Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A janela com vista para dentro de nós
Não mais se esquecera daquela imagem. O recorte das suas delicadas formas na penumbra da janela escancarada mas sem vista, debruçada sobre o frio cortante do beco de mais uma cinzenta manhã. O frio ignorara-o, pois passeava no corpo e na alma o fogo de uma noite de paixão. A vista de horizontes sem fim, de prados verdejantes e do esplendoroso sol tinha-a dentro de si, como dentro de si tinha as memórias que eram dele e para sempre dela, tudo o que de inesquecível a vida lhes legara.
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E só para distrair do triste busto do Cristiano Ronaldo...
...aqui fica a Stephanie Seymour para nos devolver a beleza e o bom gosto, pela já conhecida lente do Antoine Verglas.
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O menino pobre de olhos tristes com nome de aeroporto
Por vezes pensamos em escrever sobre um assunto e surge alguém que se antecipa à nossa intenção (das boas está o inferno cheio). Foi o caso deste texto sobre o nosso Cristiano Ronaldo, a tola polémica sobre a atribuição do seu nome ao aeroporto da Madeira e, essencialmente, sobre a incapacidade tão lusitana de reconhecer o mérito a quem realmente o tem, quando as sombras da inveja e dos preconceitos bacocos toldam o raciocínio. A jornalista Helena Ferro de Gouveia partilhou pelo facebook este texto indubitavelmente lamechas, mas tão, tão verdadeiro.
“Não entendo o snobismo dos que acham que CR7 não é nome para aeroporto. Poucos portugueses terão levado o nome do país mais longe do que ele. Mesmo nos cantos mais inóspitos do mundo como os campos de refugiados há meninos a sonhar com o futebolista. Retomo aqui um texto que escrevi por altura da Copa:
Sabem porque admiro o Cristiano Ronaldo? Não é por ser apenas o Apolo musculado de abdominais perfeitos ou pela sua forma poética de jogar. Mas porque vejo no fundo dos olhos do futebolista o menino pobre, que saiu da Madeira aos dez anos, perseguindo um sonho e cumprindo um talento, com muito trabalho e muitas lágrimas. Esse menino no fundo dos olhos de Ronaldo é muito mais fascinante e complexo que o herói, é o Ronaldo-menino que inspira milhões de outros meninos por esse mundo fora. Fá-los sonhar, parar o tempo e ser felizes, ainda que por pouco tempo. Contam-se pelos dedos de uma mão os que têm esse poder.”
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Helena, a Deusa Sol
E para começar a semana em beleza, aqui fica o olhar felino, até ao fundo da alma, da intemporal Helena Christensen, pela lente do nosso já conhecido Antoine Verglas. Não há chuva que abafe este sol…
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Antoine, tende piedade de nós
Aproximando-se o fim-de-semana convém esquecer o cinzento dos dias de labor e abrir a porta aos momentos de prazer. Com esse intuito ou somente para não nos olvidarmos que os outros cinco dias da semana podem de facto ser muito cinzentos, nada como (re)descobrir a existência de um fotógrafo parisiense, residente em Nova Iorque, de seu nome Antonie Verglas, que se tornou famoso por retratar celebridades como a eterna Claudia Schiffer, num estilo intimista que à época (a dos anos 90) era desconhecido. Por mais interessantes que sejam os nossos dias de labuta saberemos sempre que há um tipo que tem o emprego do Antoine. Ficam duas fotografias da Claudia para não nos esquecermos que somos pouco mais do que meros mortais.
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Da série "coisas que o pequeno holandês parece não apreciar"
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Que fazer?
Contemplo esta imagem incrível da fotógrafa francesa Leila Alaoui e dissipo todas as questões que tendem a estimular as dúvidas ontológicas do ser humano. O que andamos aqui a fazer? Na dúvida, nada como procurar fazer felizes alguns (sim, não temos que gostar de todos, excepto se forem crianças, essas obrigatoriamente temos que fazer por ver felizes) ou pelo menos contribuir para que sorriam de quando em vez, não deixar que a tristeza e a melancolia se instalem nas suas vidas. Se fizermos isto e outros fizerem o mesmo por nós embrenhamo-nos neste ciclo vicioso, neste ciclo vicioso e virtuoso que mal não faria ao mundo em que vivemos e às vidas que vivemos. Vejam lá isso.
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Por entre a luz e as sombras
No adeus ao Luxemburgo nada de novo nos habituais contrastes que marcam um país de brilho e de sombras. Os fatos acetinados e perfeitamente ajustados aos emproados executivos são a marca de imagem de uma sociedade exteriormente perfeita na sua inegável eficácia e elogiada produtividade. Os sapatos brilhantes e robustos, ao preço de um carro em segunda mão cá pelo burgo, disfarçam mal o que se esconde por trás das vidraças harmoniosamente perfeitas que se multiplicam nas fachadas dos infindáveis quarteirões de escritórios, de fundos, de seguradoras, de bancos, de serviços financeiros. Quem se afasta um pouco desse mundo de lantejoulas arrisca-se a dar com as trombas no outro lado do espelho. Numa qualquer circular externa que conduz o Luxemburgo à sua não perfeita cintura industrial (mais serviços, mas mais baratos), um baldio perdido por entre vias rápidas e pintalgado por cinzentos contentores serve de teatro a meia dúzia de farrapos humanos que se injectam em plena luz do dia, a uma mulher com corpo de criança etíope que mal sustém o equilíbrio enquanto procura defecar com as calças pelos joelhos. As caras dentro do autocarro fingem não ver o que entra pelos olhos dentro, eu não consigo desviar o olhar porque o cheiro a realidade cheira, ainda assim, menos mal do que o fedor da desumana sobranceria financeira.
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Da série bons desbloqueadores de discussões latentes
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Como não amar o futebol?
O que é se pode escrever depois do milagre ontem ocorrido em Camp Nou? Que não foi um milagre. Que a equipa francesa se amedrontou perante o teatro cénico que foi montado pelos catalães, que Neymar subiu aos píncaros da montanha da genialidade onde um dia destes se sentará para toda a eternidade, que Luis Enrique acreditou com uma força e uma fé que derrubou a robustez dos Alpes franceses, que entre os 87 e os 95 minutos o tempo parou e os jogadores catalães pairaram sobre um rio de franceses esmagados pela força do destino, que Sergi Roberto, o filho da casa, ainda agora não acredita como chegou à bola do sexto golo embora não tivesse outra hipótese que não fosse tocar-lhe com a ponta da chuteira, no milésimo de segundo certo, com a força e a direção que não deixaram margem para dúvidas. Como não amar o futebol?