Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Portugal 0 - Grécia 0
Soa o apito final pelo Jamor e pelas paredes da sala cá de casa, logo seguido de algumas críticas desiludidas do pequeno Miguel por não ter visto golos e do comentário da cara- metade, ligeiramente agastada por perceber que a preceder um mês de futebol sem parar ainda vai ter que aguentar estes importantes jogos particulares: “Então essa desgraça acabou 0-0?”. Coloco a minha expressão de génio incompreendido n.º 6 e solto, lenta e pausadamente, a frase cujos pontos que se seguem irei explanar na perfeição:” O jogo foi óptimo, mas apenas para quem realmente percebe de futebol”. Vejamos:
1) Jogámos sem quatro dos mais valiosos titulares (Pepe, Coentrão, CR7 e Moutinho) e mesmo assim dominámos quase por completo uma ultra-defensiva Grécia. Podíamos ter marcado por várias vezes e só nos arriscámos a sofrer nos últimos minutos de descompressão do jogo, um comportamento a que Paulo Bento terá de estar atento.
2) Ganhámos três jogadores chave. William Carvalho, sem deslumbrar e faltando-lhe ainda a confiança com que desliza nos relvados com a camisola verde e branca, mostrou estar alguns furos acima de Miguel Veloso, oferecendo qualidade de passe, presença física e enorme abrangência e dinamismo na cobertura do meio campo. Nani, com o corpo descansado e a mente certamente em processo de limpeza da sua pior época de sempre, confirmou que reúne todas as condições para ser o parceiro de CR7 nas alas lusitanas. Quanto ao eterno problema português, a cabeça da área, Éder, sem ter resolvido de forma inequívoca o problema, longe disso, demonstrou sageza (aquele cabeceamento em antecipação nos primeiros minutos merecia melhor sorte), muita vontade, capacidade de cobertura da bola, boas tabelas e uma disponibilidade física bem superior à dos dois concorrentes directos (Postiga discreto, Hugo Almeida atabalhoado).
Estou convicto que com o regresso dos titulares e estes três reforços poderemos surpreender. Temos que saber ver o lado bom das situações e ter a coragem de ser optimistas. Força rapazes, força Portugal!
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Elas tardam mas não falham...as selfies!
Se há fenómeno paradigmático dos dias que vivemos esse é o fenómeno das chamadas selfies, as fotografias que meia humanidade tira a si mesma. Correndo o risco de chover no molhado, tão debatido tem sido este fracturante tema, diria que a selfie mais não é que um caldeirão de manifestações humanas, no qual cabem a desesperada busca de protagonismo, a vaidade, o mero e saudável pagode, ou, simplesmente, uma forma de preencher os buracos temporais de quem nada mais tem que fazer. Eu próprio já terei publicado umas selfies, geralmente grupais, nas malfadadas redes sociais, pois mantenho esta dúbia perspectiva de que se não posso vencer as parvoeiras dos tempos que vivemos o melhor é adaptar-me a elas, sem nunca violentar a minha consciência, claro está. Apesar do mau gosto de muitas selfies que por aí se encontram não me apetece entrar no coro politicamente correcto que abomina esta prática onanística. Defendo que somos livres para o bem e para o mal, desde que não penetremos na esfera do próximo. Em suma, este texto não está grande espingarda, mas o tema também não me inspira inesquecíveis teses sobre os delírios da condição humana, as coisas apenas são como são. Ainda assim, está lançado o mote para posts vindouros sobre o tema selfies. Tenham medo, tenham muito, muito medo.
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As vantagens de ser ignorado (fotografias e reflexão, por Saul Leiter)
“I spent a great deal of my life being ignored. I was always very happy that way. Being ignored is a great privilege. That is how I think I learnt to see what others do not see and to react to situations differently. I simply looked at the world, not really prepared for anything.”
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O mundo é um lugar estranho - olhar sem ver
Conheço demasiada gente que se recusa a ver os sinais, que olha sempre na direção onde não se encontra a verdade, que se debruça apenas sobre as perspectivas confortáveis e isentas da mínima possibilidade de conflito. Também por isso, cada vez menos me surpreendo quando me anunciam aquelas grandes hecatombes, como divórcios, separações, saídas de casa sem pré-aviso ou, num campo profissional, uma avença que se perdeu, um emprego que se esfumou ou um contrato que foi à viola. O conforto de virar a cara à luta deveria ser, à nascença, considerado contranatura. Por luta entendo o debate de ideias, a busca da melhor forma de esbater diferenças, a assunção de compromissos que permitam que o conjunto funcione melhor do que as partes. Recusar esse saudável combate é fazer do mundo um lugar ainda mais estranho.
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Do inferno ao paraíso - em busca do sonho perfeito
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Da política e dos políticos
Ontem falou-se de política e eu não consegui fugir aos soundbytes do momento. Na idade da inocência, a tenra juventude, olhava para a política como uma nobre arte, como a ferramenta encontrada por aquela gente adulta, bem vestida e bem falante para fazer da vida algo que valesse a pena, para fazer da nossa rua um sítio seguro, do nosso país o jardim em que quiséssemos e nos orgulhássemos de viver. Hoje, já escaldado por demasiadas vivências pouco edificantes, acabo a suspeitar que o bom do Nicolau Maquiavel podia andar perto da luz quando defendia que a política não tinha qualquer relação com a moral. Provavelmente, a mancha não estará tanto na política como abstracção, mas muito mais nos que a executam, certificando-se assim o pensamento de Charles de Gaulle de que a política é um assunto demasiado sério para ser deixado para os políticos. Não é que todos os políticos sejam imprestáveis, nada disso, mas temo que as palavras de Henry Kissinger sobre a classe possam não andar muito longe da verdade: “Ninety percent of the politicians give the other ten percent a bad reputation” (esta fica em inglês para que os 90% não percebam, não vão eles ofender-se).
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O triste estado da Nação e da Europa
O Melo e o Rangel suspiram em jeito de alívio porque, ainda assim, perderam por poucos. Assis fala primeiro que todos para ninguém reparar que deviam ter ganho por mais. Marinho e Pinto aproveitou os programas televisivos das manhãs para inchar até ver se rebenta em Belém. O Bloco levou com um bloco em cima e a CDU continua a absorver a maioria dos descontentes deste país. O Livre e o competente Rui Tavares esqueceram-se de ir às manhãs do Goucha. Em suma, e para não variar, quem se lixa é o mexilhão.
Quanto aos perigosíssimos resultados a nível europeu, pouco mais a dizer do que citar o Daniel Oliveira: "Se a Europa não acorda com os resultados de hoje, não acorda com nada. Se não acorda com nada, está condenada."
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Real Madrid 4 - Atlético Madrid 1
O erro infantil de Casillas, um guarda-redes a cuja fama e estatuto apenas Mourinho resistiu, o dramático golo de Sérgio Ramos no último minuto a prolongar o cheiro a tragédia mais trinta minutos, o golo de Bale, o homem que falhara três golos certos, a exibição estratosférica de Di Maria e, para finalizar com bandarilha de ouro, o golo do melhor do mundo, Cristano Ronaldo. Para trás uma equipa de bolas de ouro, um Atlético de Madrid que merecia ser feliz mas que soçobrou perante a irónica crueldade do futebol. O mais fantástico espectáculo do mundo, o inigualável futebol!
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E para o fim de semana, nada como uma boa dose de desobediência civil (mas não se esqueçam de votar!!!)
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Tão simples, tão desgraçadamente simples
Não podia entrar numa loja, num quiosque, num boteco, que os olhos brilhavam desmedidamente, como berlindes possuídos por um fascínio de outro mundo. Se por distracção dos seus guardadores, ou apenas porque os vencera pelo cansaço e os convencera a uma inocente visita a um hipermercado, era certo que a loucura se apoderaria daquela frágil cabecinha. Todos os afectos que a vida lhe negara eram-lhe devolvidos a dobrar pelos néons, as cores, os aromas, a textura daquela irresistível miríade de produtos. Todos os amores que lhe falharam estavam agora enclausurados em milhares de caixinhas e era certo como o destino que jamais lhe fugiriam. A vida podia ser tão simples, bastava trocar pessoas por objectos. Como não pensara nisso antes de se esquartejar contra a cruel parede da humanidade era o único desgosto que agora trazia consigo.