Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Um mundo belo nas mãos de gente estranha
Vivemos num mundo estranhamente belo. As flores sobrevivem ao caos em forma de betão, a arte humana assume as mais estrambólicas formas. Não conseguimos apreciar a quietude dos prados, beber a água fresca do rio que corre imperturbável. Por isso transformamos tudo o que nos rodeia. Para que o silêncio não nos perturbe.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Pérolas que se descobrem no twiitter e naquele momento fazem todo o sentido
Autoria e outros dados (tags, etc)
6 anos de ti
6 anos sempre a correr, a chutar, a lançar, a dar lições sobre a beleza da inocência e a simplicidade da felicidade. Ter dois filhos tão diferentes, com uma panóplia tão variada de qualidades e defeitos é um desafio, uma bênção, um complexo manual de peças soltas que nos convida à construção do interminável puzzle de dois seres humanos decentes e felizes. Pensamos que a obra é nossa, mas é toda deles, mesmo que por vezes nos deixem acreditar que temos uma influência determinante no que sairá dali. Temos evidentemente direito a algumas pinceladas na tela das suas vidas, mas o molde já lá está, o desafio maior é sabermos respeitá-lo e ter a arte para ajustar as cores secundárias ao maravilhoso arco íris que vive dentro deles. Parabéns Francisquinho!
Autoria e outros dados (tags, etc)
E depois do adeus
Fotografia por Ferdinando Scianna
Para onde vai o amor depois de morrer?
Com foi possível deixar de a amar?
Era feita de céu e de mar
tinha em si todos os cheiros da vida.
Da sua voz nasciam os sons da terra
embalados nos sonhos dos seres.
A sua morada era a das deusas
a origem do amor o seu ventre
era ela a mãe de todas as razões que conhecia para existir.
O que há, senão a morte, depois do amor fenecer?
Autoria e outros dados (tags, etc)
86-60-86
Uma amiga linda e felizmente afastada das medidas supostamente perfeitas publicou esta foto por território facebookiano, acompanhada do bem lusitano “Pimbas! Vai buscar!”. Outro amigo, mais dado a outras artes circenses comentou “Pois claro. Cheirava bem? Isso nunca ninguém diz!”. Há momentos em que se pode amar o facebook.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O nosso menino
Passados que estão uns dias do estratosférico pontapé de Cristiano Ronaldo, da genial reação dos adeptos da Juventus, do humilde e emocionado agradecimento do nosso Cris a esses mesmos adeptos, chegou agora a minha vez de falar sobre o assunto. Já ouviram as expressões “uma imagem vale mais que mil palavras” e “não há palavras”?
Autoria e outros dados (tags, etc)
TIC TAC
Parece que te estou a ver, Bruno. Refastelado na poltrona de boa e cara pele, verde, bem verde, verde guerra (what else?), a rodopiar o gelo afogado no cristal do copo bem preenchido com um refinado whisky de 15 anos, preparado para a guerra, com o coração aos pulos e os dedos nervosos, ansiosos pelas teclas que te esperam, para glorificares os teus rapazes ou para lhes espetares a faca por entre as costelas já de si doridas, enraivecido pela dor e pela desilusão, qual rapazola de 8 anos a quem não deixaram marcar o penalty no campo lá da escola. Os jogadores procuram estar descontraídos antes do jogo, vê-se o Coates sorrir de cara aberta, contrastando com um Griezmann sisudo e aparentemente concentradíssimo. Relaxa homem, parece que vais para o matadouro!
O jogo começa. Tic tac tic tac. Vinte e dois segundos. Vinte e dois segundos!!! Tempo suficiente para que o Seba, embevecido por estar a jogar num dos grandes palcos europeus, julgar que tem a categoria do Umtiti e fazer um passe transbordante de classe, a sair a jogar, infelizmente para os pés errados. Mas o nosso Coates é teso, e ainda assim tenta corrigir o erro atacando a bola passada pelo Diego Costa para o Koke. Ups, afinal foi cuequinha. O pobre Rui, lá sai supersónico a tentar encurtar o ângulo, mas o mal estava feito. Vinte e dois segundos! Este é para queimar, pensas tu para os teus botões, o culpado disto é ele, o Seba, o sacana!
O jogo prossegue (tic tac tic tac), o Sporting parece querer reagir, mais posse de bola e pormenores de classe. É então que o Gélson se isola e…falha um golo feito! Viras o terceiro copo de whisky e vociferas, “este gajo já só pensa em milhões, é para queimar”! O fim da primeira parte aproxima-se (tic tac tic tac), mas a coisa não acaba antes de mais uma fífia do Mathieu a isolar o velho Antoine que, recordado do milagre do nosso Rui na final do europeu, atira com toda a raiva e colocação para mal da tua vida, dos teus nervos, da tua falta de controlo, soltas mais um “pelintra deste velho francês mal parido e pior arruivado vai já de vela”!
Segunda parte (tic tac tic tac), meia dúzia de copos virados, já só reténs as defesas do Rui e um falhanço de bradar aos céus do Montero nos últimos segundos do jogo, “mais um gajo para correr, um que nunca devia ter voltado e que já não tem pernas para isto!”. Apito final, agarras-te ao laptop e soltas todo o fel naquela janelinha azul e brilhante, esqueceste os amigos, os assessores, os conselheiros, é aquele o teu muro das lamentações, é ali, batendo violentamente nas teclas que finalmente encontras a paz. Esbofeteias os teus, viras-lhes as costas, sacodes a água do capote. TIC TAC TIC TAC! És uma bomba relógio sempre prestes a explodir, Bruno. Vai, segue o teu caminho, o Sporting já não precisa de ti, fazes-lhe mal, Bruno. Creio que ontem todos os que amamos e sentimos o Sporting percebemos finalmente isso. Ou então estamos todos loucos e cegos.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O manto de ferro
Durban, África do Sul, 1959, por Ed Vand Der Elsken
O ódio tem a cor do medo
o medo transpira o suor dos cobardes
dos que se cobrem das vestes do poder
sob mantos engomados de vergonha e soberba.
O pecado toca-lhes a vida
traça-lhes o destino.
Nunca entenderão porque na derradeira hora,
perante o precipício sem fim,
só eles e o seu medo habitam a solidão do penhasco
já despidos de ódio e soberba
sós
entregues
para sempre perdidos no medo
de viver a vida sem o manto de ferro do ódio.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Roma
Roma, museu a céu aberto, teatro das memórias da civilização, é um paraíso nas mãos de humanos enlouquecidos, essa espécie a quem chamam de turistas. Os romanos, como os parisienses, tresandam arrogância pelo facto de se julgarem superiores por viverem numa das mais belas cidades do mundo. Estão fartos de turistas, desprezam-nos, e não vêm necessidade de os tratar bem para os atrair, pois por um desistente na fila logo a seguir virão milhares de ansiosos candidatos. É de facto triste que os romanos olhem para os visitantes como meras fontes de receita. As indicações para auxílio ao turista são inexistentes (bendita Internet), alguns restaurantes aplicam sem prévio aviso taxas de serviço à vontade do patrão, outros taxistas pretendem cobrar 50 euros de viagem até ao aeroporto quando na porta do táxi têm escrita a tarifa fixa de 30 euros.
Esquecidas as tristezas (r)humanas e o constante enxame de gente em qualquer recanto da cidade, ficam as memórias, as fotografias, a alegria da descoberta de um mundo novo pelos filhotes. Nas imagens que aqui deixo para a posteridade, fica o impactante coliseu, na sua eternidade que perdura há quase 1950 anos, destacando como imagem a guardar um jogo de voleibol disputado às suas portas, em que rapazes de Bogotá (?), talvez de Quito (?) disputavam o jogo mais importante das suas vidas. Sangue, suor, insultos, ameaças, a sede de ganhar em todo o seu esplendor, talvez a sua vingança por não conseguirem vencer na terra mãe e terem que viver à sombra do monstro civilizacional.
O Vaticano, claro, e as gaivotas que nos fixam imóveis, confiantes de que o espírito santo vive em todos nós, como se a maldade nunca nos tivesse tocado. O Vaticano, tanto brilho, tanto ouro, tanto mármore, tanta perfeição, mas a imagem que fica é o contraste das cadeiras velhas e empilhadas que serviram para a glorificação do Papa pelo povo, o povo temente, adorador e mal sentado. Quantos milhares de crianças poderiam ter sobrevivido à fome se os pães tivessem sido transformados em mais pães e não em mais ouro?