Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
William, Sir William
Foi Bill Shankly quem afirmou que algumas pessoas pensavam que o futebol era um assunto de vida ou de morte e que repudiava essa atitude. Para ele, simplesmente, o futebol era muito mais importante que essas balelas. Baixando um pouco a fasquia, diria que o futebol não é a vida mas imita-a de perto, reproduzindo fielmente as suas glórias e desgraças. São inúmeros os exemplos de grande homens que, embriagados pela fama e pela adulação popular, não resistiram a tal pressão, acabando por cair em desgraça, depressão ou, como comprovado em demasiadas primeiras páginas dos tabloides do costume, em suicídios desesperados. Também no futebol temos casos desses, também no futebol quem ontem estava no topo da montanha facilmente é aquele a quem hoje o insucesso ou a fatalidade de se ser não mais do que um ser humano bate à porta sem aviso prévio e sem pedir licença.
Exemplificando, diria que bastará olhar para os desempenhos aflitos das grandes e afamadas seleções mundiais no Mundial da Rússia para percebermos o peso que as expectativas colocam sobre os ombros de 11 jogadores, as repercussões que podem ter no seu desempenho. A Alemanha qualificou-se contra a Suécia sofregamente, marcando um golo aos 95 minutos. A Espanha ganhou sem saber bem como ao Irão, tendo empatado com Marrocos aos 89 minutos. Portugal foi o sofrimento conhecido para assegurar a passagem aos oitavos de final e a Argentina só lá chegou com a bênção do Papa e a genialidade de Messi. Em termos individuais, Neymar, sufocado pela pressão, desfaz-se em lágrimas quando marca um golo, o semblante de Messi é de profunda angústia antes de cada jogo. Maradona, o maior de todos dentro de campo nunca conseguiu viver verdadeiramente fora dele, neste campo estéril de golos, piques e magia em que já não é a estrela mais reluzente.
Depois temos outro tipo de gente, de outra fibra. Mais que todos, Cristiano Ronaldo, o homem que olha o medo e a angústia nos olhos, se ri deles e, se necessário, marca 3 golos aos campeões do mundo para não deixar 10 milhões desamparados. Sobre CR7 haveria tanto para dizer que nem vale a pena dizer mais nada. Outro exemplar de fibra e perseverança é William Carvalho, o novo case study nacional. O novo patinho feio da selecção - um exemplo perfeito de como o amante do futebol pode desconhecer tão profundamente o futebol e mesmo assim amá-lo – um rapaz que depois do furacão que foi nos últimos meses a sua relação com o clube do seu coração, que agora é atacado por tanta gente, continua a fazer o que tão bem sabe, como se o seu futebol cristalino e os seus passes de algodão criassem em volta de si uma cápsula à prova de tempestades. Sem correr como o Usain Bolt, pensa e executa mais rápido que todos os outros, antecipando tudo o que os adversários ainda sonham que irão fazer, fazendo girar a equipa, gerindo e controlando os ritmos de jogo como mais convém à equipa e à fase específica que o jogo atravessa, a maior parte das vezes fazendo-o com tamanha simplicidade que compreender tudo isso é demasiado complicado para o comum dos mortais.
E sabem que mais? GANHAR, CARAGO!
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Bora lá, malta!
Terminado o jogo contra Marrocos, fica na boca e na pele ainda suada de tantos sobressaltos e picos cardíacos o sabor amargo e o frio ácido de quem se safou não se sabe bem como. O resultado foi excelente, a exibição a roçar o medíocre, mas os sinais que retiro do jogo são muito positivos. Vejamos:
- Bem ao contrário do que estamos habituados neste universo tão específico da bola, após o jogo os protagonistas lusitanos, do treinador aos jogadores, foram unânimes em considerar que, independentemente do óptimo resultado, a exibição foi muito fraca e há que obrigatoriamente melhorar o rendimento individual e colectivo. Olhar para dentro de si e do grupo é sinal de inteligência e maturidade, tenhamos esperança que a introspecção traga benefícios à exteriorização com a bola no pé.
- O peso da responsabilidade parece estar a sufocar a capacidade de muitos dos jogadores. É importante que os jogadores sintam que os seus feitos recentes lhes puseram às costas o peso do sucesso, resta agora saber lidar com isso e virar o bico ao prego, isto é, o peso do seu sucesso deve sair-lhes do lombo e ser colocado em cima dos adversários. Como? Mostrando em campo porque ganhámos o europeu, fazendo com que nos temam verdadeiramente.
- Ronaldo. Este é o torneio de Ronaldo e ele sabe-o como ninguém. Alguém acredita que este monstro de motivação e ambição deixe a equipa soçobrar face ao Irão, por mais lutadora que seja a equipa tão bem comandada por Carlos Queiroz? Até pode haver quem acredite que corremos o risco de ser eliminados, mas Ronaldo não será certamente essa pessoa.
- Fernando Santos, o nosso Engenheiro. Melhor que ninguém ele já diagnosticou o que está a prender o talento dos nossos jogadores. Tem falado bastante para fora, picando os jogadores e criticando as exibições da equipa, mas acredito que sabe bem o efeito que isso terá nos jogadores, como acredito que internamente irá encontrar a chave para libertar as pernas presas e as mentes bloqueadas.
Malta, vocês não são os melhores do mundo (Ok, só um de vocês), mas vocês juntos, como equipa, podem valer mais do que cada um por si, podem ser a melhor equipa do mundo. Vamos a eles, carago!
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Um cheirinho de mundial
Com alguma tristeza minha não tenho escrito sobre o Mundial que nos alegra os dias e abrilhanta a alma. Parece uma parvoíce dizer isto, dirão muitas esposas e namoradas desprezadas e abandonadas nestes 30 dias (são 30 dias em 4 anos, senhoras, calma!), mas a verdade é que a falta de tempo obriga-me a aproveitar os poucos tempos livres que tenho para ver e beber jogos, para me deliciar com as análise do “The Guardian” e de outros media que adoram e sabem falar sobre futebol. Se tivesse que fazer um resumo da coisa, em poucas palavras, que frases ou palavras chave usaria? Deixa cá fazer um pequeno exercício:
- É sempre bom quando nos poupamos à discussão sobre quem é o melhor do mundo logo no primeiro jogo entre dois candidatos. Cristiano, filho, como queres tu que os ingratos dos espanhóis não te odeiem?
- É certo e sabido que os alemães nunca se deram bem na Rússia.
- Li algures, com muita piada e ainda mais razão, que uma mão cheia de portugueses iriam ficar divididos a assistir ao Brasil-Suiça. É o que dá ter muito dinheiro guardado na Suiça e estar em vias de fugir para o Brasil.
- Rui, William, Gélson, Bruno…porque é que tentaram que o meu fervor pela selecção arrefecesse? Boa tentativa mas não conseguiram. Não consigo desejar-vos mal, longe disso, mas tenho tanta pena que não fossem um bocadinho mais resistentes. Grandes jogadores serão sempre recordados, mas só aqueles que aliam à arte a coragem e a fidelidade acima de toda a prova ficarão na história e nos nossos corações.
- E quanto aos prognósticos para a nossa selecção? Eu com o nosso Engenheiro acredito em tudo. Juntando a isso a fome descontrolada do nosso Cris direi que, não tendo que enfrentar a Islândia, está tudo nas nossas mãos. Força rapazes, ganhar!
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Estado de alma
As coisas não estão fáceis para os corações leoninos. Já não me interessam os meandros jurídicos das assembleias, das destituições e das comissões, das providências cautelares e do diabo a sete. Neste momento procuro resolver em mim a desilusão, a tristeza, a raiva e sabe-se lá mais o quê provocados pela loucura desse furacão chamado Bruno. Depois, deixando o Bruno para trás, procuro perceber o que sinto sobre os jogadores que, não obstante serem profissionais e estarem no desempenho da sua atividade profissional - logo guiados por critérios profissionais – decidiram rescindir unilateralmente os seus contratos com o Sporting, para boa parte deles o clube que sempre disseram ser o do seu coração. Isto não é branco nem preto, eles não têm razão nem deixam de a ter, basicamente isto é tudo uma grande merda. Tentando resumir em pontos e contrapontos, resultado de uma conversa aberta e sofrida com dois amigos leões como eu:
- É por demais evidente que Bruno de Carvalho hostilizou os jogadores e, propositadamente ou não, acendeu para níveis insuportáveis as luzes vermelhas dos fracos cérebros dos adeptos mais irracionais, os barrabravas como lhes chamam na Argentina. Por outro lado, não consigo deixar de pensar que os jogadores deixaram-se manipular por empresários, que lhes acenaram com os milhões dos prémios de assinatura (não lhes falando, claro está, dos outros milhões que esses vampiros receberiam como comissões dessas assinaturas).
- Um clube é uma empresa? Um clube não é uma empresa apenas para quem nele não trabalha. Não há razão para que a paixão, a lealdade e a entrega de um profissional de futebol ou de uma empresa sejam distintas. Os adeptos não mudam de clube, os jogadores sim. Quem deveria ter lutado mais e não desistido deveriam ter sido os sócios e adeptos, os verdadeiros sportinguistas e não os jogadores, funcionários do clube. Por outro lado, no fundo de mim acredito que um clube não é uma empresa, daí as paixões que desperta. Um clube não é um presidente, é os treinadores, os mentores, os educadores de centenas de jovens atletas, nomeadamente do Gélson, do Rui, do William e do Rafael Leão. São os adeptos apaixonados que sempre os acarinharam, não são duas mãos cheias de energúmenos que os agrediram. Não consigo deixar de pensar que os jogadores se esqueceram de tudo isso demasiado facilmente. Gosto de acreditar que no lugar deles não teria desistido com esta leveza do clube da vida deles, das histórias de afectos, das pessoas que os fizeram crescer, que fizeram deles profissionais ricos e de sucesso.
- Em suma, oportunistas sempre houve e neste caso foram dadas demasiadas oportunidades por Bruno de Carvalho aos oportunistas. Por outro lado, estes rapazes desiludiram-me como homens. Um homem pode e deve resistir mais à adversidade do que eles o fizeram. O Bruno é o principal culpado, eles lutaram menos do que deviam. De um lado está a versão da empresa, dos deveres e direitos profissionais, do outro está a visão de um eterno romântico que sempre serei.
Para terminar, há quem esteja a torcer para que as coisas corram mal aos jogadores que rescindiram com o Sporting e que hoje representam a selecção nacional. A isso digo não: a selecção está acima de tudo, quero que todos os jogadores façam o jogo das suas vidas. Dói-me a alma, mas não mais do que amo o meu país! Ganhar malta!
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Rir para não chorar
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A rede, a sua omnipresença e a sua ausência
Se há prova cabal de que as redes sociais podem, se mal e desmedidamente utilizadas, constituir um perigo efetivo para a civilização, Bruno de Carvalho e Donald Trump são o espelho dessa indesmentível e lamentável asserção. Entre o imediatismo da raiva e a imparável pulsão dos impulsos poluentes que em segundos lhes passa dos fracos cérebros para os ágeis dedos e daí para o mundo através das redes que nos asfixiam e subjugam, medeiam escassos e macabros segundos. Não há conselheiros e assessores de imprensa que consigam domar a volúpia do exercício desbragado e sem rédeas do poder. A rede que nos une é aquela que não nos protegerá quando cairmos do sétimo andar do poder e nos estatelarmos, sós e desprotegidos, na calçada fria e inclemente de um mundo sem tempo para pensar, respirar e domar a voracidade infalível do ódio. Vejam lá isso.
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Ao cuidado de muito boa gente preocupada consigo própria
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OBRIGADO RUI, SÊ FELIZ!
O meu amor pelo Sporting, a razão que não é razão pois toda ela é paixão, assenta em 3 pilares basilares: em primeiro, os princípios que sempre reconheci como orientadores de toda a vida e essência do clube (esforço, devoção, dedicação e glória). Em segundo, nos jogadores que representam o clube e que por ele tudo dão – sobretudo aqueles que dedicam toda uma carreira ao clube – e, por fim, na irmandade/amizade que construí com aqueles que comungam comigo deste sentimento.
Rui, por tudo o que deste ao clube, por toda a tua história de Sporting, pela dedicação sem mácula, por tudo o que sofreste e venceste com as nossas cores, és para mim o símbolo do sportinguismo. És ainda maior do que essa condição de estrela e símbolo leonino, subiste ao topo da excelência com o título europeu que deste a todos os portugueses, não só aos sportinguistas. Se o Jardel voava por cima dos pardais para meter a redondinha onde a coruja dorme, tu sobrevoaste o Jardel para, naquela épica final contra a França, tirares o sonho da cabeça do Griezman e o oferecer a 10 milhões de portugueses.
Rui, peço-te só mais um favor depois de tudo o que já nos deste. Nunca, em tempo algum, tenhas uma migalha de peso na consciência por esta atitude que foste forçado a tomar. O amor pelo Sporting vale muito, como tenho a certeza que o sabes, mas, felizmente, percebeste também que a tua dignidade pessoal e profissional vale muito mais. Que sejas muito feliz, Rui, que recebas tanto ou mais ainda do que tudo aquilo que nos deste. OBRIGADO!
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A história de (des)amor de Bruno
Bruno amava tanto a namorada que, quando esta lhe comunicou que não dava mais, que já não o amava, que era o fim da sua relação, ele decidiu que se ela não era para ele também não era para mais ninguém. É esta a trágica história de muitas relações que sucumbem ao ódio e não sobrevivem ao amor, é esta a semente do mal de muitas histórias de violência doméstica que terminam em tragédia. Se nada fizermos a mulher amada por tantos milhões morre, o nosso Sporting esfuma-se nas mãos deste psicopata agarrado ao poder, a um salário, a uma fantasia infantil e alucinada que construiu no seu espírito. Vejam lá isso.