Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Benfica 1 - Sporting 1
Há jogos decididos e marcados na nossa memória por momentos brilhantes de grandes jogadores e há outros que serão recordados devido a erros patéticos de jogadores medíocres. Artur fez o que já fizera tantas vezes, pelo que o erro que permitiu a Slimani empatar a partida de hoje é todo ele responsabilidade de Jorge Jesus. A sua teimosia em apostar num jogador que tanto e tão flagrantemente falha é a marca indelével dos casmurros arrogantes. Mas o erro de Artur não é um momento isolado no jogo, é muito mais do que isso. Primeiro porque permite esconder que antes disso (e também depois, mas aí já o erro camuflara a coisa) a defesa do Sporting, sobretudo o seu eixo central, demonstrara demasiadas fragilidades. Sarr esteve bem para um miúdo a entrar agora nestas vidas, Maurício começa a não conseguir disfarçar a falta de classe para estas andanças e os laterais atacaram melhor do que defenderam. O já famoso erro serve também na perfeição para que jornalistas, adeptos, dirigentes e até treinador possam esconder por trás dele a realidade da equipa do Benfica: é bem mais fraca que o ano passado, sobrevive devido a Luisão, Enzo (até quando?) e à enorme classe de Salvio e Gaitan.
Há quem resuma o jogo dizendo que o empate foi justo mas eu arrisco-me a dizer que as oportunidades mais flagrantes acabaram por ser do Sporting. Mais importante do que isso, pergunto: Há quantos anos não saíamos da Luz com a sensação de que merecíamos mais do que um empate? O mérito de se poder colocar esta pergunta é de Marco Silva, que sirva ela também para espantar alguns fantasmas que por aí andavam já a pairar sobre o jovem Marco. Nenhuma das equipas deve embandeirar em arco depois deste jogo, devem sobretudo pensar que se continuarem a jogar o que demonstraram, a meio do ano já entregaram o caneco à tripalhada. Vejam lá isso, rapazes.
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O Winston, sempre o Winston
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E a perfeição continua a jogar às escondidas
Há vinte anos atrás o verão perfeito era agitação, movida, silêncio zero, sensações a mil e o corpo sem parar, como se parar fosse mesmo morrer. Hoje, cansado de tanto dançar, cego pelo barulho das luzes e com os joelhos massacrados de carregar crianças pelo areal, sonho com uma praia só minha, quanto muito partilhada com a companhia perfeita, sem jogatanas de bola, mergulhos infindáveis, salvamentos de petizes da borda das ondas que teimam em pregar-lhes rasteiras e enrolá-los naquela mistura de espuma e areia, essa traiçoeira melodia que atrai mais crianças que marinheiros. Ontem como hoje a perfeição ri-se de nós. Deixem-me sonhar.
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A fotografia de Irving Penn a fazer deste cantinho um espaço mais habitável
Por esta divina ordem: Gisele Bundchen, Lisa Fonssagrives, Claudia Schiffer, Nicole Kidman e Isabella Rossellini
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Portugal, a flor e a foice - J. Rentes de Carvalho
É vergonhosa a lentidão com que atualmente devoro livros. Desculpar-me com o trabalho ou a nobre ocupação da paternidade é enganar-me a mim próprio. Largasse eu o vício do futebol e das notícias devoradas nos tablets e o tempo para ler regressaria e faria de mim um ser menos informado mas certamente mais interessante. Hesitei se deveria escrever culto, mas desviei de rumo pela lembradura que há por aí tanto leitor compulsivo burro que nem um calhau. Não interessa a quantidade do que lemos, releva sobretudo a qualidade. Ainda mais importante do que isso interessa o que fazemos com o que lemos, o efeito que deixamos que as ideias tenham em nós. Mas isso já é muita areia para a camioneta deste blog, vou tentar não tergiversar mais.
Vem isto a propósito do excelente “Portugal, a flor e a foice” do não menos excelente J. Rentes de Carvalho. Estou a meio do livro e tenho-me deliciado, tanto quanto tenho sofrido, com os tristes episódios da triste/gloriosa história de Portugal, brilhantemente descritos e analisados pelo autor. Esta obra é excelente para quem já muito emprenhou com as ideias feitas de que Portugal já foi um grande império, rico, poderoso e tonitruante, que só a injustiça, as maliciosas forças estrangeiras e o azar relegaram agora para as franjas do esquecimento. Rentes de Carvalho diverte-se e diverte-nos a demolir, uma a uma, as presunções da nossa história e os mitos dos nossos heroísmos. O mais importante contributo para a percepção da genética de um povo é dado com as respostas à questão de como foi possível, em pleno século XX, termo-nos subjugado, durante décadas, às mãos de um pobre ditadorzeco e do anquilosante sistema por ele montado para assegurar um poderzinho triste e paralisante que nos trouxe onde hoje estamos. Muitos acusarão Rentes de Carvalho de abusar na maledicência e na insistência dos males da nação, esquecendo-se de enaltecer o que de bom fizemos ao longo de tantos séculos de história. Confesso que, tendo em conta o estado social, político e económico em que hoje nos encontramos prefiro bem mais conhecer os podres que aqui nos trouxeram, do que as supostas glórias e grandes feitos que, afinal, não trouxeram resultados visíveis que embalem a esperança em dias melhores. Conhecer o passado para orientar o presente e evitar erros no futuro, é para isso que a história deveria servir, não para gritar aos quatro ventos as padeiradas de uma qualquer padeira.
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Afinal, o amor sempre anda no ar, é tudo uma questão de não ter medo de o abraçar
Depois de ontem ter encontrado a frase sobre que tanta gente deveria pensar, sobre o amor e o medo do amor em idades ou fases da nossa vida de que deveríamos saber escapar, hoje, para contrariar, deparei-me com esta imagem magnificamente ilustrada pela mais bela defesa do amor com que me cruzei nos últimos tempos. Afinal há esperança, só temos que saber onde a procurar:
«I don’t want to look back in five years time and think, ‘We could have been magnificent, but I was afraid.’ In 5 years I want to tell of how fear tried to cheat me out of the best thing in life, and I didn’t let it.»
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Sobre a questão dos timings e afins
She’s the kind of girl a guy meets when he’s too young, and he fucks up because there’s too much living to do. But later he realizes she’s perfect.
Da série "Californication"
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Nani, o regresso de mais um leão!
Nota prévia: Tinha escrito isto há uns dias, antes do jogo de ontem, e com os nervos que o jogo me provocou esqueci-me que o tinha escrito. Está desactualizado? Não, continua a fazer todo o sentido. Vê lá isso, moço, por ti e pelo Sporting!
Dando por finalizada a silly season do Bolas e Letras e, infelizmente, a minha própria época de idiotice, debruço-me, a pedido da nação leonina em particular e do mundo em geral, sobre o propalado regresso de Nani à equipa leonina. Antes de falar do jogador em si, não posso deixar de mencionar Bruno de Carvalho. Sempre defendi, e continuo a vincar esse ponto, que este fanático e grande sportinguista que atualmente preside ao nosso clube ou nos conduzirá à glória ou à desgraça. Bruno é tudo ou nada, é negociar no fio da navalha, é dar o corpo às balas e preferir morrer a ceder, é agir sempre como se os interesses do Sporting estivessem acima de tudo e de todos. É mau? Não, é óptimo. É arriscado? Arriscadíssimo. Não faz sentido viver um clube, uma causa, uma paixão, sem ser assim – apaixonadamente. Por isso, contra tudo e contra todos, estou contigo, grande presidente, Bruno coração de leão!
Bruno de Carvalho sabia que o Manchester United, por intermédio de Louis Van Gaal, queria muito Marcos Rojo. Partindo desse pressuposto, elevou o poder negocial do Sporting ao máximo, não se atemorizou perante o colosso inglês e conseguiu um brilhante negócio para o Sporting. Nani? Nani tem tudo. Tem arte, tem técnica, tem força, velocidade, remate, inteligência táctica. Faltou-lhe o momento certo para explodir, a sorte que protege os raros génios, mas está ainda à altura desse feito. Que use o Sporting como trampolim para a sua ambição, que o Sporting tire partido dele para voltar a erguer o troféu tão desejado, o de campeão! Força Nani! Força Sporting!
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Sporting 1 - Arouca 0, no dia em que Nani não soube baixar a crista
Fotografia do site MaisFutebol
Gosto demasiado do Sporting para não dizer o que aí vem. Um clube rigoroso, candidato sério ao título, organizado e com a época bem planeada não pode meter a titular um jogador com dois ou três dias de treino com a equipa. Um jogador com a experiência e qualidade de Nani não pode armar-se em vedeta e tornar-se de um dia para o outro o marcador de penalties da equipa e, não pode sobretudo, sair a passo quando é substituído e a equipa precisa com urgência de marcar. Um Sporting forte a candidato ao título não pode escudar-se no azar de Montero, porque azar não é aselhice ou falta de classe (gosto muito de Montero, mas os dois cabeceamentos têm de ser mais desviados do guarda-redes). Marco Silva e Bruno de Carvalho têm que, dentro do grupo e com firmeza, explicar a Nani que é um entre iguais e que acima dele está e estará sempre o Sporting. Ou Nani aprende que não rentabilizará as suas imensas qualidades enquanto não souber acalmar o seu ego em prol da equipa ou será apenas mais uma daqueles promissores jogadores de quem daqui a alguns anos ninguém se lembrará.
Por fim, gostei bastante de Esgaio e de Sarr, gostei muito de Adrien, esperava mais de Carrillo e de Rossel. Jefferson está a subir de forma a olhos vistos e Maurício vai dando credibilidade àqueles que dificilmente aceitam que tenha qualidade para o Sporting. André Martins precisa de ser mais constante e incisivo, João Mário merece uma oportunidade, Carlos Mané merece muitas mais oportunidades e os fantásticos adeptos leoninos, que puxaram até ao fim, merecem mais e melhor futebol. Vejam lá isso, rapazes.
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Não há bem que sempre dure, não há mal que nunca acabe
Custa ver a felicidade transbordar-lhes dos pequenos e eléctricos corpinhos, as novidades invadirem-lhes a cabeça e extravasarem das meninges em gargalhadas descontroladas e saber que mais dia menos dia este paraíso de sensações vai terminar, que a rotina regressa, que as preocupações em educá-los para as coisas sérias da vida imperará face a estas memórias de pura felicidade. Porque há-de ser mais importante aprender a preencher com canetas e lápis de cor os espaços vazios de figuras que não cheiram a mar e a areia? Porque é que contar até 100 é mais valorizado que chutar 100 vezes aquela bola pejada de grãos de areia e de sal? Será que aprender a picotar é mais importante do que partir pela milésima vez aquela casca de caracol seco ao sol, olhar embevecido para as cascas esmigalhadas que deixaram de ser a casinha do caracol que já dormia nas estrelinhas? Porque é que o caminho teima em apartar-se do que os faz sorrir e sentir o coração cheio? Quando é que inverteremos tudo isto e interromperemos as férias durante umas semanas para trabalhar um bocadinho?