Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Apenas sorrir
O seu sorriso era quase indistinto, dir-se-ia que sorria mais com a alma do que com os lábios que Deus, a natureza, ou uma mão cheia de genes perfeitos lhe desenharam no rosto. Ele, porque a conhecia tão melhor do que ela acreditava ser possível, não se conteve em perguntar-lhe porque sorria. “Nada de especial, meu querido, é aquela sensação de quando penso em ti, de que gosto de ti. Faz-me sorrir”. Dificilmente algo poderia ser tão mais especial do que isso, e ele sorriu por ela o ter dito sem se aperceber do quanto o fazia sorrir por dentro.
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Onde há beleza
O tempo continua escasso e a inspiração perde-se nos meandros da burrocracia, das urgências sem sentido, da forma de viver e trabalhar que assola e contamina o tão melhor que este país podia ser. Não obstante, todavia, contudo (adoro isto, não sei porquê mas adoro isto) a beleza continua disseminada por cada metro quadrado, por cada punhado de areia que cobre esta terra mítica. Vejamos a beleza, foquemos os nossos olhos no que realmente interessa.
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Curiosity killed the cat
Fotografia por Igor Koshelev
Sim, chegou aquela fase em que não há tempo para grandes dissertações, asserções e outras ões que tais aqui pela tasca, pelo que há o risco iminente da coisa dar para a parvoíce. O conteúdo da imagem acima é tonto, não parece fazer de todo sentido. Contudo, a estética de uma estranha e quase bucólica cena do quotidiano familiar destes dois jovens tem algo de fascinante. O homem ocupa o tradicional papel da mulher (a preocupação com as coisas práticas da vida) e a mulher tomou de assalto as preocupações, senão mais existenciais, pelo menos mais prazeirosas do mundo terreno. Quer dizer, se o resultado da refeição for supimpa e o que se adivinha que resulte da curiosidade da mulher for desastroso poderá o prazer encontrar-se entre as papilas gustativas e não mais abaixo, onde dizem que reside o Santo Graal da existência. If you know what I mean.
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Saudades da televisão dos tempos dos índios e cowboys
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Sporting 1 - Tondela 1
Não temos Slimani, João Mário e agora Adrien, mas temos um Jesus que se considera Deus mas que não faz milagres. Temos também o foco em tudo o que não interessa (fixação com o velho rival, como se percebe com esta parvoíce de um Évora na fase descendente da carreira; vouchers; comunicados; queixas de arbitragem; etc.) esquecendo o que realmente interessa: nós, a nossa equipa, o nosso futebol, as nossas gritantes lacunas apesar de tantas contratações. André, Zeegelar, Elias, um irreconhecível Bryan, estes são os nossos problemas, tudo o resto é conversa para boi dormir e para distrair os sócios e adeptos da triste realidade: estamos hoje mais longe do que há um ano dos títulos que tanto ansiamos e por que a nossa história clama. Vejam lá isso, mister Jesus e, sobretudo, presidente Bruno de Carvalho.
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Perspectivas, excessos de importância e perfeitas irrelevâncias
Cada dilema, cada momento, cada experiência sensorial que a vida nos oferece tem a importância que escolhemos atribuir-lhe. Uma contrariedade pode ser encarada como o fim do mundo, uma perfeita desculpa para que o nosso dia, uma dada hora do mesmo, ou até a própria vida que julgamos afetada por essa desventura possa ser considerada inapelavelmente hipotecada. A perspectiva com que olhamos e enfrentamos os problemas e as vicissitudes da vida é tudo. A capacidade de rir perante a adversidade, de percepcionar que todos os obstáculos que se nos deparam são uma anedota quando relativizados perante os males do mundo são as melhoras armas, são o que devíamos ser. Devíamos ser o sorriso de quem se sabe um singelo grão de areia, uma agulha no palheiro que se ri por não se importar de estar perdida no palheiro. Tudo é tão importante como sabermos retirar-nos a importância que a vida parece exigir que nos atribuamos a nós próprios, por entre os néons das imponentes lojas das avenidas principais, das palavras grandiloquentes e opacas, dos grandes feitos ocos de vontade. Isto não tem importância nenhuma mas é dito com vontade e isso, não valendo muito, já é alguma coisa.
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With love, to Mr. Trump!
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Da arte de bem receber
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Sporting 1 - Borussia Dortmund 2
A chave que resume o jogo de ontem é para mim muito simples: Aubameyang (não, não vou confirmar se está bem escrito) e Adrien. O primeiro porque esteve em campo, com o seu excesso de velocidade e genialidade, o outro porque esteve ausente, tirando à equipa intensidade, coragem, capacidade de luta e de omnipresença. Depois a cultura futebolística germânica, assente na verticalidade, na luta por todas as bolas, na técnica que não é feita de rodriguinhos (técnica de remate, de recepção e de passse). No Sporting dois defesas laterais muito fracos, um Ruben Semedo vindo de uma lesão contra o mais rápido avançado do pedaço (sim, o tal do nome estranho), que não souberam acompanhar um fantástico Gelson e um senhorial William Carvalho. Quanto a este último deixem-me que vos diga que gosto muito de gostar dele. Porque só gosta do William quem de facto sabe apreciar a classe de um jogador refinado, que parecendo lento faz tudo à velocidade da luz do seu pensamento, os passes, as simulações que não precisam de ser supersónicas para tirar dois tipos do seu caminho, o posicionamento para recepção de bola, o sorriso quando falha um golo feito. Perdemos porque eles são alemães e nós não somos 5 Gelsons e 6 Sir Williams. E pronto, é o que se me oferece dizer sobre mais uma quase vitória moral.
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À atenção dos fanáticos do queixume
O que parece duro e intransponível para mim pode ser ridiculamente acessível para gente de carapaça coriácea e superior resistência à adversidade e à dor. Uma vida miserável nas mãos de uma alma sensível pode ser a vida que tem que ser e é mesmo assim nos ombros de almas tenazes e pouco dadas a queixumes. A arte da relativização poderia ser a chave para não nos vermos tão desgraçadamente prejudicados pelo destino, mas para interpretarmos o rolar dos dados como uma oportunidade para fazer do que temos entre mãos o melhor possível. Não é necessário ligarmos a caixa mágica para nos compararmos com a fome em África ou com o desespero indescritível de mães e filhos na Síria. Basta olhar por cima do ombro para nos cobrirmos de vergonha por um miserável queixume que libertemos, um queixume de enfado pelas nossas vidas privilegiadas mas tão mal aproveitadas. Vejam lá isso, gente boa.