Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
De regresso ao reino dos comuns, José?
Os lugares comuns no futebol são tão comuns que até Mourinho, cada vez mais próximo de um treinador comum em oposição ao especial, abusa crescentemente dos mesmos. Destaca os erros que conduziram aos golos mas oculta as razões profundas desses erros. Os erros, não fossem esses malandros, e o Chelsea fazia a exibição quase perfeita, segundo José, the ex-special one. Um central banal, um central excelente mas ainda verde, um defesa direito em trajectória abruptamente descendente. Hazard, ontem a promessa de melhor do mundo, hoje a começar no banco. Esses são os erros, José, é tudo tão simples que mascarar isso com dois evitáveis erros de jogo conduz-te de regresso ao reino dos comuns. Vê lá isso, José, temos saudades tuas.
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Café da manhã - Be afraid, be very afraid
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Hold your horses, Bruno
Pergunta-me um amigo vermelhusco, todo inchado e divertidamente provocador, “Então, hoje não há resumo da jornada no Bolas?”. Por acaso foi por falta de tempo, mas apetecia-me dizer-lhe que não há conversa sobre bolas no Bolas, porque cada vez mais o mundo do que devia ser redondo e simples é cada vez mais quadrado e complicado. As bolas que entram deixam de entrar sem que ninguém perceba bem a razão, tal como as mãos que afastam as bolas da baliza se tornam invisíveis para gente de apito célere e de tons vermelhuscos. Depois, porque os males não vêm só de fora, irrita-me que nos arrisquemos a não ganhar o campeonato menos difícil dos últimos anos porque pusemos o nosso saca-rolhas de defesas fechadas a ferrolho no congelador de produtos importados do Perú. Para dourar a pílula, Bruno de Carvalho, o nosso intrépido presidente, perdeu o norte e dispara agora em todas as direcções, contra inimigos reais e contra moinhos de vento. Se a existência de inimigos bem identificados tem o condão de aglutinar em torno de si os sócios e adeptos leoninos, já a consideração de que tudo o que nos é exterior é hostil não me parece o melhor caminho. Veja lá isso, Presidente, mais foco nas coisas da bola e menos triangulações no escorregadio mundo fora das quatro linhas.
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Café da manhã - a bombar
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Café da manhã - Gosto de gente assim
Gosto de gente que só começa a funcionar decentemente após engolir uma chávena de café. Gosto de ver pessoas a mudar a expressão quando bebem o café, a emprestar um pouco de solenidade ao acto, como se aquele estivesse muito perto de ser o momento mais importante da manhã. Gosto de gente mal humorada porque ainda não bebeu o seu café. Gosto de gente com vícios bons a cheirar a café da manhã.
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O Paulinho é que a sabe toda
Paulo Futre contou a história, António Boronha “colou-a” e bem, por terras do Facebook, ao caso Carrillo. A análise é simples e inatacável, a solução ainda mais simples e com fortes possibilidades de sucesso. Concordo com tudo. Há que fechar este assunto de forma limpa e rápida, esquecer Carrillo para a equipa B ou para o estatuto de eterno “não convocado”, tentar que isto não contamine o balneário e, como dizem os nossos irmãos transatlânticos, partir para outra! Vamos nessa, pessoal! Fiquem com a análise e a proposta do grande Boronha:
“Paulo Futre recordava há dias, em escrito no 'Record', o 'teste da caneta,' algo que ele tinha provado com sucesso, em tempos, no 'Atlético de Madrid'. Pois bem. A crer no que diz 'A Bola', Bruno de Carvalho resolveu aplicar o 'teste da caneta' a André Carrilho e, este, claramente reprovou: ter-se-á recusado a inscrever uma quantia pela qual renovaria com o Sporting. É óbvio, portanto, que o peruano tem um vínculo já assinado com outro clube – que até poderá não ser português, é a minha convicção – o qual incluirá uma pesada cláusula indemnizatória se este resolver voltar com a palavra atrás. Assim sendo, o clube de Alvalade só tem dois caminhos:
1) Esquecer André carrilho, e;
2) Apostar nessa pérola com passaporte português – vale 3 ou 4 “Carrilhos”!...que responde pelo nome de Gelson Martins!”
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Café da manhã - Fifty shades of Grey
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O que faz falta
“O que faz falta é animar a malta” cantava o maior de todos, Zeca Afonso, a plenos pulmões. A cantiga era política mas faz igualmente sentido para a vida que levamos, para os dias que se atropelam como se a meta fosse apenas chegar ao fim, vivos ou mortos, tristes ou contentes. Olho para os meus filhos e para as obrigações, compromissos e actividades que lhes começam a recair sobre os ombros e temo que este caminho sem sentido esteja a surgir ainda mais cedo na sua vida do que ocorreu com os pais. Esforço-me por que eles sintam prazer em tudo o que fazem, porque aprender é divertido e útil, porque o desporto é uma maravilha, mas a falta de horas para brincarem é inegável. O que faz falta é brincarmos mais mas optamos por passar o tempo a tapar os buracos de tempo que temos para brincarmos livremente, quer porque queremos saber mais, trabalhar mais, ganhar mais ou lá o raio que o parta mais. O que faz falta é acordar a malta, também dizia o grande Zeca, na sua eterna sabedoria.
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Café da manhã - não perder a calma, não dar o corpo pela alma
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O efeito Carrillo (Sporting 1 - Nacional da Madeira 0)
Regredindo face ao que foi o início da época, o Sporting exibiu-se em Moscovo muito abaixo do que nos habituou, tendo confirmado ontem, frente ao Nacional da Madeira, que a curva exibicional tende mais para o descendente do que para o ascendente. Como exemplos paradigmáticos dessa preocupante oscilação, aponto o caso de Jefferson, que falhou quase sempre naquilo que melhor faz – os cruzamentos venenosos -, no que foi acompanhado na perfeição por Slimani, rei dos cabeceamentos, que insistiu em fazer festinhas à bola com a testa nas oportunidades que teve para fazer chocalhar as redes. O que mudou nestes dois últimos jogos? Sim, é inevitável falar nisso e fazer essa associação – o caso Carrillo. Se alguém tem dúvidas que este imbróglio pode deitar uma época a perder, aqui ficam 3 razões que justificam que isso seja uma possibilidade:
- O efeito directo da ausência de Carrillo na equipa – É o nosso melhor extremo, tem fantasia, remate, capacidade de assistir e cruzar, interpreta quase na perfeição o estilo de jogo que Jesus implementou de trocar entre a linha e o meio do terreno para confundir as defesas adversárias e dar dinamismo ao ataque do Sporting. Gelson é uma grande promessa, mas é ainda um menino com futebol de rua, com todas as vantagens e desvantagens que isso apresenta (JJ diz que Gelson está ainda a aprender a jogar com os colegas – mas para que serviram estes anos de formação e os 40 jogos o ano passado na equipa B???).
- O efeito “estão a maltratar um dos nossos” – Carrillo era um jogador querido no seio da equipa. Os laços de amizade criam solidariedade, quando um é atacado os amigos tendem a juntar-se em seu redor. A falta de intensidade e concentração de alguns jogadores nos últimos dois jogos, não poderá ser explicada por isso?
- O efeito “se o fazem com ele hoje, amanhã fazem-no comigo” – Um jogador que esteja perto de terminar o contrato vai sentir sempre esta pressão, este receio de passar pelo mesmo. Percebem que as dúvidas sobre o nosso futuro são uma fonte de perturbação importante?
Não vou entrar em juízos éticos sobre esta situação, até porque ninguém conhece ao certo todos os contornos da mesma. Concordo que um jogador tenha o direito de definir o seu futuro, mas também defendo que um jogador que foi tão valorizado pelo clube deve saber agir de forma a que o clube seja recompensado por esse investimento e valorização. Diz-se que Carrillo já tinha dito o sim e, sem sabermos porquê, voltou com a palavra atrás. Aqui sim, entramos no campo da ética e do cuidado para não ceder a chantagens de empresários, de clubes abutres e outros que tais. Não tenho a chave para a solução desta caso na mão, quem tem de a ter é a Direcção do Sporting, sob pena de este ciclo negativo se vir a agravar. Vejam lá isso, Bruno e companhia.