Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A nossa Sara - muito mais que um corpo
"She’s a mess of gorgeous chaos and you can see it in her eyes."
Por Charles Bukowski
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Entretanto, por terras de Torres Vedras...
Tinha aqui mais uma resma de imagens divertidas com carros alegóricos carnavalescos, por terras germânicas e até por territórios do Oriente, mas depois de uma tarde a mostrar ao puto o desfile de matrafonas e afins no Carnaval de Torres Vedras, sou rapaz para fechar este tema por mais 10 anos. Os putos acharam piada, já não morrem parvos, e eu já cumpri a missão de pai que não esconde nada aos petizes e que como prémio não vai ter de voltar a um desfile de Carnaval nos próximos 10 anos. Sou apologista de que devemos mostrar tudo às crianças, pelo menos uma vez, mas tudo o que é demais enjoa e acredito que há eventos e culturais e sociológicos que a rapaziada irá gostar muito mais. A encimar o texto está o pequeno Miguel espantado com os seios robustos de uma senhora com barba a mais para ser senhora, cá por baixo está o melhor carro do desfile bem acompanhado pelo clássico cinzentismo interior e exterior de quem sai à rua para participar no lusitano entrudo e um grupo de senhoras que não deixaram a pobre criança dormir na santa paz do Senhor. Até daqui a 10 anos!
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Entretanto, pelo reino da Dinamarca...
Considerando que os tempos carnavalescos que vivemos não convidam a profundas reflexões sobre o sentido da vida ou a ausência desse mesmo sentido, que a conjuntura da suposta e tantas vezes forçada alegria do Entrudo não é a mais propícia para esmiuçar o propalado declínio do império americano, é chegado o momento de vilipendiar quem - como eu - afirma convicta e inabalavelmente que nós aqui pela tugalândia somos uns tolos por andarmos a sambar ao frio e à chuva. Com esse propósito, aqui fica um cheirinho do Carnaval na Dinamarca, onde o calor é abrasador e os corpos clamam por se livrar de tecidos incómodos. Podendo não ser do agrado de todos, diria que me parece importante que, não havendo a perfeição, cada um crie o seu momento/espaço perfeito com o que há. Tira o pé do chão!
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Tuga Carnival
É inevitável. O Carnaval está a chegar e boa parte do país prepara-se para ir para a rua fazer por se divertir. Sim, fazer por. Boa parte dos portugueses não são fadados para a folia porque o fado e a saudade não rimam com serpentinas e bisnagadelas. O frio e a chuva não os afugentam, por mais inclementes que sejam. Aliás, essas contrariedades devolvem-nos ao adorado carpir de mágoas, convidam-nos a vociferar contra a divina providência, S. Pedro, os azares da vida, contra todas as maldições com que os elementos os atormentam. Felizmente o álcool ajudará alguns a entrar na folia, o contágio empurrará outros para o meio do corso e o carpir de mágoas será ele próprio uma idiossincrasia lusitana do Carnaval cá do burgo. Sambemos por entre as gotas gordas da chuva e as pernas gordas das nossas varinas, amigos, vamos à festa!
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No palco dos sonhos
- Esta noite sonhei que estávamos numa peça de teatro. Fugimos da realidade e no palco, expostos a tudo e a todos, vivemos finalmente o sonho sempre adiado.
- Sonha meu querido. É para isso que serve a arte.
- Não minha sereia, a arte serve para criarmos o sonho perfeito. É a vida que o realiza, em todas as suas imperfeições.
- És um poeta.
- Diante de ti sou muito mais do que sou.
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Cuidado com os bombons!
Há décadas que não ligo ao dia dos namorados. Há muitos, muitos anos, era eu um jovem em fuga da adolescência borbulhenta, recordo-me vagamente de ter oferecido uma caixa de bombons a uma namorada, nessa data especulativa e comemorativa e, nesse próprio dia, nos termos chateado e terminado tudo. Zangado e guloso, guloso e zangado, fechei a coisa em beleza perguntando se ela sempre ia comer os chocolates…não levem as mãos à cabeça, minhas amigas, isso não foi vingança ou maldade pura, foi só porque não gosto de desperdiçar comida. Deixando para trás esse episódio surreal que ardentemente desejo que seja uma traição da memória, que nos pega partidas tramadas, queria apenas dizer aos namorados, aos solteiros, aos divorciados e viúvos, do sexo feminino e masculino, sem distinção de raças, credos e opções sexuais, à população em geral, que a felicidade pode estar em todo o lado e em lado nenhum mas, se não a tivermos dentro de nós, dificilmente a encontraremos fora de nós e dentro de outros pombinhos ou pombinhas. Vejam lá isso e não gastem dinheiro em bombons, dizem que pode dar mau resultado.
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"Caminharemos de olhos deslumbrados", por Ary dos Santos
Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.
Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.
No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.
Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!
Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.
Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.
Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.
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A vida em full HD
As ruas estão hoje mais vazias. Não falo das ruas da moda, onde se encontram as lojas do momento e os bares que estão na berra, falo das ruas onde antes se brincava ou simplesmente se passeava, sem intuitos consumistas ou de ver e ser visto. As ruas onde simplesmente se andava, para sentir o sol na cara ou o vento frio que nos faz sentir vivos. Os cinemas estão mais vazios ou fecharam. Está tudo online. As televisões, por entre as suas centenas de canais albergam tudo o que possamos querer ver e até o que nem sequer sonhamos que existe. Este facilitismo, este novo mundo à distância de um clic ou de um touch corrói gradualmente a vontade de sair de casa. É fácil adaptarmo-nos ao comodismo. Compramos televisões maiores, tablets mais rápidos e com uma qualidade de imagem acima da que a realidade nos fornece, uma poltrona que faz de sofá e se necessário até nos massaja as costas e entregamo-nos ao conforto das quatro paredes aquecidas e das luzes ininterruptas que nos afagam as meninges. O cheiro da relva e os risos das crianças a subir às árvores guardamo-los na memória. Com sorte, a próxima série é sobre essas memórias e em full HD.
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No pressure
Sem tempo para passar do Palhinha para o Trump, para postar umas miúdas giras ou para perorar sobre a salvação da nação, recordo esta fotografia perdida tirada algures em Faro. Precisamos de novos homens, de renovadas motivações, de sermos mais sapiens numas coisas e mais animais noutras, bem como o vice versa da predominância da racionalidade sobre a animalidade. Menos sexo e mais amor, menos cérebro e mais instinto, mais equilíbrio sem esquecer a importância dos desiquilíbrios. É mais ou menos isto, hoje, amanhã logo se vê. No pressure.
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A culpa é do Palhinha (shame on you, JJ)
Soares é fixe e Palhinha foi ainda mais, pelo menos na perspectiva das gentes do Norte. O remate do Adrien à barra pode ser considerado azar, mas eu diria que azar é ter um lateral débil como o Zeegelar e ter que substituí-lo pelo esforçado mas insuficiente Esgaio. Casillas fez talvez a defesa do ano, o que aliado aos dois golos do estreante Soares só ajuda a vincar que continuamos a ser os campeões do azar. No fim Jorge Jesus diz que Casillas ganhou o jogo e que o Palhinha o perdeu. Eu digo que o Jorge pode ser um ganda treinador mas como pessoa não vale peaners.