Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Don´t worry too much, be a little bit happy
Abomino tanto as lições de vida e os conselhos salvíficos dos gurus do bem viver que, irónica e absurdamente, tendo a cair no erro de alvitrar normas de conduta ou formas de olhar a vida que nos conduzam no caminho, senão de mais felicidade, pelo menos de uma vida que não seja completamente infeliz. O ensinamento da quadrícula acima é um dos meus mantras, que nem sempre conseguindo seguir à risca, já me poupou algumas insónias e excesso de preocupações inúteis. Simplificando, como costumo dizer a amigos próximos que realmente estimo, se a preocupação sobre o problema ajudará à sua resolução então a mesma justifica-se. Caso aquela nada de útil ou positivo traga para a solução do drama então sigamos em frente e despreocupemo-nos. Corpo são em mente sã. Toma lá Pedro Chaga(s) Freitas, in your face!
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Quando o corpo não leva a cabeça de férias
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A escada quebrada da ascensão social
Já não podia ouvir mais aquela torrente de conselhos que quem nasceu com o cu virado para a lua inisistia em dar-lhe incessantemente. “Que a vida é o que nós quisermos”, “que o nosso futuro somos nós que o construímos”, “que o sucesso só depende do nosso empenho” e “que quem porfia sempre alcança”. Badamerda para todas! Sentira no corpo o que lhe custara trabalhar para pagar um curso, só ela sabia do que abdicara, só ela guardava no baú das suas tristezas os dias de praia que não tivera entre exames, só ela chorava as noites de copos e amores loucos de que abdicara. Tinham o rei na barriga, aquelas cabras fúteis que se diziam suas amigas, nunca saberiam o significado da palavra “luta”, nunca sentiriam o cheiro pegajoso do suor de quem estrebucha no meio da merda para respirar um pouco acima da tona de água da mediania. Não sabia se iria aguentar muito mais, se aquele desígnio a que se propusera - de ser uma mulher independente e honrada - valeria um emprego que detestava e que lhe cerceava a vontade de sonhar, tudo isso só para conseguir pagar a renda e fazer três refeições por dia. Sempre adorara viver, mas cada vez mais sentia que a vida que vivia se resumia a sobreviver. Se calhar ia ceder e fazer como muitas que conhecia e que tinham as suas raízes. Um dia casava-se com um beto rico e desmiolado, que saberia nunca iria amar, e pelo menos acabavam-se as vassouras, os lençóis dos outros, o ferro de engomar vestidinhos da senhora. Seria isso viver?
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Os olhos estranhamente tristes da rapariga que fumava ananases
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Entradas de leão e saídas de rei Leão!
Dois jogos do Sporting por terras do grande Madiba e, deixem-me que vos diga, tirei muito mais ilações do que os comentadores encartados cá do burgo que, amordaçados pelo medo de falhar previsões, escudam-se no facto de tudo ser ainda muito prematuro. Ora eu arrisco tudo na roleta. Este Sporting tem boas hipóteses de ser campeão se não perder nenhum dos jogadores que não pode perder, e isto inclui não vender o por ora lesionado William Carvalho. Não pode sair Rui Patrício, no ponto rebuçado da idade e da forma para nos dar aqueles pontos decisivos, não pode sair Slimani que cresceu desmedidamente no clube e que hoje por hoje é um ponta de lança que derruba defesas, marca golos e faz assistências, não pode sair Adrien, um líder no balneário e um centrocampista de grande voltagem, não pode sair Jefferson, um lateral que defende bem e ataca excepcionalmente. Dos que chegaram, Teo Rodriguez não engana, apesar de precisar de tempo para conhecer os colegas e perceber o que Jesus quer dele, Naldo bastou-me ver meia hora para perceber que temos ali centralão e João Pereira adiciona experiência e ratice à lateral direita. Jorge Jesus? Mais do que o génio que tem como treinador vale o que o seu percurso e a sua postura de vencedor inspiram à equipa: com este homem não podemos não ganhar!
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"People are Strange" - The Doors
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Dificilmente não são a melhor banda do universo e arredores, dificilmente esta não é a melhor canção de todos os tempos
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Amor de mãe
Não há maior inocência do que a união sanguínea entre uma mãe e um filho recém-nascido. O casulo protector que outrora foi o corpo é agora a pele, o cheiro, a voz doce que embala os sonhos e a vida. A mulher que ontem era é hoje muito mais, um ser completo que deu ao mundo o milagre da criação. Por mais que a vida esfaqueie o cordão umbilical do amor este permanecerá para todo o sempre, porque em tempos foi inocente, incondicional, único e indestrutível.
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Do poder, dos seus desvarios, das fracas cautelas de quem habita no vale
O poder e o resultado do seu exercício só deveria ter como critério de avaliação a melhoria das condições de vida dos súbditos. Sim, porque mais não somos que vassalos nas mãos em que nos entregamos. Quer porque escolhemos cegamente, quer porque não cuidámos de garantir que existiam contra-poderes que travassem os abusos naturais de quem o detém. O poder corrompe, o poder clama por mais poder, o poder alimenta a insensibilidade de quem o exerce. Do alto da montanha, no cimo da torre de comando que tudo controla, as casas que se vislumbram no fundo do vale são minúsculas, os habitantes que por lá se avistam confundem-se com insectos indefesos e quase imperceptíveis.
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Quarto 2170
Ninguém imaginava o bem que lhe sabia aquela bebida servida a si próprio a partir do mini-bar do hotel. Já não conseguia ver mais gente, a trovoada de vozes que aguentara todo o dia em infindáveis reuniões preparatórias, a quase desastrosa reunião final, a conclusão de um processo de seis meses que terminara numa pífia decisão salomónica, que nada resolveria mas que deixaria satisfeitos os de sempre, os que temem mudar e apenas procuram perpetuar o status quo. E a vaca da representante alemã que se recusara a negociar um milímetro que fosse do memorando final, que era tão flexível como uma barra de aço, que tinha tanto de sensual e irresistível como de teimosa e gélida rameira. Se a educação lhe exigisse mais um esmerado sorriso amarelo tinha a certeza que se esvairia num vómito infinito. Finalmente o mini-bar, mesmo sem gelo, mesmo que o whiskey fosse menos que razoável e definhasse naquela patética garrafinha de plástico encardido. Bebeu uma, bebeu duas, mais um vodka para atestar, lá diziam os Mão Morta. E o som surdo dos nós dos dedos de uma incómoda mão contra a porta que o despertou, que merda era aquela? Seria sonho ou seria o regresso do inferno? Levantou-se sob o peso de tanta raiva acumulada que temeu por quem lhe destruíra a paz momentânea, pelo ser que lhe dinamitara aquele oásis de silêncio no meio de um deserto de ruídos incessantes. Abriu a porta de rompante e viu-a entrar no quarto 2170, viu-a puxar minuciosamente a porta para si até àquele perfeito milímetro que não a deixa fechar mas que mantém a dúvida sobre se a vontade germânica era mantê-la entreaberta. Estacou sem reacção e recordou-se da frase solta pela glacial negociadora alemã, aquelas palavras banais e aparentemente inconsequentes que povoam os corredores do poder depois do estrago feito: “Não fique assim com esse ar aborrecido. Azar nos negócios, sorte no amor”.