Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
E o verão, que insiste em ficar por cá?
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8 ou 80
arte por Edward Hopper
Olhamos com tanta leveza que nos arriscamos a nunca apreender o que nos é dado a conhecer, como se tudo o que nos é exterior fosse um mero detalhe, um pormenor irrelevante - porque não imanente - um corpo e uma realidade estranha ao que verdadeiramente nos interessa, aborrece e fascina: nós. Quando percebemos o erro entregamo-nos na observação aprofundada de tudo o que nos rodeia, maravilhados, diluídos em tudo o que nos é estranho, esquecendo-nos de fundir a nós próprios no que olhamos, esquecendo-nos de nós, capturando a felicidade e a realização ansiosamente perseguidas longe, bem longe de quem realmente somos. O oito e o oitenta do ser humano são o perfeito precipício para a sua queda sem retorno.
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Pequenos grandes conselhos para dias e vidas melhores
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De regresso a Lobo Antunes
Há cerca de 20 anos andei a bater com a cabeça na parede do estilo brilhante, irritante, inexpugnável, desconcertante e peneirento do António Lobo Antunes. Frustrado por um elaborado requinte que não se encaixava na minha forma de ver a literatura e a vida que Lobo Antunes insistia em encaixar nas suas filigranas de palavras, votei ao degredo a obra desse génio controverso. Há uns dias peguei no "Os cus de Judas", respirei fundo e auto motivei-me para dar uma nova oportunidade a essa minha frustração da velha juventude. Logo nas primeiras páginas percebi o que tanto me irritara há 20 anos e não soubera perceber: Lobo Antunes é infinitamente genial, na forma como tece as palavras e ideias de forma tão perfeita, tão única, tão superior a todos os estilos palavrosos que conhecemos, mas é-o de forma arrebatadora e insistentemente excessiva, que não nos deixa respirar, que não deixa a história que magnificamente descreve evoluir com naturalidade. Toda a grandeza da escrita de Lobo Antunes soaria muito melhor se o autor se distraísse um pouco da sua genialidade, se não dedicasse 90% das páginas a mostrar-nos o quão genial é. Tudo o que é demais enjoa, é bem verdade, o que não invalida a genialidade do escritor. Com tempo e paciência irei em próximos posts polvilhar este espaço com pérolas de "Os cus de Judas", com os diamantes perfeitos e demasiadamente lapidados do mestre Antunes.
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Ai o calor, o calor...
Dizem que o calor se foi, vem aí o frio das caras tristes e das janelas fechadas, como se o calendário não se contivesse em molestar-nos com dias sem cor, semanas sem cheiro e meses dolentes, que pedem lareira e recato. Há quem julgue que assim é, que o calor vem do sol e do céu, que a fonte calorífera das nossas vidas está para lá de nós e do nosso controlo. Novidades, minhas senhoras e meus senhores, tenho boas e frescas novidades para vós: o calor está em nós, somos nós o vulcão das nossas vidas!
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O tempo do fim do tempo
Arte por Jean-Yves Lemoigne
Por mais que procuremos fugir dele sabemos que nunca deixará de nos encontrar, que a nossa derrota pertence ao mundo das certezas inabaláveis. Sabemos que o seu invisível peso é esmagador, que a incerteza com que se entretém em desenhar o nosso último segundo é a chave para a masmorra onde aprisionou esse poder silencioso. A ampulheta dos nossos sonhos desistiu de abraçar em desespero os venenosos ponteiros, os guardiões da sua caixa negra. O fim do tempo é meramente o fim da boleia que o tempo nos dá, novos viajantes se seguirão, as angústias que os aguardam são inúteis mas inevitáveis como o tempo que se esgota.
Tic tac tic tac.
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Histórias da Carochinha
É um fenómeno a que assisto com um misto de estupefacção e incredulidade este de testemunhar a estupefacção e incredulidade de tanta boa gente surpreendida, magoada, desiludida, descrente na felicidade humana e na vitória do verdadeiro amor, sempre que há o desquite de um casal famoso que estava junto há mais de meia dúzia de anos. Sejamos curtos e grossos, tenhamos dois dedos de testa: quantos casais com os bolsos recheados de milhões viveram felizes para sempre (não vale casamentos de fachada), sem facadas consecutivas na prometida fidelidade, sem segredos inconfessáveis, sem desvios desviantes da estrada da harmonia conjugal? O dinheiro traz tentações, a tentação pulsa debaixo da pele, a natureza humana lida mal com a obrigação moral de se permanecer sentado num banquinho no centro de um infindável parque de diversões. A Angelina não é uma santa e o Brad tem pinta de tudo menos de menino de coro, mas o sonho do amor-perfeito vive nas cabecinhas e corações de tanto espectador sequioso de finais felizes. Não há histórias com finais felizes, minhas amigas e meus amigos, há apenas histórias que ainda não acabaram.
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Da difícil arte de como morrer feliz
O mar, a beleza de uma mulher, uma paisagem de cortar a respiração. Nada mais nem nada menos, isto tudo e só isto. Despidos de civilização, entregues à essência e pureza das coisas. Um sonho.
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Moss, Kate Moss
Começar a semana e não ter muito o que dizer. Porque o tempo escasseia, porque a cabeça está cansada e pouco inspirada. Felizmente, há sempre algo que nos relembra que a vida pode ser muito mais do que o agora, o que se sente neste exacto momento, sobre a impotência perante a falta de imaginação. Felizmente haverá sempre a Kate Moss.