Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O que faltou e falta à selecção portuguesa?
Ponto prévio: A análise mais esmiuçada que seguidamente é feita tem como base um único pressuposto. Actualmente a nossa selecção, apesar de ter o melhor jogador do mundo, tem um nível de qualidade média, abaixo das grandes selecções europeias como Espanha, Inglaterra, Itália e França. Daí as dificuldades serem naturais, mas para a maior parte dos escribas e do povo que ama a selecção esta situação é vista como um escândalo. Não é, é natural como as actuais limitações.Vejamos então, ponto por ponto:
O guarda-redes: Pensem em Casillas, Buffon, James, Van der Sar. Olhem agora para o simpático e esforçado Eduardo, o renegado Quim, o alto e desconhecido Daniel Fernandes. Hoje não precisámos de um bom guarda-redes, mas a falta de excelência nesse lugar específico já foi sentida e, acreditem, irá voltar a revelar-se.
Os laterais: Bosingwa é um excelente lateral a atacar e a estadia no Chelsea tem-lhe feito bem à consistência defensiva. A lateral esquerda é um deserto que obriga a adaptações que violam a lógica das coisas, certamente o Duda perguntar-se-á o que fará num lugar que não é o seu. Dá o seu melhor mas nunca chegará, manifestamente.
Os centrais: Inequivocamente a posição onde nos batemos de igual para igual com os melhores. Pepe, Ricardo Carvalho e Bruno Alves são 3 centrais de excelência, queira Deus e o Professor que não se confunda a boa vontade e qualidade do Pepe com uma opção constante para o lugar de trinco.
O meio campo: Tiago, Raúl Meireles e a adaptação Pepe. Não é, não pode ser o meio campo de uma selecção europeia dominadora, que vence habitualmente e com naturalidade, que tem um espírito ofensivo dinamizada por um meio campo concretizador. A dependência de Deco é reveladora da mediania deste meio campo.
Os extremos: Temos o melhor do mundo que sofre cada jogo que passa pela falta de Rooney, Tevez ou Berbatov. Por isso hoje andou por lá a fazer de ponta de lança, a perder-se no meio das torres suecas. Este "isolamento" de Ronaldo no marasmo de qualidade na frente de ataque da selecção está a desgastar Ronaldo na selecção, a desesperá-lo, arriscamo-nos a ter um melhor do Mundo em tudo o resto menos na selecção. Arranjem companhia para o miúdo, apetece gritar. Simão valia 10 a 20 golos no Benfica, no portuguesinho campeonato. Em Espanha é mais um, raramente marca, lá vai jogando bem como colegas como Aguero e Forlan ao lado. Na selecção sente a falta destes dois, como Ronaldo sente a falta dos Rooney e companhia, com a agravante que Simão não vale meio Ronaldo pelo que disfarça pior o deserto na grande área adversária.
O ponta de lança: A tragédia. Hugo Almeida não vingou no Porto e vagueia no Werder Bremen por entre a titularidade e o banco. Serve por vezes para o musculado futebol alemão, nunca poderá servir para uma grande selecção. O que lhe sobra em potência falta-lhe em killer instinct, qualidade essencial à sobrevivência de um ponta de lança. Nuno Gomes é finito, Edinho é um sinal do desespero, a esperança Orlando Sá é suplente do Renteria no Braga. Enfim, esta tragédia não é grega, é bem portuguesa e não tem fim à vista.
Duas perguntas restam:
1. Resultado final? O que está à vista e que só com muita sorte não descambará no não apuramento da selecção para o Mundial da África do Sul.
2. Como conseguiu então Scolari resultados bem melhores que os actuais? Porque durante algum tempo ainda foi tendo Figo, Rui Costa, Pauleta e Petit. Porque o grau de motivação que incutiu na selecção permitiu a superação em determinados momentos chave. Mas o balão foi-se esvaziando nos últimos tempos, foi crescendo o alerta de que a mediania actual estava a chegar.
Soluções?
Levar de volta o professor às selecções jovens para que o viveiro de grandes jogadores portugueses volte a dar frutos. Ah, e apelar ao patriotismo de Mourinho, único milagreiro capaz de converter as fraquezas desta selecção em forças.