Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A Brigitte Bardot também gostava de dar o seu pezinho de dança
Faz algum tempo que não ando para aí a partir pistas de discotecas e sinto que o mundo em geral e a fauna da noite em particular sente saudades desse espectáculo inolvidável. Nunca fui grande dançarino, mas sempre que concedia a mim próprio a liberdade para desenferrujar os joelhos algo de mágico sucedia. Ou um copo se estilhaçava na pista, ou uma moça era espezinhada sem culpa e intenção, ou então, naquelas noites de maior inspiração, o espírito do John Travolta envolvia no seu abençoado, etilizado e frenético abraço a casa nocturna que tinha o privilégio de receber essa magia. Esta conversa não faz muito sentido mas é uma forma de matar saudades dos loucos anos 90, dos dias que não se distinguiam das noites, das noites em que os dias acordavam e ainda nem a noite se tinha deitado. Quem nunca deu um pezinho de dança que atire a primeira pedra.
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Não sendo difícil, acaba por não ser nada fácil
Pensamos que é um jogo, um puzzle acessível só a mentes superiores. Passamos toda uma vida a tentar desvendar as impenetráveis regras por elas criadas, a procurar entendê-las (a elas e às regras) e esbarramos sempre na nossa genética incapacidade para perceber o óbvio. Para elas tudo isto é apenas a vida como acham que devia ser, todos estes sinais contraditórios são apenas os sinais a ser sinais, as dúvidas que pairam no ar apenas por lá andam porque é para isso que as dúvidas servem: para pairarem no limbo das nossas incertezas até que, num determinado momento, indefinível e sem aviso, se esfumam nas nebulosas da nossa ignorância. Levamos cada vez mais a sério esta arte de desvendar o que vai pelo coração e pela cabeça das nossas mulheres, das mulheres dos outros, até das mulheres que não conhecemos, sem nunca alcançar que para elas tudo é tão simples que nós, os seres assustadoramente básicos, não percebemos que, afinal, tudo reside na singeleza de tudo interpretar como simples e directo, por mais complexo que seja esse emaranhado de simplicidades.
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Chamem-me estúpido mas com mais carinho, por favor
Ontem ouvi um tipo que parece que é ou era presidente da ESCOM dizer na Comissão de inquérito ao BES que quanto aos 30 milhões recebidos pelo negócio dos submarinos optaram por remetê-los para um fundo no Panamá para, e sim, vou citar a figura, "optimizar fiscalmente esse dinheiro". Esta é uma expressão de facto bem mais elegante do que expressões como “fraude fiscal”, “crime contra o Estado ou a tesouraria pública” e outras atrocidades do género. Creio que faria todo o sentido aditar à legislação sobre infracções tributárias o crime, ou talvez, derivado da elegância das palavras, uma mera e leve contraordenação intitulada “optimização fiscal de divisas em paraísos fiscais”. Por outro lado, por razões absolutamente alheias a este episódio, como é evidente, proponho aditar os seguintes tipos de crimes: “crime por absoluta ausência de vergonha”; “crime por abuso de cara de pau”; “crime por não ter pejo de gozar com a cara dos concidadãos por excesso de convicção no estatuto de impunidade que o laxismo da sociedade lhe concedeu”.
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Sobre a amizade à prova de água e de tempestades de areia
Não, não faço ideia porque surge na idílica imagem uma referência a Outubro de 2015. Podemos estar perante a promessa de uma amizade duradoura ou quiçá eterna, ou, ao invés, de uma subreptícia indicação de que daqui a uns meses outro galo cantará. Não há bem que sempre dure, não há mal que nunca acabe.
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Rodriguinhos por terras helénicas
O texto infra foi escrito por um acutilante e opinativo militar na reforma com que por acaso me cruzei no facebook. Incide nas excelentes exibições que o ponta de lança da RTP tem tido por terras helénicas e, felizmente, só vem confirmar a excelente decisão que há uns anos tomei de nunca ler livros escritos por pessoas que nasceram pivots televisivos e não escritores. Todos temos direito aos nossos preconceitos e, salvo melhor opinião, convenhamos que há preconceitos bem piores.
“Rodrigues dos Santos é funcionário da televisão pública portuguesa e foi à Grécia. Tem todo o direito de dizer que os gregos são (há milénios) uns tipos que se fazem coxos para receber subsídios, que não pagam impostos das piscinas, que têm um ministro da defesa preso porque os alemães o denunciaram como corrupto num processo de submarinos igual ao do ministro da defesa de Portugal (que está solto e se recomenda) e que nestas eleições há o perigo real de um partido de extrema radical (sic) ganhar as eleições aos partidos que ele chama moderados e que governaram a Grécia desde a IIGM (com uns intervalos de ditaduras militares). Rodrigues dos Santos pode dizer tudo de acordo com a sua cartilha e o seu caráter. Ele é apenas o Rodrigues dos Santos, um senhor em viagem pela Grécia para preparar o romance do próximo subsídio de Natal. Ele é tão livre de dizer os lugares comuns mais falhos de critica que a bela Maitê Proença que disse de nós, os portugueses, o mesmo que o Rodrigues dos Santos disse com o mesmo despropósito dos gregos. Estive sempre à espera de o ver escarrar como fez a atriz brasileira. É evidente que outro galo cantaria se Rodrigues dos Santos fosse jornalista, enviado por uma televisão publica que, queira-se ou não, representa os portugueses. Que fosse um jornalista que tivesse de respeitar um código deontológico e não um senhor de extrema radical que manda uns palpites e uns bitaites sobre um povo que, por acaso, é muito parecido connosco (talvez não tenhamos tantas piscinas cobertas) e que vive a mesma, ou pior situação, em boa parte causada pelos mesmos fatores e pelos mesmos atores".
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Sporting 1 - Académica 0
Nos anos em que brilhantemente orientou o Estoril, Marco Silva aproveitava com sabedoria um factor que hoje não detém em Alvalade: os adversários procuravam jogar de igual para igual contra a sua equipa, o que permitia explorar na perfeição os avançados rápidos do Estoril e a arte do contra-ataque. Quando se treina o Sporting é sabido que no campeonato português 80% dos jogos vão ser disputados contra equipas que reconhecem a superioridade leonina, que ou jogam para o empate ou quanto muito espreitam matreiramente o contra-ataque para tentar uma vitória pouco esperada. Reunir estratégias para enfrentar esse tipo de jogo dos adversários é um desafio novo para Marco Silva, um desafio fundamental para um treinador de equipa grande. Não perceber isso é grave, não encontrar (ou demorar a fazê-lo) a estratégia certa para abater autocarros é até agora o maior handicap do nosso jovem Marco. Esperemos que venha a consegui-lo, a bem do seu futuro no clube.
Individualmente apetece-me destacar um muito bom William Carvalho, a cavalgar todo o terreno para se aproximar da excelência do ano passado. Do lado esquerdo um Jefferson como há muitos anos não tínhamos um defesa canhoto. Lá na frente, parece-me que o banco não faria mal a Montero, como se passou no ano passado quando Slimani o ajudou a melhorar o desempenho. Além disso, a garra e ratice de Tanaka já o fazem merecer a titularidade. É preciso olhar para o que pode fazer-se melhor e fazê-lo. Quase sempre simple is better, Marco, vamos lá a isso.
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Dos efeitos terapêuticos de um dia de sol
Nos primeiros dias chorara que nem uma Maria Madalena. A vida deixara de fazer sentido, convencera-se que aquele era o amor da sua vida, que tudo o resto era deserto, que não mais o olhar de um homem a arrebataria como o fizeram aqueles dois berlindes diabólicos que quando a fixavam no mais fundo de si a faziam tremer como o mais violento tremor das entranhas da terra. O toque, aquele toque mágico e inimitável perdera-se no segundo em que a última palavra foi proferida.
Os dias passaram, não muitos, os suficientes, e um dia o sol acordou-a com uma luz especial, um calor apaixonante e ela voltara a empolgar-se pela vida. Vestiu-se como se fosse para um cocktail numa ilha tropical e foi tomar um aperitivo no bar da moda, onde o viu pela primeira vez. Rei morto, rei posto, porque a vida era só aquela e o sol não merecia que as nuvens não a deixassem brilhar.
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Sobre os dramas da gravidade e afins
No ano em que Helmut Newton fotografou este passeio de barco certamente não se fabricavam cirurgias plásticas que transformassem uma mulher banal na musa dos nossos sonhos. Havendo possibilidade de eu estar enganado e ocorrendo a remota hipótese de nesse desconhecido ano já se produzirem tentações via bisturi, poderei sempre alegar que a febre de enganar o próximo e a si mesmo ainda não era a que hoje vivemos. Os seios proeminentes e à prova de gravidade, essa louca tentação dos devassos, dos homens sérios e menos sérios, dos solteiros e casados, é hoje uma perfeita banalidade, ao alcance de uma operação banal, à distância de um clique de um qualquer site porno-rasca. Maldito o dia em que as mulheres se convenceram que buscamos a perfeição quando apenas queremos o que elas são. Tudo bem, concedo, que isto de me chamarem hipócrita não é agradável – se a natureza, na sua generosa aleatoriedade, quis brindar-vos com um par de belas ondas navegantes, imunes aos malefícios da gravidade, tanto melhor. Caso não tenha sido tanto assim, foi assim que teve que ser. Nunca uma mulher deixou de ser uma mulher, no seu enleante leque de encantos e defeitos, por não ter um par de mamas perfeitas. Tenham lá calma com isso, queridas amigas.
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Still about Charlie
Dou comigo a prestar cada vez mais atenção a representações visuais em detrimento das palavras. Além do já conhecido efeito meteorológico que o vento sobre estas exerce (nota: figura de estilo só ao alcance mentes superiores) esses hieróglifos dos tempos modernos tendem a criar dentro de si um espaço oco que provoca um interminável e irritante eco. Tanto se escreve e debate sobre os valores e os propósitos salvíficos de crenças e religiões e basta surgir este cartaz mordaz e certeiro para, num só flash, nos pormos a pensar na utilidade de tanta tinta e saliva gasta a pregar as velhas e as boas novas. Não fora o meu jeito para a ilustração ser mais rupestre que os rabiscos de Foz Coa e este blog assistiria ao assassinato lento, planeado e definitivo das palavras. Têm sorte, as sacaninhas.
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Os verdadeiros heróis dos nossos mares
Se há gente que merece a nossa admiração e compaixão é a gente do mar. Se há gente que sofre, que come o pão mais duro do que aquele que o diabo amassou são os pescadores. Se há gente que merece ser apoiada, cujas condições de vida e de trabalho deveriam ser objeto de políticas públicas direcionadas, generosas e eficazes é a gente do mar. Sofrem calados, enfrentam os elementos da natureza na sua mais bravia e rude versão para ganharem um mísero ganha-pão, para nos porem na mesa os mais nobres e ricos alimentos. Gostava de fazer uma homenagem condigna a esta nobre gente mas preferia muito mais que lhes fossem dados apoios, condições, justa retribuição em troca das palavras ocas, das lágrimas de ocasião ou das homenagens póstumas que recebem. O nosso mar, o mar deles, não deveria estar prenhe das lágrimas das suas mães, mulheres e filhos. O nosso mar não é feito de lágrimas de Portugal, é feito do suor destes heróis.