Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Para lá do silêncio
O dia começava na expectativa de repetir monótona e insistentemente o ritual toda a noite sonhado. Descer a rua ainda sob o manto do sono e dos sonhos, sofregamente, num misto de esperança e de nervos, como que um nó de marinheiro que lhe apertava o pescoço e revolvia as entranhas. Abria a porta do sombrio café para encontrar a luz nos olhos da diva atrás do balcão. As palavras eram escassas ou nenhumas, mas ele via na sua ausência, nos silêncios prolongados e incómodos, a certeza de que algo estava por nascer, como uma estranha calma que antecedia a tempestade. Não tinha pressa, sentia-se bem assim, o silêncio devolvia-o inequivocamente a si. E isso era muito mais do que todas as outras tempestades que vivera lhe tinham dado.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Always watch good movies
Houve uma fase da sua vida em que vivia apenas para sonhar, perdido e extasiado nas salas de cinema da sua velha Lisboa. Um dia, sem aviso prévio, roubaram-lhe os sonhos para toda a vida.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O templo de Sophia
Está por desvendar o mistério das horas passadas pelas nossas deusas, pelas mais belas flores da criação, naquele cubículo desconfortável que para nós mais não é que um cubo frio e útil, que usamos por pura e distraída necessidade. Há quem ouse afirmar que as horas lá perdidas pelas mulheres o são por puros caprichos de vaidade, que aquele é o altar onde se entregam aos seus delírios da busca da perfeição. Eu, que tenho o privilégio de conhecer algumas dessas raras e doces flores, arrisco dizer que aquele é o único espaço onde elas podem ser elas, só elas, só para elas, sem as inúmeras solicitações daqueles que tanto esquecem o nada que são sem elas.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Parabéns!
Dá pelo nome de Vitinha - ou de alcunha - confesso a minha ignorância, o treinador adjunto do Desportivo das Aves. O Vitinha tem 8 irmãos e irmãs, mais um séquito de fiéis seguidores, que fizeram questão de ir fazer a festa ao Jamor, por entre iguarias mil, de onde se destacou um soberbo porco no espeto, sublimemente acompanhado pelo molho da assadura do mesmo. Por razões que agora não interessa aprofundar, este vosso escriba juntou-se com a trupe leonino-olivalense e passou o dia em ameno convívio, cavaqueira, faustosos comes e melhores bebes com esta fantástica gente da Vila das Aves. Fugiu-se aos sofrimentos recentes da nação leonina e honrou-se o espírito da Taça, tão bem abençoado pelo estádio e as matas do Jamor.
O resultado, tremendamente merecido pela equipa do Desportivo das Aves, foi o que menos interessou. Do lado da equipa leonina tenho apenas a destacar a honradez profissional, o respeito por todos os amantes do futebol e a coragem para entrar em campo e dar o melhor, nesta triste conjuntura, sobretudo tendo em conta que a esmagadora maioria dos nossos leões terão certamente vivido a pior semana da sua vida profissional e, quiçá, pessoal. As lágrimas do Rui Patrício, o nosso Rui, deviam obrigar os dirigentes, os adeptos, a comunicação social, todo o mundo do futebol a repensar tudo. Caso não o entendam ou não estejam para isso acabaremos por perder o futebol em toda a sua beleza e genuinidade. O que restará não sei, mas garanto-vos que se nada for feito não mais as matas do Jamor se encherão de são convívio, amizade, de fair-play e desportivismo. Parabéns boa gente das Aves, parabéns leões!
p.s. - Não menos importante, ficam aqui os parabéns ao grande Guedes (neste caso não o ponta de lança do Aves) pela organização e pela capacidade de mobilização desta malta toda. Anda Guedes!
Autoria e outros dados (tags, etc)
O que realmente importa
Não foi fácil explicar aos meus filhos as feridas na cabeça do seu herói, do nosso Bas Dost. Desde muito cedo este clube faz sofrer os que o amam. Não sei se por alguma idiossincrasia misteriosa, este é um clube que leva o amor dos seus tão perto da fronteira do sofrimento. Os meus filhos ficaram tristes mas perceberam quando lhes expliquei que isto é tudo o que o desporto não deve ser, que o mais importante é competir com desportivismo, dar sempre o nosso melhor, mas sem ser com o único objetivo de ganhar. Só um ganha, os outros perdem e devem com isso aprender mais do que os que ganham, é esse um dos ensinamentos basilares do espírito desportivo. Com isto dito, quero reafirmar o que há muito venho dizendo: Bruno de Carvalho está a mais, não serve, é nocivo para o Sporting e para o desporto, como o são a triste maioria dos dirigentes do nosso futebol. Infelizmente, o grau de loucura deste homem conduziu-nos a caminhos nunca vistos.
Domingo, no Jamor, temos que mostrar aos nossos jogadores que estamos com eles, que os acarinhamos, que temos vergonha deste acto bárbaro. Ao mesmo tempo, pacificamente, todos os adeptos leoninos que realmente amam o Sporting têm que pedir a plenos pulmões a saída deste triste presidente. A vitória? É o que menos importa. É o Sporting que está em causa e isso é tão mais importante que uma mão cheia de vitórias.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Sentemo-nos e falemos de nós
Creio que olhares e mentes mais atentas já terão reparado que este blog tem-se afastado, cada vez mais, dos assuntos do dia a dia da nação, das alegrias e euforias (ah, o turismo, ah a Eurovisão, que excitação, que orgulho) e das misérias profundas de um país que tarda em sentar-se numa qualquer cadeira que o obrigue a parar, a olhar para si mesmo, com vontade real de se conhecer, de colocar o dedo bem fundo na podridão das suas feridas tumorosas e, quem sabe, talvez um dia, começar esse longo e doloroso processo de quimioterapia grupal que, como em tudo, começa em cada um de nós para podermos aspirar a um tratamento da sociedade em si mesma. São muitos os nossos males? Minhas queridas amigas, meus caros amigos, falamos de um país onde cada vez que levantamos uma pedra descobrimos um bastião do nosso tecido económico ou empresarial corruptor, um representante da nação corrompido (isto, mesmo com uma comunicação social grandemente controlada ou amordaçada pelos poderes fácticos), um país que revela, ano após ano, uma incapacidade revoltante de proteger a sua alma, a matéria de que é feito, a sua terra, as suas árvores, as suas florestas e aqueles que habitam no seu interior. Um país que ama o futebol e que o entregou a salafrários, a medíocres que apenas buscam promoção ou protecção sob a enorme cúpula branqueadora dessa paixão. Falamos de um país que empurra para fora os seus melhores, para países que não amam como o seu, o nosso, por falta de organização, de visão, de vontade de fazer melhor e propiciar o melhor aos melhores para assim chegar mais longe. Falamos de um país à espera do verdadeiro 25 de abril, aquele que lhe trará a verdadeira liberdade: a liberdade de criar e crescer sem grilhetas, sem barreiras burocráticas, sem o peso asfixiante de impostos que alimentam um monstro que já só come porque nada mais sabe fazer. Falamos de um país maravilhoso – porque raio não conseguimos estar à altura dele? Vejam lá isso, minha gente.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Back to basics (não confundir com básicos)
Tentara tudo. Gajos ricos, gajos giros de morrer, viajantes, jornalistas, reis da mediação imobiliária, fotógrafos, advogados, economistas, escritores, aventureiros, arqueólogos, até cromos da bola, percorrera todo o caminho em busca do Santo Graal. Os milhares de quilómetros que percorrera, as infindáveis histórias de engate que fingira engolir não lhe tinham devolvido o fruto desejado e proibido. O passado era passado, mas jamais o futuro chegaria lá perto, ao épico que fora.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Preliminares
O mais inesquecível preliminar começa na troca de olhares, leu ele na parede cinzenta e decadente para que olhava sem olhar já há uns incontáveis minutos. O frio não o sentia, a chuva miudinha podiam ser raios de sol que tanto lhe fazia. O nevoeiro em que se enredava não era aquele que tornava as caras tristes das pessoas ainda mais tristes. O nevoeiro do qual não queria sair era o dela a estacionar o carro junto ao seu, olhos assustados e brilhantes, a te(n)são a transpirar-lhe dos poros, a inconfundível expressão de quem queria fugir para sempre dele mas, não tendo forças para tal, queria afinal para sempre se perder nele, nos seus braços, na fusão dos corpos e da alma que os transportava para um indescritível universo paralelo, para um mundo desconhecido e só deles onde o mundo já nada lhes dizia.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Two faces, by The Boss
I met a girl and we ran away
I swore I'd make her happy every day
And how I made her cry
Two faces have I
Sometimes mister I feel sunny and wild
Lord I love to see my baby smile
Then dark clouds come rolling by
Two faces have I
One that laughs one that cries
One says hello one says goodbye
One does things I don't understand
Makes me feel like half a man
At night I get down on my knees and pray
Our love will make that other man go away
But he'll never say goodbye
Two faces have I
Last night as I kissed you 'neath the willow tree
He swore he'd take your love away from me
He said our life was just a lie
And two faces have I
Well go ahead and let him try
Autoria e outros dados (tags, etc)
A semente
Li algures que a semente do ódio pode estar no fim do amor. Não tanto do sentimento do amor mas sim do término do acto físico. Todo o fulgor, toda a paixão, aquela torrente de êxtases e de gemidos da alma e dos corpos preenchem-nos até ao âmago, pelo que o esvaziar desse balão de infindáveis enlevos devolve-nos demasiadas vezes a um vazio indesejado. Quanto melhor é maior é o buraco que cavamos em busca do que já foi. Há também quem diga que o ódio não está em nós, está nos outros que teimam em não ser o que idealizamos, em não se comportar conforme os nossos padrões e desejos.