Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Money (pérola 1) - Do alívio da dor numa pitada de sal
«No fundo, lá bem no fundo, eu até sou um gajo alegre. A alegria, diz-se, é o alívio da dor, por isso, acho que até sou um tipo muito alegre. Alivio a dor facilmente. Mas experimento muitas vezes a dor. Por isso sinto muitas vezes esse tal alívio de que tanto se fala, e toda essa felicidade.»
A pergunta mais embaraçosa que nos podem fazer ou que podemos dirigir a um interlocutor é exactamente a que decorre deste trecho de Money:
«Consideras-te uma pessoa feliz?»
A incomodidade da questão está directamente relacionada com a tibiez com que a resposta geralmente é prestada. O gaguejar no momento da resposta deve-se sobretudo ao facto das pessoas não perderem tempo a pensar no grau de felicidade que lhes dá cor à vida. Porque aquilo que não se conhece não nos magoa, diz o povo, dito geralmente aplicado às esposas atraiçoadas que fecham os olhos para não chorarem com o legado que a vida lhes concedeu.
Vai-se vivendo conforme a vida nos surge no caminho. As encruzilhadas que se nos colocam e que nos obrigam a tomar opções são geralmente momentos de angústia, raramente interpretadas como oportunidades de polvilharmos a nossa existência com mais uns pozinhos de felicidade. Diria que é como o sal ou o açucar, a felicidade: na medida certa torna um pedaço de vida perfeito, em excesso pode provocar enjoos desnecessários ou atiçar a sede de forma a torná-la impossível de saciar. Quando vos perguntarem, respondam:
«Quanto baste, que tudo o que é demais é fastio».