Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
17º Grande Encontro da Confraria Etnográfica dos Olivais (CEO)
É já este fim-de-semana, quase um ano depois da realização do 16º Grande Encontro da Confraria Etnográfica dos Olivais (CEO), que os suspeitos do costume regressam ao mesmo local, a bela aldeia de Samel em pleno coração de terras bairradinas, para celebrar de forma condigna o V Aniversário da CEO. O lema é o que salta à vista da imagem supra e, mesmo sabendo que somos rapazes inofensivos - bem casados ou pior solteiros -, não posso deixar de recomendar aos pais bairradinos, porque fica sempre bem e porque dá um ar marialvo-negligé à coisa, que amarrem as vossas filhas maiores de idade à cama, ao sofá, à salamandra, mas, por Toutatis, não deixem as moçoilas andar à solta nos dois dias que se seguem! Dada a intensidade das actividades agendadas, só Domingo deverei vir aqui dar nota dos resultados deste fim-de-semana de profunda reflexão olivalense. Esperançoso de cá voltar, despeço-me com um bem haja a todos.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A nação e o complexo Zundap
A incapacidade de resistir a esta bela pin up numa vespa aliada à minha recente paixão por estas simpáticas motoretas, obriga-me a embelezar as paredes aqui da tasca com este quadro pintado a óleo. Por outro lado, a falta de tempo para escrever magnificamente e para tecer considerações ainda mais magníficas sobre o estado da nação em geral e no particular, conduzem-me inevitavelmente a esta indigência intelectual que, empobrecendo a fama de tasca da cultura que este acolhedor cantinho vai recolhendo por entre as casas de alterne deste país não deixa de, esteticamente, a tornar mais animada e menos desempoeirada. Para não terminar sem dizer algo de realmente enriquecedor, queria apenas deixar uma nota para memória futura, uma reflexão que me assolou ontem pelas 20h ao sair de mais uma reunião conjunta entre várias eminências deste nosso curioso país: é profunda convicção de demasiada gente com elevadas responsabilidades que alcançar entendimentos, conceder para atingir acordo sobre as mais comezinhas matérias (ui, nem se fale dos acordos que realmente interessam) é um sinal de fraqueza e não de inteligência. Bela motoreta, pobre nação.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A água que já foi da vida
"Complaining about the weather is the first sign of madness", afirmou uma qualquer alma britânica para quem o senso comum seria tão natural como o ar que respirava. Por este lusitano território invadido pelo estigma da austeridade tudo é desculpa para mais lamentos, mais rancor e cinzentismo, tudo é visto como um inexplicável castigo do destino ou um esquecimento imperdoável da divina providência. As escassas chuvas que salvam as escassas culturas dos escassos agricultores são recebidas nas cidades como o fogo do demo, como mais um sinal que tudo se virou contra nós. Terá sido demasiado sol a entorpecer-nos as meninges? Será que o caloroso abraço do astro rei nos sufoca nesse torpor de contemplação, nesse dolce fare niente que nos afasta dos caminhos da virtude e da prosperidade? Quando foi que a água deixou de ser água da vida e passou a prenúncio de tristeza, que nos transformámos nesses seres incapazes de reconhecer que a beleza pode ser algo tão simples como o cheiro a relva molhada? Quando foi que passámos a receber as dádivas da natureza com indiferença, com mal disfarçado incómodo? Chove lá fora, as gotas gordas como sapos esborracham-se em bátegas incessantes contra a janela, os miúdos riem-se com gosto sem saber muito bem porquê. Valha-nos as crianças.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Parece uma vespa!
Diz a lenda que quando Enrico Piaggio, um dos criadores desta scooter imortal a viu pela primeira vez no modelo final, exclamou em italiano, embevecido: “Bella, sembra una vespa”. Será que o Senhor Piaggio sonhava com os sublimes espécimes que iriam usufruir da cavalagem de tão belo veículo de duas rodas? Fica a dúvida, fica a beleza em duas rodas e muitas curvas.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Os 10 mandamentos à beira rio
Não sei se já coloquei esta foto aqui pela tasca. Muito provavelmente sim, mas a memória já não é o que era e, sinceramente, pouco me importa se repito fotografias arrebatadoras como esta, pois a beleza nunca se repete, simplesmente eterniza-se na nossa existência. A fotografia é de JR Eyerman, no longínquo ano do Senhor de 1958, e põe-me a pensar porque raio não se enchem os estacionamentos a céu aberto de Lisboa, do nosso país, de drive ins. Estacionamento à beira rio a namorar o Tejo, uma tela gigante, uns rapazes a venderem pipocas e refrigerantes depois de baterem suavemente na janela dos pombinhos, um negócio de custos baixos e lucros fáceis. Ando a perder-me nesta teimosa dedicação à causa pública, está mais que visto.
Autoria e outros dados (tags, etc)
V. Guimarães 0 - Sporting 1
No futebol, como na vida, tudo é relativo. Para reconhecer devidamente a fantástica época que o Sporting está a fazer, é necessário relembrar o ano passado, as fragilidades de uma época assustadiça, sem ambição, sem qualidade e sem garra, para perceber que tudo o que está a ser feito deve ser visto, não digo como um milagre, mas como um trabalho e uma evolução de excelência. Não foi uma grande exibição, longe disso, mas houve inteligência, sangue, suor e lágrimas e pormenores que denotam que tudo está diferente para melhor. Se o meio campo não esteve particularmente inspirado, a defesa compensou esse dia menos bom com uma exibição segura e sem falhas comprometedoras. Maurício começa a assumir-se como patrão e Eric Dier, excelente nas bolas aéreas, pareceu bem mais concentrado do que nas suas últimas aparições. Se Montero está numa fase menos famosa na finalização, não deixa de fazer um fantástico trabalho a servir os colegas e a ajudar na circulação ofensiva. Se o nosso matador está numa fase de seca, temos no banco um homem cheio de fé e de pé quente, Islam Slimani, um ponta de lança que não sendo um virtuoso tem sabido surgir no momento e na altura certa para nos dar os golinhos necessários. Se Capel e Carrillo não conseguiram desequilibrar, Jardim acertou na mouche ao descobrir mais espaço nas alas com Carlos Mané e Diogo Salomão.
No banco um presidente entusiasta e que deve dormir, acordar e sonhar com o Sporting na mente e no coração teve, além destes evidentes méritos, o engenho de apostar em Leonardo Jardim, um Senhor e um Senhor treinador. Manteve a calma e com isso manteve a calma da equipa, escolhendo o momento certo para a estocada final. As suas declarações no final do jogo, falando abertamente das opções tácticas e estratégicas, falando de futebol como se deve falar deste desporto único, é uma lufada de ar fresco, é uma forma de estar que me orgulha seja a do treinador do Sporting. Podemos sonhar com o título? Sim, podemos! Força rapazes!
Autoria e outros dados (tags, etc)
Tokyo nos anos 50, por Ikko Narahara
Autoria e outros dados (tags, etc)
Capa de revista - Monica Bellucci
Que dizer sobre Monica Bellucci? Que vai para além dos padrões mais exigentes sobre a beleza feminina? Que personifica na perfeição o conceito de mulherão? Eu diria que esta mulher só poderia ser italiana e que, apesar de estar a uma casa de fazer 50 anos, este maravilhoso exemplar do estupidamente chamado sexo fraco nunca envelhece. Mais interessante, por trás desta mulher hiperbolicamente sensual está uma pessoa com um cérebro também ele atraente. Pelo meio das habituais relevantes declarações feitas às Vanity Fair, às GQ e às revistas Elle deste mundo, Monica afirmou que, após o amor feito, o homem dorme e a mulher reflecte. Esta simples asserção resume toda uma ideia feita (e tragicamente verdadeira) sobre a bestialidade que habita os homens. Monica defende também que a beleza, a beleza que por exemplo ela ostenta, apenas se torna em algo vivo e interessante se for habitada. Não podia concordar mais e a Mónica é a prova viva de que isso é mesmo assim. Sobre o que é ser actriz, sobre o que significa actuar num palco ou numa tela de cinema, Monica atesta que "Acting is not words. Holly Hunter didn`t speak in The Piano (1993) and she won an Oscar". Não podia concordar mais contigo, Monica, por mim estavas cravejada de óscares sem nunca teres balbuciado uma palavra. É cá uma ideia minha, não leves a mal.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O Bolas foi à faca
Autoria e outros dados (tags, etc)
"Correcções" - O sarcófago dos tempos modernos
Tenho negligenciado as letras e os livros em prol das bolas e das divas, o que não sendo pecado ou raiz do mal das coisas que estão mal neste mundo, desequilibra o blog, o que nunca me agradou. A falta de tempo, o excesso de notícias, artigos, baboseiras e afins com que o smartphone me asfixia também me têm mantido afastado do cheiro a papel de livro de que tanto gosto. Esta será uma resolução de fim de ano, voltar aos livros e abrandar nos mergulhos digitais. Para matar saudades, regresso ao “Correcções” de Jonathan Franzen e a um trecho secamente factual mas que tem tanto a ver comigo, sobretudo porque habito num prédio com 60 condóminos de onde saio para entrar numa outra torre, agora não de casulos familiares mas de formiguinhas trabalhadoras. Fiquem com o elevador, esse sarcófago dos tempos modernos.
“Finalmente, chegou um elevador. Enquanto a massa de criaturas avançava para ele, Gary considerou a ideia de esperar outro menos povoado, um transporte menos infestado de mediocridade e cheiros corporais. (…) Absolutamente nenhum eco num elevador cheio. Todos os sons eram amortecidos por roupas, carne e penteados. O ar pré-respirado. A cripta sobreaquecida.”