Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Conselhos para 2018
MAIS POESIA
DEIXAR O SOL ENTRAR
NÃO DAR PÉROLAS A PORCOS
PRIVILEGIAR A LEITURA
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O plano
Aproxima-se novamente aquela maravilhosa altura do ano em que os planos de mudança rejubilam nas nossas mentes crentes e nas redes sociais, em que as certezas de que o homem ou a mulher que seremos amanhã será certamente bem melhor e mais preparado do que o que foi no ano prestes a fenecer. Definimos metas irreais crentes na superação do ser, fechamo-nos numa rota única que nos encaminhará para o tão almejado sucesso, encerramo-nos no quadrado dos nossos longínquos sonhos que, estranha e paradoxalmente, não poderiam ser mais limitados. Planeamos e limitamo-nos a esse rumo pré-definido como se não vivêssemos num mundo em constante e imparável mutação/ebulição, desconhecendo que o melhor plano só poderá ser aquele em que dizemos para nós mesmos: vou estar preparado para o desconhecido, vou ser flexível como um elástico para não quebrar ao primeiro desvio de rota. O plano é não ter plano, é gizar um plano a cada segundo, é destruir o plano pelas mãos de um novo plano. O plano é vivermos.
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Feliz Natal
Minhas queridas amigas, meus bons amigos, meus escassos mas fiéis leitores. O tempo e a falta dele, o trabalho e a criançada não me têm deixado muito tempo para esta tasca gourmet de palavras e de ócios. O ócio está hoje na cauda da cadeia alimentar que a sociedade nos serve, mas há a esperança que o próximo ano nos traga algo de renovador. Que estes dias que se aproximam vos encham os corações de pacotes de alegria e, se a coisa não for assim tão líquida, que pelo menos um pacotinho de manteiga vos ponham no sapatinho, pois já a Maria Schneider sabia bem que por vezes nada como uma ajudinha para ajudar a ultrapassar as agruras da vida. Sei que os votos têm este toque de humor negro, que há quem apelide de mau gosto, mas se calhar é isto que o mundo precisa: um bocadinho menos de vontade de sermos todos muito politicamente correctos, um abre olhos para dizermos o que realmente sentimos e ao que vamos. Feliz Natal, meus amigos, do fundo do coração.
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A mulher, pelos olhos de Christian Coigny
Por entre os meandros do mundo virtual cruzei-me com a arte de Christian Coigny, um fotógrafo suíço que, pelo que fui debicando aqui e ali, é conhecido por ser um esteta da fotografia feminina, tal como Vermeer o era da arte de retratar as mulheres numa tela. O seu foco é retratar as mulheres com um profundo sentido de intimidade, mistério e delicado respeito. Os gestos simples das mulheres ganham pela sua lente uma complexidade elegante que permite beber ainda mais nitidamente a essência da sua beleza.
Pelos seus olhos, uma mulher a contemplar um vaso envolve-nos numa serenidade duradoura, as paisagens mais belas dissolvem-se e enriquecem a magia indefinida e viciante dos contornos femininos, um corpo reclinado na cama é um convite a uma morte feliz pois sabemos que poderia ser aquele o derradeiro momento da nossa existência.
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Alentejo
Fim de semana prolongado muito bem aproveitado para mostrar aos herdeiros as belezas e desgraças do Alentejo profundo. Palmilhar a bela e fria Portalegre, perder o olhar nos campos, explicar a dinâmica do corte da cortiça e o porquê dos números nos troncos dos sobreiros, não ter palavras para explicar o porquê da magreza de vacas, bois, ovelhas e touros, devorar migas, coelho com almíscaros e demais petiscos alentejanos, sentir a estranheza deles pelo facto de tão belo parque infantil em Arronches estar deserto de miúdos, as ruas desertas porque os velhos não saem de casa com tanto frio, explorar ávida e loucamente cada recanto do belíssimo castelo de Marvão, sentir que o frio é algo que afeta adultos que não estão possuídos pela energia dos tenros anos e pela curiosidade infindável de quem tudo quer devorar. Belo e triste Alentejo, e talvez tão belo porque tão triste.