Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Barro
Dos maiores mistérios que a vida encerra destaca-se a incerteza da bússola que nos orienta. Hoje escolhemos um caminho, estamos certos de que é por aí que seguiremos. Amanhã, após uma fria noite de nevoeiro, a certeza estilhaça-se na inevitabilidade da nossa frágil condição humana. À medida que os anos avançam vou sendo mais condescendente com as contradições dos meus pares, com as piruetas das suas ontem irrevogáveis decisões. Somos branco hoje porque amanhã seremos negro, sorrimos pela manhã para de noite nos afogarmos em lágrimas. Quem jura que dessa água não beberá não se conhece verdadeiramente. Somos barro que ciclicamente se molda noutra forma, somos lava incandescente hoje líquida e amanhã incrustada na montanha das nossas incertezas. Saibamos viver com isso.
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Sporting 3 - Académica 2
Creio que já todos os sportinguistas perceberam que ganhar este campeonato será a maior prova de força possível e imaginária. Bruno de Carvalho abriu muitas portas bolorentas que ninguém se atrevia a mexer, comprou demasiadas guerras ao mesmo tempo. Os poderes instalados não gostam e lançam mão a todos os meios para nos derrotar. Contudo, os jogadores acreditam, o público apoia sem reservas e de coração aberto, sem medo do árbitro e dos tristes donos da bola entrincheirados por trás de cinzentas secretárias. Estamos convosco rapazes, sempre!
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É EVIDENTE!
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Não matem a nossa paixão
É este o futebol que eu gosto, por quem me apaixonei, que me fez feliz em criança, em jovem imberbe e que ainda hoje mexe comigo. Livre, sem grilhetas, jogado em qualquer lado, a qualquer hora, com os amigos, contra aqueles que imaginamos serem os nossos inimigos, os nossos moinhos de vento que temos que derrubar. Prefiro estas guerras a outras - se o combate faz parte da natureza humana, que nos dediquemos a este e não a outros bem mais letais. Golos que não entravam, canelada que fervia, empurrões e cabeçadas à Cais Sodré, foi tudo isso que fez dos putos de um bairro dos Olivais homens mais preparados para enfrentar o mundo. Obviamente que no futebol profissional as regras são mais apertadas, não está em causa isso. Mas no dia em que no calor do jogo um corte fora de tempo, um braço que bate na cara de um adversário na tentativa de ganhar posição ou a bola, são usados para castigar um dos artistas da relva, é o dia em que o futebol deixa de ser um jogo entre homens apaixonados e passa a ser um torneio entre autómatos acorrentados às regras dos burocratas da bola. Slimani deu com o braço na cara de Samaris sim, enquanto lutava pela posição, como o Eliseu arreou num adversário e outros casos que tais que ocorreram naquele Benfica vs Sporting, tudo enquanto os jogadores lutavam sofregamente pela bola, pela vitória. Querem castigar só um lado, excluir o jogador mais decisivo do Sporting por vários jogos e assim decidir o campeonato por baixo da mesa, nos jogos de secretaria e das interpretações discricionárias de leis que hoje ditam uma coisa e amanhã outra? Façam o favor, matem a galinha dos ovos de ouro, exterminem a nossa paixão, aniquilem o futebol.
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A falta que me faz o tempo em que o tempo não me fazia falta
Nota para memória futura: convencer os meus filhos daqui a uns aninhos, inicialmente com argumentos lógicos e facilmente assimiláveis por jovens imberbes e inconscientes, depois, se necessário, com gritos desesperados e lancinantes embrulhados em chantagens tonitruantes (tudo a vosso bem, meus queridos rapazes) que a melhor forma de preencher os tempos mortos em que passam o tempo a martirizar-se com as grandes angústias da adolescência ou a carpir mágoas pelos amores correspondidos e pelos desamores (*#)odidos, é ler, ler sem parar, encher a cabeça de histórias, ideias, de combustível para o cérebro e para a acção bem fundamentada. Não quero que cheguem à vetusta idade do vosso pobre pai com a triste convicção de que ficaram tantos livros por ler, não por falta de tempo mas por completa estupidez no preenchimento dos vazios de tempo que deixou escorrer por entre os dedos. Isto não é por mal, rapazes, é só porque gosto de vocês acima de tudo. Vejam lá isso.
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A sentinela
Não há paz que sempre dure não há agitação que nunca acabe. Por mais que busquemos a calma a nossa natureza encontrará forma de nos devolver à tormenta dos mares revoltos. Mesmo nos casos em que a nossa própria natureza se acomoda melhor na almofada da quietude há sempre alguém que embirrará com essa modorra irritante e nos lançará na mesa do jogo da vida, como um par de dados descontrolados. É a lei da vida, é a lei das gentes. Se tal não fosse o mundo seria um mar morto e para mortes já nos resta aquela que nos aguarda a todos, a derradeira sentinela da vida que nos questionará sobre o que andámos para aqui a fazer. Nesse momento, mais vale ter algo a reportar do que morrer mudos e entediados. Vejam lá isso.
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Obrigado Miguel!
Tenho uma admiração ancestral e irracional pelo Miguel Esteves Cardoso. Ancestral porque comecei a ler a sério com o que ele escrevia pelo “Independente”, crónicas, e até alguns livros. Irracional porque o Miguel me irrita profundamente, pois por mais genialidade que encontre em alguns dos seus textos (e nos últimos tempos o seu génio revela-se na simplicidade do que escreve e nos oferece) nunca deixo de pensar que o Miguel podia ir ainda mais longe, mais fundo, dar-nos mais, dar-nos ainda mais diferente e mais brilhante, revelar-nos o que raros pensadores conseguem – colocar-nos diante dos olhos e no cerne do nosso ser pensante aquilo que realmente nos abana e mexe connosco. Neste texto de há uns dias, o Miguel, procurando oferecer um miminho às suas duas filhas aniversariantes, explica-nos sem nos explicar, em poucas palavras, o mistério maravilhoso que é ser pai e o mistério não menos maravilhoso, mas envolto em dualidades que insistimos em esquecer (porque agora somos sobretudo pais) do que é ser filho. Obrigado Miguel, desta vez chegaste lá, com uma simplicidade desarmante, sem rodriguinhos nem palavras a mais.
“Desde o dia em que nasceram amo incondicionalmente a Sara e a Tristana que hoje fazem anos.
Simplifica-se muito quando se diz que se amam os filhos mal se olha para eles. Assim o mérito parece todo dos pais: são eles que amam mesmo quando os bebés, oportunistas, apenas têm uma vaga ideia que precisam dos pais.
A verdade é muito mais bonita. A verdade é que os pais amam os filhos porque se apaixonam por eles porque os filhos fazem-se amar, tornando-se irresistíveis.
Os filhos desapaixonam-se dos pais. No princípio os pais são as únicas pessoas no mundo; depois são, brevemente, as melhores. Segue-se uma lenta desilusão que, com a adolescência, dói como um barrete de um bebé enfiado à força na cabeça de um vil guerrilheiro de treze anos.
Depois, se nos portarmos bem e tivermos sorte, lá se reconciliam a amar-nos, muito teoricamente, com muitos protestos e poucas demonstrações.
Já os pais, à medida que vão conhecendo as pessoas que são os filhos, tanto se podem apaixonar como desapaixonar-se. Depende dos filhos. A verdade da vida, quase nunca dita, é esta: a culpa é dos filhos.
Eu sou muito mais pai da Sara e da Tristana do que elas são minhas filhas. Não é tanto o substantivo como o pronome. E amo-as muito mais do que elas me amam - mas só porque é impossível amá-las menos. Pelas pessoas que são. Cada vez mais me apaixonam mais.
Embora elas também sejam - é preciso dizê-lo - as melhores filhas que algum pai de merda já teve.”
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Sporting vs Benfica: quem pode mais?
Após assistir à vitória clara do Benfica sobre o Arouca, com facilidade e uma boa dose de nota artística, questionei-me se o meu Sporting iria ter espírito de campeão para ultrapassar um adversário difícil num campo complicado. A resposta leonina foi próxima do brilhante. Alguns néscios quando olharam para as estatísticas da primeira parte perguntaram, ao perceberem que o Paços de Ferreira tinha zero remates contra 11 do Sporting, por onde andava a equipa pacense. O futebol é simples, uma equipa joga o que a outra deixa, e os jogadores leoninos foram enormes, corajosos, ostentaram um espírito de conquista que diz muito sobre o que poderá ser o resto da época. E objectivamente, quem tem melhor equipa para levar o caneco para casa no fim da época? Ora bem, comparemos sector por sector, tendo em conta os jogadores mais utilizados nas duas equipas: quanto a defesas laterais, creio ser unânime que João Pereira e Jefferson têm sido mais fiáveis defensivamente e produtivos a nível ofensivo dos que os jogadores utilizados nessas posições pelos encarnados. Já no centro da defesa, e sobretudo contando com Luisão, parece-me que o Benfica está um pouco mais bem servido, sobretudo no que respeita à experiência dos seus jogadores. No meio campo não me parece que apesar do bom rendimento de Renato Sanches e Pizzi o Benfica, com Samaris e Fejsa, tenha condições para produzir mais do que o que fazem no Sporting Adrien, William, Aquilani e, sobretudo, João Mário. Lá à frente tudo muito igual, apesar de estilos diferentes. Se Slimani é potência, Jonas é arte, se Gaitan é velocidade e arte, Ruiz é arte e ratice. Depois, para Jimenez e Mitroglou há Montero e Teo, e se entra Carcela parece-me que Gelson quando entra mexe mais com o jogo. Ligeira vantagem para o Sporting na comparação de sectores, algo que comprovadamente se tem estendido ao banco quando os dois treinadores entraram em confronto directo (JJ 3-xor Vitória 0). Assim, apesar da bola que bate na barra e do apito que não apita quando devia, tenho muita fé em vocês, meus leões! Em frente, rumo à glória final!
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Coisas boas que a idade e o cansaço trazem
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E quem se lixa é o mexilhão
Quando pensávamos que depois do debate televisivo entre os 9 candidatos a presidir este cantinho à beira mar plantado nada de pior poderia ensombrar tanto a nação, lembramo-nos que há 30 políticos com um papel muito relevante na nossa democracia que acham por bem ter subvenções vitalícias por terem trabalhado 12 anos, mesmo que ganhem mais de 2.000 euros. Votam favoravelmente os cortes de salários, de pensões e de apoios sociais do povinho, do desgraçado mexilhão, mas têm a pouca vergonha de pedir ao Tribunal Constitucional que não permita que lhes sejam retirados os seus privilégios, por mais injustificados e eticamente reprováveis que estes sejam. Tinha tanto para dizer sobre isto, mas para não prejudicar os níveis de tensão arterial fico-me por esta frase na mouche do jornalista Paulo Baldaia: “(…) parece impossível um Bloco Central para nos governar, mas ele nunca deixou de existir para se governarem”.