deveria ser apenas mais um dia de trabalho, sobretudo quando nos dias de hoje quem faz greve não reclama o fim de condições insustentáveis para a execução da jornada de trabalho como se reclamava nesses tempos áureos. Aliás, o que ainda mais me surpreende é que as greves proliferem quando se sabe de ciência certa que os resultados destas manifestações ou abstinências populares são praticamente nulos. Chamem-me o que quiserem, mas eu cá por mim acho que devíamos todos andar preocupados em trabalhar mais e melhor e deixarmo-nos de tonterias. A bem da nação e do futuro dos nossos filhos.
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Machester United 2 - Benfica 2
Em Old Trafford o Benfica deu um passo na sua afirmação como equipa adulta e definitivamente próxima daquilo que caracteriza as grandes equipas. Num jogo difícil mostrou coragem e consistência, sabendo sofrer grande parte do jogo e aproveitar as poucas oportunidades que teve para marcar os dois golos. Como sempre, por trás de uma grande equipa há sempre jogadores decisivos. Hoje foi Artur, um muro de betão que tirou pelo menos dois golos certos aos ingleses. Também Witsel puxou dos galões e mostrou de que fibra é feito um centro-campista de classe mundial. A Aimar falta apenas tirar-lhe 2 ou 3 aninhos de cima, que a arte e a magia estão todas lá. Rodrigo no que conseguiu mostrar parece de facto não enganar, Gaitan é um fenómeno mas tem que evitar deslumbrar-se pelos elogios. Para finalizar, mais elogios aos rapazes do lado errado da 2.ª circular: apesar de terem iniciado o jogo sem nenhum português, terminaram-nos com dois (Miguel Vitor e Ruben Amorim). Haja esperança!