Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Há que levantá-lo
Geralmente convenço-me que sei o que falta ao país e aos meus compatriotas. Já nos dias mais cinzentos afundo-me no sofá, agarro-me sofregamente ao comando e procuro o esquecimento na voracidade das imagens e das histórias cruzadas. Parecemos carneiros, vestimo-nos de igual, enchemos a casa dos mesmos móveis suecos e sossegamo-nos por conseguir pagar as contas no final do mês. Confundimo-nos com um cordato rebanho que, dia após dia, se alimenta no mesmo prado, às mesmas horas, com o digno e básico instinto de nos mantermos vivos. Balimos e queixamo-nos muito, quase sempre sentados, sem nos movermos, sem mexermos com a nossa realidadezinha. Falta-nos garra, audácia, tusa, tomates para arriscar. Eu próprio não me devia ter ficado por “tomates”, mas chocar-vos com o vernáculo que faz abrir os olhos. Eu próprio não devia estar a apelar à revolta afundado nesta desconfortável poltrona. Ironicamente, nem o desconforto me faz levantar o cu. Há que levantar o cu, compatriotas, que esta merda não muda enquanto gastamos as teclas do comando da televisão.