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A busca incessante

Quarta-feira, 31.10.18

 

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Chuva. Pesada e insistente. O frio que regressa. Os dois putos no carro a caminho da escola, ainda ensonados, como que sonâmbulos a caminho de um qualquer cadafalso. O barulho da chuva, o trânsito, o céu cinzento escuro. O Francisco, 6 aninhos, parece, lentamente, despertar do seu torpor:

- Pai, porque é que existimos?

A meio das reviengas na rotunda do relógio, mais concentrado em não estragar a chapa do que em atingir a profundidade do Francisquinho, levo uns bons 20 segundos para responder:

- Há quem diga que foi Deus que criou o mundo e os homens, Francisco.

O Miguel, 9 anos e mais dado às filosofias terrenas, contrapõe:

- Não não, foi o big bang!

O Francisco, eternamente insatisfeito com as explicações para os porquês da vida, clarifica:

- Não é como é que existimos, é porque é que existimos?

Mau…mais 20, 30 segundos, e tento uma escapatória:

- Se calhar existimos para ser felizes e ajudar outras pessoas de quem gostamos a ser felizes, Francisco. O que achas?

- Sim, talvez pai!

Desta vez é o Miguel que fica insatisfeito:

- Hum, não sei pai, não sei se é bem por isso.

Antes de fechar o debate teológico com mais uma música do Agir que os traga de volta à simplicidade da música simples, fecho a questão deixando-a em aberto:

- Não penses muito nisso, Miguel, boa parte das pessoas morrem sem descobrir a resposta a essa questão. E olha, muitas morrem felizes, mesmo sem o ter descoberto a tempo.

 

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publicado por bolaseletras às 15:25

Disfrutai do fim de semana, boa e nobre gente

Sexta-feira, 19.10.18

 

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publicado por bolaseletras às 16:40

O carrossel

Quinta-feira, 11.10.18

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Gira que gira e volta a girar.

 

Creio que esta era uma lengalenga entoada nos idos da infância, provavelmente a acompanhar a dança do pião de madeira, embalado pela corda suja e coçada dos nossos sonhos. Éramos felizes como jamais o voltámos a ser e pouco interessa se o sabíamos ou não, pensar nisso era um absurdo visto aos olhos de crianças sorridentes e de joelhos esfolados, era uma perda de tempo, apenas mais uma parvoíce aborrecida do mundo dos adultos. A lenta valsa do pião, naqueles vagarosos segundos que antecipavam a sua inevitável queda por terra, era um vislumbre nebuloso da tristeza que ainda não conhecíamos. Arrumávamos o pião no bolso do fato de treino e rumávamos aos casulos onde a alcatifa já não cheirava a relva, onde os joelhos já não se esfolavam no mar de risos dos nossos amigos. Vinha o banho e a pele enjoativamente cheirosa, o jantar invariavelmente a contragosto, os trabalhos de casa sem necessidade de qualificativos, os traumáticos deveres que diziam ser as ferramentas do nosso futuro, daquele futuro que hoje conhecemos e que sabe a saudade e a desperdício.

 

O carrossel de ontem, de corridas sem fim, saltos e gargalhadas, é hoje o passo esbaforido e exausto para impedir que mais uma porta do autocarro se feche nas trombas dos nossos sonhos. Os saudosos gritos estridentes de alegria pura e descontrolada são hoje as buzinas irritadas e chorosas que temperam o túnel de alcatrão gasto e de prédios tristes, a rua dos nossos pesadelos.

 

Não, a vida não é assim tão triste quando abandonamos a criança que fomos. Não é? Será que a vivemos com uma réstia do brilho da nossa infância? Será que percebemos que é aí que estará a nossa salvação, o Santo Graal da felicidade? Vejam lá isso.

 

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publicado por bolaseletras às 14:30

Histórias da carochinha

Segunda-feira, 08.10.18

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Há quem grite ao vento e à pessoa amada que é um livro aberto, que o seu passado é nítido como as águas do rio que corre cristalino e sem percalços, como se quisesse convencer-se a si e ao mundo que a vida não é uma vaga descontrolada que continuamente se estilhaça e reconstrói contra as rochas afiadas que ladeiam o ribeiro tortuoso que é o caminho que todos percorremos. Gente perfeita com passados e presentes impolutos são sonhos de gente que não sabe o que é ser gente, como se os milhares de corpos que se cruzam e fugazmente se olham nas alamedas caóticas da cidade fossem carapaças de aço de robots imunes ao erro, à inveja e à paixão. Somos todos potenciais serial killers, Casanovas ou candidatos a vigários, somos o exemplo humano da fidelidade canina ou intrépidos traidores que não resistem ao cheiro da carne fresca. Somos Yin e Yang, força e fraqueza, passividade mórbida e energia destruidora, somos tudo e nada somos, mas todos temos histórias só nossas, pecados inconfessados e sonhos proibidos. O resto são histórias.

 

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publicado por bolaseletras às 09:44





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