Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Benfica 2 - Braga 1
Queiramos ou não, o futebol é feito de estranhezas inexplicáveis e de opções insondáveis. Porque prefere Jorge Jesus Jardel a Miguel Vitor? Terá este cometido o pecado capital de ser português? Porque é que o Lima não está já no Sporting? O Nuno André Coelho foi escorraçado do Sporting por não ser da academia? O Custódio não é melhor trinco do que o Carriço ou o André Santos? Que inconcebível combinação dos astros terá levado Jesus a optar por Emerson em detrimento de Capdevilla? Que problema ocular ou mental levará um árbitro a não sancionar com cartão Maxi Pereira quando este empurra o guarda-redes adversário e em seguida lhe tira a bola das mãos com a sua mão?
Deixando as questões que insistem em não ter resposta qualquer análise deverá reconhecer que era o Benfica que tinha que dar o tudo por tudo, que tinha que jogar para ganhar. Fê-lo com vontade mas sem convicção, de forma algo titubeante, sem aquela garra que faz brilhar os campeões, sempre a temer (muito justificadamente, diga-se) o mortífero contra-ataque arsenalista. O Braga foi adulto, organizado e venenoso. O Braga não jogou para ganhar mas sabia que a qualquer momento podia marcar. E quase que uma paragem cerebral do seu defesa esquerdo deitava toda uma teia de futebol bem urdida por terra. E esse mesmo defesa esquerdo não se deixou abater e empatou o jogo. E o Benfica marcou nos descontos o golo da vitória. E que grande jogatana, mesmo que por vezes o futebol saiba ser tão injusto.
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Algumas saudades do Verão e das tardes soalheiras nos terraços da minha juventude
O fascínio pelo mundo paralelo dos telhados temperou-me a adolescência e juventude. Não que por lá tomassem banhos de sol divas destas, mas porque me sentia no topo do mundo, longe da aborrecida terra firme e das regras rígidas. No telhado tudo é possível, tudo é horizonte, tudo é gente pequenina que não nos incomoda lá de baixo, estamos mais perto das nuvens e dos sonhos. Depois, vamos crescendo e o mundo vai aumentando na lente da realidade, os problemas começam a ganhar dimensão, as nuvens parecem cada vez mais afastadas e cinzentas. Podemos continuar a apreciar a vida, os dias, a paisagem da nossa janela, mas já nada será como a vida vista e vivida naqueles terraços.
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Sporting 2 - Metalist 1
Sporting, muito Sporting novamente a superar-se, a fugir dos medos sentidos na primeira parte do jogo, na qual se percebeu bem que este Metalist não é só uma equipa de nome esquisito. Com Izmailov e Capel no 11 inicial apesar de algumas mazelas físicas, logo aí se percebeu que o apelo à superação dos jogadores era a palavra de ordem. Fizeram-no esses dois heróis, o russo com uma classe e raça fabulosas, Capel com aquela energia contagiante que acabou por dar na assistência para Izmailov. Lá atrás, os centrais muito bem com Xandão a gritar bem alto que se o deixarem será central para nos dar alegrias nos próximos anos. João Pereira, hoje preocupado com o melhor jogador dos ucranianos, Taison, menos fulgurante no ataque mas extremamente competente na defesa. Insua, pouco a dizer, o melhor defesa esquerdo dos últimos anos.
E Patrício, o nosso grande Rui, gigante, gigante! Matias em alta rotação e a dar soluções para todos os lados, Carriço a mostrar que pode ser trinco à séria, Schaars sempre competente e sem quebras, Wolfswinkel a lutar, a lutar, a lutar. E depois, o bom e velho galo a la Sporting, um penaltie nos últimos minutos do jogo, uma desconcentração fatal. Mas um penaltie assinalado por um daqueles árbitros de baliza que estão jogos e jogos sem nada fazer. Só ao Sporting esta múmia de merda logo hoje tinha de decidir dar um ar da sua graça. Com menos à vontade mas sem receios lá teremos que ir conquistar as meias finais à Ucrânia. Força rapazes, já mostraram que são capazes!
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E para derreter metaleiros vindos do frio, nada como a Irina sempre em brasa, emprestada pelo amigo Ronaldo
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"O adeus às armas" - Para o que viemos
"- Só gosto de duas coisas; uma é má para o meu trabalho e a outra dura apenas meia hora ou quinze minutos. Às vezes menos.
- Às vezes muito menos.
- Talvez eu tenha feito progressos, rapaz. Sabe-se lá! Mas para mim só há essas duas coisas e o meu trabalho.
- Descobrirás outras coisas.
- Não. Nunca se ganha nada. Nascemos com tudo o que temos e nunca aprendemos nada. Nunca ganhamos nada de novo. Estamos completos desde o princípio."
Nos recantos deste diálogo entre dois soldados cansados da guerra e da vida percebe-se aquilo que Hemingway buscou por entre os milhões de palavras que nos concedeu. Se podemos eliminar o que em nós nos corrói, se aspirar a sermos melhores é uma quimera de crianças sonhadoras ou uma possibilidade real, se vale sequer a pena perder tempo a pensar nisso quanto mais a agir nesse sentido. O soldado que gostava de apenas duas coisas na vida, beber e fazer sexo, poucas esperanças acalentava de que a sua vida ou o seu destino lhe permitissem caminhar noutro sentido. Eu por vezes também acho que estamos aqui para o que viemos. Por mais que estrebuchemos e queiramos soltar-nos destas amarras invisíveis estamos aqui para o que viemos. Há dias que ninguém me tira isso da cabeça.
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Benfica 0 - Chelsea 1
Iniciei o jogo do Benfica com intenção de torcer pela equipa portuguesa. Depois apercebi-me que a equipa mais portuguesa em campo era o Chelsea com dois portugueses no 11 contra um deserto de lusitanos no 11 benfiquista. Depois reflecti um pouco e estranhei que os dirigentes do Benfica nada se preocupem com esse facto e estranhei um pouco mais ainda que os jornais e as televisões pouco abordassem essa vergonha nacional. Depois reflecti mais um pouco e já não achei assim tão estranho. Os dirigentes do Benfica preocupam-se provavelmente mais com comissões de grandes compras no estrangeiro, os jornais preocupam-se em não melindrar os leitores que lhes pagam as páginas a metro. Os adeptos benfiquistas, esses cegaram perante a possibilidade da glória a qualquer preço, esquecendo as origens e os valores que fizeram deste um grande clube. Se calhar é por isso que o campeonato ameaça esfumar-se, se calhar é por isso que a sorte nada quis com o Benfica neste jogo. Porque a sorte constrói-se e merece-se, também. Pensem nisso, benfiquistas (e hoje nem vos chamo vermelhuscos, respeitando a vossa dor).
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Braga 2 - Académica 1
Tivera eu tempo, paciência e pouco com que me preocupar e era homenzinho para criar o movimento de todos os não portistas, não benfiquistas, anti-sistema, anti-corrupção e afins, a favor de um Braga campeão. Podendo parecer aos mais distraídos, isto não é invejazinha leonina ou nada de parecido, é admiração por projectos bem construídos, passo a passo, ano a ano, sérios, bem pensados e melhor estruturados. Nos últimos anos António Salvador contratou para treinar o Braga Jesualdo Ferreira, Jorge Jesus e Domingos Paciência. Esses treinadores mostraram toda a sua qualidade no Braga e saíram para os chamados “grandes”, sem dramas nem acentuadas quebras na equipa. Aquando da última saída, a de Domingos Paciência para o Sporting, Salvador apostou num relativamente desconhecido Leonardo Jardim. Lembro-me bem de uma entrevista que Jardim deu à época que treinava o Beira-Mar, recheada de convicções, frases certeiras e duras, atitude típica de alguém que mais do que saber o que queria sabia muito bem como lá chegar. A reforçar este desejo de uma cidade dos arcebispos em festa, quero um Braga campeão porque sei que lá em cima, no campo de futebol acima das nuvens, está o meu tio Vítor a torcer como sempre torceu pelo seu Braga. Se Deus quiser e os árbitros deixarem, o Braga será campeão. Força arsenalistas do Minho!
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Crouchigoal!
A fotografia é no Britannia Stadium, estádio do Stoke City, momento único como só o futebol pode oferecer. Neste momento, minutos antes ou depois, para o caso pouco importa, Peter Crouch, um boneco de dimensões fora do comum e pernas finas como cabos de vassoura, marca provavelmente o melhor golo da época de todos os campeonatos europeus. Como lhe chamou um jornalista do The Guardian, “what a crouchigoal!”. O futebol não escolhe os seus heróis, aceitando para o caso gordos, magros, bonecos mal articulados, tipos asquerosos, vaidosões arrogantes, o futebol é o desporto mais democrático à face da terra. Quanto ao Crouchigoal, é pesquisar no youtube que aquela malta está sempre a indisponibilizar o feito. Direitos de autor e o diabo a sete (pesquisar por "Peter Crouch goal against Manchester City").
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Algumas saudades do Verão e dos irresistíveis tons laranja do fim do dia
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Olhar para o futuro (Sporting 1 - Feirense 0)
Nada como uma competição que já pouco interesse tem para o Sporting este ano, alidada a uma exibição sensaborona e a uma vitória pouco entusiasmante, para me pôr a pensar no Sporting do futuro. E para mim um Sporting forte e competitivo no próximo ano implica o seguinte: uma permanente atitude de busca da vitória sem concessões a facilitismos (sobretudo contra equipas teoricamente inferiores), a permanência de um treinador que deu uma nova mentalidade e motivação a um grupo abatido e a contratação de jogadores para as seguintes posições: um central de qualidade, rápido e experiente para assumir a titularidade ao lado de xandão/Onyewu; um ponta de lança que signifique golos para manter Wolfswinkel ligado à corrente durante toda a época. De resto, nas laterais defensivas estamos bem servidos, no meio campo não falta classe e qualidade, de extremos também não vamos mal, obrigado. É simples, é o momento de não inventar. Há que olhar para os erros básicos de gestão que foram cometidos esta época (treinador deixado só contra as críticas, comunicação social e adversários; estratégia patética para garantir respeito pelos órgãos de arbitragem; reforço medíocre da equipa em Janeiro) e partir para uma nova era, uma era à Sporting. Vamos a isto, chegou o momento!