Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Para a minha querida Nonô
Creio que nunca estaremos preparados para o fim. Sobretudo, nunca compreenderemos quando são os melhores, os mais bondosos que partem. Este blog faz aqui uma pausa em homenagem à minha querida Nonô.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Sporting 2 - Nacional 1
Regressado do reino dos Algarves chego a casa no início da segunda parte do Sporting-Nacional. Fui vendo o jogo de esguelha enquanto resolvia pequenas contrariedades, o suficiente para algumas conclusões sobre a equipa e alguns dos rapazes:
- Ponto prévio sobre Jesualdo: se o Professor conseguir o milagre de nos levar à Liga Europa, creio que Bruno Carvalho terá muito pouca margem para não apostar nele para a próxima época. Não só pelo feito, mas sobretudo por Ilori, Eric Dier, André Martins e Bruma.
- Adrien é um misto de falta de fibra e de excesso de auto-convicção de que é um jogador cheio de classe. Sobretudo, Adrien é um caso típico de “és bom é na Académica”.
- Labyad remata muito, remata demasiado, remata quase sempre mal. Apostar nele antes de Viola é um mistério daqueles.
- Bruma é um excelente jovem jogador. Bruma é jovem, ainda muito jovem.
- Ilori é jovem mas parece cada vez menos jovem, no que isso tem de bom.
- A Miguel Lopes faltou sempre uma candeia para encontrar o Candeias, mas o professor demorou em perceber isso.
- Rojo nunca me convencerá por mais golos que marque, Capel passa a vida a reconvencer-me, Joãozinho até me convencia se mudasse de nome.
A sorte, a sorte, os cânticos e a alegria que voltaram a nossa casa! Obrigado rapazes!
p.s. – Impressionante assistir nestes últimos dias à vibração e ao apoio dos farenses ao clube da sua cidade. Este sim, um clube com apoio popular que justifica a sua presença na 1.ª Divisão, ao contrário de Navais, Leirias e tantos outros que nem um décimo desse apoio popular têm. Parabéns Farense!
Autoria e outros dados (tags, etc)
O perigo das curvas contra curvas
Autoria e outros dados (tags, etc)
Ainda a liberdade e umas pitadas de inveja
O toque da areia no corpo, o abraço irresistível do sol. O horizonte sem fim, invariavelmente azul, doce e retemperador. O mergulho noutra realidade, esquecer tudo, sentir a vida a pulsar no corpo. Estes momentos e luxos são a riqueza de Portugal. Como disse a minha amiga Teresa insistimos em correr sorridentes para o mar, numa fuga incessante para aqueles irrepetíveis e eternos momentos de felicidade. Será que lá fora, os perfeitos nórdicos, os rigorosos e produtivos alemães não resistem em castigar-nos por disfrutarmos destes imerecidos luxos? Será que a sua inveja é tão dilacerante que conduza à negação da solidariedade que o ideal europeu pretendeu implantar? Será o corpo entregue às carícias do sol um pecado tal que tenhamos que espiar tais malfeitorias num futuro incerto e penoso? Meus senhores, venham até nós, banhem-se nas nossas águas, sintam a nossa alegria, entreguem-se à modorra do sol e deixem de nos fecundar o juízo!
P.s. – fotografias tiradas ontem na praia da ilha de faro, em pleno exercício da liberdade.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Ainda assim, 25 de Abril sempre!
Praia de Faro. Os meus pés beijados pelo mar frio. O meu filho Miguel a correr para as ondas e a fugir delas, desafiando-as, procurando conhecer o perigo que elas encerram mas escondendo os seus medos. Eu a observá-lo atento mas fingindo despreocupação, deixando-o desbravar novos mundos. Gritos de excitação, “está fria, pai!”, gritos de felicidade bruta e descontrolada. Com os olhos nele, recebo uma onda que me molha os calções que não são de banho, ele ri-se louco de contentamento, no mais puro êxtase. Aquela sensação de liberdade no dia da dita cuja.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Cabelos ao vento - 25 de abril, sempre? E foi-o realmente alguma vez?
E se a liberdade residir no direito, básico e inalienável, de soltar o cabelo mesmo quando todas as convenções e restrições o proíbem? E se a liberdade procurar apenas a felicidade simples, aquela que mais não é que o prazer daquele momento e dos momentos fugazes que se seguem? E se a liberdade cheirar a suor porquê insistir em extirpá-la da nossa pele? E se a liberdade for possuir quem desejamos, porque evitamos fazê-lo obedecendo ao peso de regras que nos esmagam até ao âmago do nosso instinto original? E se a liberdade for destronar quem nos oprime com o poder mal exercido porque não tomamos nós o poder nas nossas mãos? Falamos muito e celebramos demasiado a liberdade que dizemos ter conquistado. Mas somos realmente livres? Sabemos realmente o que é a liberdade? E se o 25 de abril foi apenas o primeiro passo para tudo o resto que falta ainda alcançar? Hum?
Autoria e outros dados (tags, etc)
Bayern Munique 4 - Barcelona 0
Não serei daqueles que irei chorar o fim do tiki taka. Esta noite assistimos a uma das melhores exibições de uma equipa de futebol, um raio de 90 minutos de futebol total, o casamento perfeito entre a técnica, a velocidade, a força e o rigor táctico. Se o mérito do Bayern foi imenso, o demérito do Barcelona assentou num erro crasso do seu treinador: assumiu perante toda a sua equipa a total dependência de Messi ao colocá-lo em campo fisicamente inferiorizado, lançou o futebol do Barcelona no desnorte provocado por essa assunção de, mais do que dependência, inferioridade. Como em todas as actividades colectivas foi o papel do líder que definiu o sucesso: Heynckes não falhou, Tito Vilanova mostrou o que vale como motivador de homens.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Perdidos no meio de nós
Fotografia de Gabriele Lopez
É um tema já batido este do anonimato dos dias de hoje, das pessoas que vagueiam na multidão como se não fossem pessoas, mas autómatos sem mecanismos de reconhecimento intra espécie, sem qualquer ligação possível com o autómato que se senta no lugar ao lado, com o cyborg de carne e osso que atravessa a passadeira com o corpo colado ao seu. É um tema batido mas não resolvido, este das pessoas que se ignoram por motivos relevantes como a pressa, a indiferença pura, a timidez, o medo do desconhecido, a simples razão de nunca se ter visto aquela cara antes ou, de ao vê-la todos os dias, no mesmo autocarro, na mesma passadeira, se ter tornado um procedimento normal e aceitável a afirmação da indiferença e a queda no anonimato global. Há quem force um sorriso encolhido, não com qualquer intenção de promover a mais ínfima proximidade, mas apenas como um mero reflexo de reconhecimento facial. Ainda assim, serão infinitesimais as situações em que esse esgar obtém reacção semelhante. Caminhamos para uma sociedade em que o contacto se restringirá às relações familiares e de amizade (para aqueles que têm esse privilégio), aos formais contactos profissionais, esvaindo-se pelo esgoto da indiferença todos os restantes biliões de interacções humanas desprovidas de utilidade. O utilitarismo dos tempos modernos é este, a transformação dos viajantes deste tempo não augura um mundo melhor.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Benfica 2 - Sporting 0
Não sou tipo para bater no peito e louvar vitórias morais. Mas tenho olhos na cara para ter visto o melhor Sporting da época que hoje foi melhor que um Benfica tremendamente ansioso e acabrunhado. Apetecia-me muito mais falar dos pés de veludo e da inteligência de André Martins, da promessa Bruma que é já uma certeza, da classe e maturidade acelerada que Ilori vai apresentando. Mas tenho que falar de um jogo que começou com dois penalties claros escamoteados ao Sporting, tudo sob o véu de um critério largo que jornalistas desportivos e comentadores foram arrotando até agora. Provavelmente o Benfica não precisaria dessa vergonha, mas isso não seria a mesma coisa. Mais? Como disse o João Quadros pelo Twitter, para que o Maxi fosse hoje expulso só se rebentasse com uma panela de pressão cheia de pregos no meio do campo e, acrescento eu, nas barbas do árbitro. Esses erros foram premeditados? Não, mas é bem mais confortável para os árbitros evitarem contrariar 6 milhões de benfiquistas e muitos poderes instalados do que aplicar as leis de jogo com seriedade. Não fica vitória moral nenhuma, mas fica o orgulho e superioridade moral de terem estado apenas 6 jogadores portugueses em campo e todos eles equiparem de verde. Obrigado por terem dado tudo, rapazes!
Autoria e outros dados (tags, etc)
Cabelos ao vento
Brigitte Bardot fotografada por Terry O’Neill
Não vislumbro imagem mais representativa do espírito da liberdade do que os cabelos ao vento de uma mulher. A ausência de artifícios e artefactos a domar os selvagens fios de ouro, a leveza, a sensualidade, a entrega a sensações sem dono ou destinatário. O que o vento fisicamente liberta sente-se no espírito, como se os flutuantes cabelos permitissem à aura da mulher levitar, expandir-se, diluir-se numa harmoniza indizível. Começa uma nova série que, não fugindo à regra, coloca no centro de tudo a mulher, essa tentação esvoaçante.