Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Summer body, winter face
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"Control", por Pawel Kuczynski
Não, não vou escrever sobre a febre dos Pokemons. Já escrevo sobre demasiadas parvoeiras, não vou alimentar mais esta doença de gente que parece cada vez mais doente, sem rumo, sem identidade, sem sentido do ridículo, sem capacidade de disfrutar a vida, a vida real. Depois das séries, dos joguinhos eletrónicos, da ditadura dos smartphones, da facebookodependência, de uma catadupa de ficções que parecem existir apenas para esvaziar a vida e o contacto humano, vem esta atrasadice mental da caça ao cabrão do Pikachu and friends. Não, não vou escrever mais sobre isto, a vida que dança nas palavras não merece que a assassine com este não tema.
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E a música do Verão é..."Atirem-me água fria!"
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Run baby, run (but please, leave your smartphone home)
Uma amiga, certamente inspirada pelo azul do mar, partilhou, no infinito azul do universo facebookiano, esta pequena pérola sobre a ambiguidade da natureza humana. Há reflexões que não se devem sujeitar a profundas análises, são elas próprias um exaustivo tratado sobre tudo o que há para analisar em nós e na nossa brilhante e absurda duplicidade. Disfrutem.
“Deturpando ligeiramente as palavras de Obélix: Estes humanos são loucos. Compramos CDs com o som das ondas para ouvir em casa, e vamos para a praia ouvir kizomba, pop e fado. Temos no ambiente de trabalho imagens de praias paradisíacas, e estamos nas praias paradisíacas a olhar para o monitor do tablet ou iPhone. Ansiamos por mais e mais "conexões" e não nos conectamos a nada nem ninguém.
Décadas se passaram e continuamos a cantar “Só estou bem onde não estou” e “I can´t get no satisfaction”. Podes mudar a playlist, sabes? (Mas, por favor, não a leves para a praia).
P.S. – Não fossemos nós seres contraditórios, seria estranho eu estar a escrever tudo isto no meu smartphone…em frente ao mar.”
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Summer shoes, winter dreams
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Staying out, dreaming to come in (summer dreams)
O calor sufocante cá fora. O calor irresistível lá dentro. A indecisão, o medo, a excitação de pisar o risco, a irresistível atracção do desconhecido, os preconceitos, o “estou-me a cagar para tudo eu quero é viver”. A canícula inclemente que turvava a decisão, as pernas que fraquejavam e o resto do corpo que ansiava outro corpo. O sol a queimar a chapa do carro e a incendiar o desejo. A lareira da luxúria a arder em lume nada brando. A certeza de que ao consumar do desejo se seguiria o inevitável arrependimento, minutos de prazer inigualável esmagados pelo inefável peso da culpa. Ele no banco de trás a sorrir como se nada daquilo que se passava dentro dela fosse da sua responsabilidade, como se aquele turbilhão que a agitava fossem meras minudências femininas. Esperava apenas, calma e passivamente, como se nunca tivesse duvidado para onde iria pender a balança. A confiante arrogância que lhe dançava nos lábios fazia com que o odiasse intensamente e, contudo, desejava mais do que nunca sugar-lhe os lábios até não mais sentir o sol, o frio, o medo, a excitação, nada, ansiava apenas desaparecer naquele momento, naquele beijo.
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A tempestade
Ribombam os trovões lá fora e revolvem-se as entranhas cá dentro. O céu de um cinzento violento confunde-se com o negro que abala a alma, o mar encrespado é irmão do sangue que corre turbulento nas veias doridas. A tempestade é a mãe de todas as mudanças. Sabe-se que as rochas que ontem brilhavam sobre o perfeito tapete de areia cederão perante os humores das vagas que chicotearão, impiedosamente, a desprotegida praia. Não se duvida que o ciclone de emoções que lhe atearam o sangue e lhe enregelaram o corpo não mais permitirão que volte a ser a mesma mulher inocente e de sorriso fácil. Não há mães perfeitas, nem todas as mudanças serão para melhor.
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O Verão é muito isto (ou devia ser)
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Da amizade e do vinho
Ontem foi dia de rever amigos de sempre, de convívio, de orgia gastronómico-vínica com um dos maiores sabedores de vinho do país. A desconfiança que já tinha de que os vinhos portugueses estão hoje por hoje num patamar de qualidade fantástico foi mais do que confirmada por provas inesquecíveis de néctares lusitanos. Apesar da paixão pelo que é nosso, tão único e brilhante, houve ainda espaço para provar alguns néctares dos finalistas derrotados do Euro 2016 e até para beber uma bela pomada proveniente da China. Os pratos que acompanharam o repasto proporcionaram ligações harmoniosas e inesquecíveis, mas o fio condutor de toda esta experiência única, que dá sentido a tudo e que tornará este repasto eterno nas nossas memórias é a amizade sem limites, imune a distâncias longínquas e a tudo o mais. Obrigado amigo B., volta sempre que cá estaremos para te acompanhar nestes penosos trabalhos que carregas sobre os ombros!
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Always the sun
Chega de bola e regressemos ao Verão. Epá, espera aí, onde está o sol, o mar e os corpos esculturais? É verdade, é uma triste realidade que assola uma parcela deserdada da humanidade. Diz que há quem passe o Verão longe do mar, quem não busque a espuma dos oceanos, quem despreze a sensação única da areia molhada. Há quem diga que é uma bênção existirem gostos para tudo, até porque em caso contrário a nossa costa tombaria, com o peso de tanta procura, para o fundo do mar. Concordo, meus amigos, o prazer do Verão pode estar no fumo de um cigarro que nos aquece por entre dois golos de cerveja choca. Os corpos negligenciados e pouco dados a músculos luzidios e tezes bronzeadas são também filhos de Deus e têm direito à vida, mesmo que escondidos do sol e alérgicos ao astro rei e ao sal do oceano. Quantos Verões não haverá por aí envergonhados, orgulhosamente encabulados e sequiosos de vulgaridade, de calma excessiva, alheios à agitação que dizem ser a mãe de todos os Verões? Uma cerveja choca sabe pior que uma cintilante caipirinha sob a inclemência do sol à beira-mar? A vida com menos brilho e com a pele translúcida tem uma cotação inferior no mercado da felicidade? Quantos sorrisos amarelos se escondem espraiados em toalhas garridas sobre a areia? Quantos pensamentos mórbidos se enterram em cada mergulho refrescante? Este é o tipo de reflexão de quem já se estendeu demasiadas horas ao sol ou, por outro lado, de quem sofre de gravíssima síndrome de ausência de horas ininterruptas exposto à canícula da grande bola de fogo.