Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Da série "Segredos mal escondidos"
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Emma Hartvig - o presente inacabado
O último post indiciava que o blog abrira a porta à enxurrada de fotos de mulheres perfeitas e idílicas imagens de Verão. Falso, este blog não é de fiar. O cérebro tanto se desliga como no segundo a seguir borbulha de ideias, sufocado por dúvidas e prenhe de soluções imperfeitas. A fotógrafa sueca Emma Hartvig descobriu com a sua câmara o que boa parte da humanidade demora toda uma vida a reconhecer: não há corpos nem histórias de amor perfeitas, todas as histórias permanecem incompletas, o presente é um inacabado ponto de interrogação, a solidão tanto se vive só como acompanhado.
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Modo de verão: cérebro desligado/voyeur
Sejamos sinceros, curtos e grossos. Ninguém no seu perfeito juízo quer queimar as pestanas em pleno verão, refletir sobre as causas das coisas ou sofrer com a decadência da nação. O estado natural das meninges atingidas pelo torpor do astro rei é o de voyeur, toda a prioridade do corpo e da mente incide na mera contemplação. A poucos dias das merecidas férias o Bolas entrega-se nos braços do dolce fare niente, arma-se com a câmara a tiracolo e assume a posição de voyeur. As palavras passarão a escassear, as imagens de ninfas ao sol salpicadas pelo mar tomarão as rédeas desta tasca com o cérebro amolecido pelo calor. Quem alinha disfrute, quem não gosta meta férias do blog. Começo pela jovem modelo Rafaella Consentino, jovem prendada e dada aos prazeres de verão, que não deixa mentir todos aqueles que defendem que uma imagem vale mais que mil palavras.
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Cenas que ou nascem connosco ou mais vale não queimar as pestanas
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Quinta do Mocho
Perdido pelos subúrbios ainda mais subúrbios do que o subúrbio que é essa altaneira terra que dá pelo nome de Sacavém, deparo-me com este espetáculo que me deixa sem reação. Há street art e há street art, mas esta abalou-me, mexeu comigo. Não sei se foi pelo inesperado da coisa, se pela grandiosidade do contraste entre a decadência dos prédios e dos equipamentos urbanos com a magnificência daqueles murais em forma de arte, sei que não estava de todo preparado para aquilo. Vagueei lentamente pelas ruas da Quinta do Mocho enquanto fotografava as paredes de tijolo mal tratado e de cimento pior amanhado, magicamente transformadas pelo génio criador e inspirado de artistas de rua. Não pensava em nada, simplesmente mergulhava naquela leve sensação de quem nada sente por estar tão ocupado a sentir. Percebi que os moradores, 100% africanos, pouco me ligavam, pouco ligavam à beleza e imponência das pinturas, pouco atendiam aos minutos que passavam. A arte mudou-lhes as paredes, mas não lhes mudou as vidas nem lhes aqueceu o coração, pelo menos era o que sentia daquela curta interacção. Talvez lhes faltasse alguém ao lado para sentir o calor da dádiva. Talvez a beleza só faça sentido quando partilhada.
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O Sting é que a sabia toda
Sobre a polémica dos ciganos que vivem numa sociedade paralela integrados na nossa sociedade e sobre os homossexuais pouco Gentilmente destratados por um senhor com a idade de quem já deu a volta ao relógio e se instalou na confortável poltrona da idade da inocência tenho uma data de inócuas considerações a tecer. Tenho amigos homossexuais e nunca convidei ciganos para entrar lá em casa, mormente tenha jogado ao berlinde com alguns, levado uns cascudos de outro e conseguido escapar ao sangue violento de um vendedor colérico na feira do Relógio. Tenho isto a dizer que nada diz porque não me apetece defender teorias, tomar partido, insultar ideologias. Por mim, farto de gente que bate no peito e se arvora em dona incontestável da sua razão, todas as opiniões serão válidas se permitirem que todos nós consigamos viver com amigos do outro lado da barricada, mesmo que discordando até à medula disto ou daquilo, mesmo que não troquemos alianças ou visitas lá a casa. Quanto aos cascudos e à violência já não sou tão complacente como era em miúdo assustadiço e pouco dado a actos heroicos: olho por olho dente por dente, que isso de dar a outra face é nos filmes por altura do Natal. São monstros, os ciganos? Creio que não, mas regressando à infância com os olhos de hoje diria que são pouco mais que miúdos assustadiços que percebem que quem os olha de fora tem ainda mais medo que eles. Esta profunda reflexão atingiu-me as meninges após a distraída leitura de um comentário perdido por entre mais uma polémica facebookiana, pelo que tenho a acrescentar que isto é muito mais do que me apetecia falar sobre o assunto. Esperem, antes de colar aqui com cuspo o tal comentário perdido, apetece-me deixar apenas mais uma achega – tudo isto me faz lembrar um verso inesquecível de uma canção do Sting: “I hope the russians love their children too”.
“Chamava-se David Marcelino e era "o" cigano do 1ºA, minha turma do Camões do Areeiro. "Dunas" nunca tive mas palmou-me o estojo de dois andares que me tinham dado os meus pais como presente combinado de natal e anos. Aquilo era uma coisa linda. Cabrão. Também me deu algumas coisas: lembro-me particularmente de um olho negro, resultado de mo ter afagado com o pé, num gesto que só conhecíamos dos filmes do Bruce "Lim". Tudo por causa de uma super-gorila de morango, ácidas que eu sei lá mas as minhas preferidas e, pelos vistos, do David também. Depois, um dia de manhã, chegou à escola a chorar (lá dos problemas que tinha em casa mas que nunca partilhava) e ficou igual a nós, os que choravam. Nós com medo dele, ele com medo do pai. Recolhidas as lágrimas, nem se distinguiam. Chegados ao 2ºA já éramos amigos. Não jogava um caralho à bola.”
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French kiss, por Peter Turnley
“As my own career in photography took off and I began to travel widely, I would always return home to Paris to walk with joy and photograph life in the streets and on the riverbanks of this wonderful city. Possibly more than in any other city in the world, the visual landscape of Paris presents a constant expression of the beauty and power of love, seen through the tender kisses and embraces that can be publicly seen, literally anywhere, at any time, and always.
Photography is about sharing, with ourselves and others, moments that touch our eyes, and more importantly, our hearts. Implicit in sharing, like a kiss, is a notion of love, and of giving.”
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Disfrutar - não ceder às maléficas e anestesiantes garras do maralhal
Perdermo-nos no ruído dos outros é esquecermo-nos de nós. Será vantajoso, se é esse o esquecimento que buscamos. Podemos, contudo, optar por nos perdermos em nós. Numa praia deserta ou semi-habitada. No silêncio mais perfeito que só a submersão no nosso mar nos devolve. Aquela esplanada repleta de inspiração visual e morta de sons humanos. Rir sem razão e sem eco, só porque sim. O silêncio aconchegante da música. Como única companhia o sonho nas asas do desejo.
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Leitão à moda de xutariiiii!!!
No passado fim de semana teve lugar mais um encontro da Confraria Etnográfica dos Olivais (bonum vinum laetificat cor hominis), realizado na mui nobre aldeia bairradina de Samel. Os afazeres foram os costumeiros, marcados por bons vinhos, iguarias de comer e chorar por mais (o leitão, ai o leitão que se derretia na boca), suecadas, vólei ao pé, piscina, matraquilhos, conversas leves e debates acalorados sobre o estado da Nação. A certa altura o tema mudou para aquilo que realmente interessa: sim, as memórias da vitória lusitana no europeu do transacto ano, vídeos e mais vídeos sobre a repetição da patada do Éder, da festa, da reação de todas as televisões europeias no momento do golo (destaque para a Grécia com o já famoso “Éder xutariiiiiiiiiii!!!”), enfim, quase melhor que ser feliz é recordar com gosto, saudade e aquelas lagriminhas marotas no canto do olho esses momentos de felicidade. A grande pergunta fica: como conseguimos contornar tantas improbabilidades e ganhar? Muitas teses, mil hipóteses levantadas e eu cá continuo com a minha: o nosso Engenheiro foi iluminado por algo que nem ele sabe explicar, talvez só a sua inabalável fé em Deus e naqueles 23 homens explique. Colocar em campo, no momento certo, nos jogos certos, nos minutos certos, Renato Sanches, Quaresma, Adrien, José Fonte. Dizer as palavras certas que transformaram a cabeça e a crença dos rapazes e de toda uma nação que os apoiava. E bolas, Fernando, como guardaste todo o Europeu o Éder até àqueles minutinhos finais, sabias tão bem que ele ia explodir contra tudo e contra todos. Só isso explica que nos segundos antes do Éder entrar em campo, isto se tenha passado, como tão bem descreveste: “Estava a explicar-lhe o que ele tinha de fazer e ele não ouvia nada. Só dizia para eu ficar descansado que ia marcar”. Xutariiiiiii, gggoooooooolllooooooooooooo!!!
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Quem guarda os nossos guardas?
Os 18 (18!!!) agentes de uma esquadra da PSP de Alfragide, todos os agentes dessa esquadra (todos!!!) foram acusados pelo Ministério Público, entre outros crimes, pela prática de crimes de tortura e racismo contra alguns jovens de etnia africana. Independentemente da punição exemplar, disciplinar e criminal, que venha a ser aplicada a estes elementos - caso as acusações venham a provar-se em sede de julgamento, claro está - é preciso, por uma vez, irmos mais longe. Quem, como, com que critérios são recrutados os agentes de autoridade que confiamos defenderão as nossas vidas e bens e a segurança dos nossos filhos? Estes 18 agentes de autoridade (custa tanto escrever isto, considerar que esta gente é agente de alguma coisa, quanto mais de autoridade) são sujeitos a que provas que comprovem a sua honorabilidade, humanidade, educação, etc. e tal, para o exercício de uma das missões mais nobres do Estado? Ou importará apenas a sua destreza física e conhecimentos técnicos? Quem são os responsáveis máximos por validar os critérios e regras que regulam o recrutamento desta gente? Quem permitiu esta desbunda total? Por uma vez, foquemo-nos nas questões por trás das questões imediatas e retiremos consequências sérias de mais uma vergonha nacional. O que é demais é demais.