Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Como o futebol explica o mundo e a violência
"Incipiente nos anos 80, o hooligan do futebol passou a ser considerado um inimigo de proa do Ocidente. “Uma vergonha para a sociedade civilizada”, comentou, certa vez, Margaret tatcher. Com base no número de mortos – mais de 100 nos anos 80 – os ingleses eram os líderes mundiais na produção de adeptos enlouquecidos, mas estavam longe de ser os únicos. Por toda a Europa, América Latina e África, a violência tinha-se tornado parte da cultura do futebol. (…) Susan Faludi e uma falange de sociólogos deram uma explicação para esta erupção. Escreveram sobre homens excluídos do trabalho, aqueles cujos empregos na indústria foram deslocados para o terceiro mundo. Privados do trabalho tradicional e subtraídos aos altares patriarcais, estes homens procuravam desesperadamente reafirmar a sua masculinidade. A violência futebolística deu-lhes a rara oportunidade de exercerem o seu domínio. Se estes adeptos chafurdaram no racismo e no nacionalismo radical, era porque tais ideologias funcionavam como metáforas das suas vidas. As suas nações e raças tinham sido vitimizadas pelo mundo tão profundamente quanto eles mesmos.
A privação e o desenquadramento económicos são explicações óbvias. Mas há tanto que estes factores não explicam. Os Ultra Bad Boys, como Draza, incluem também estudantes universitários com boas perspectivas. Os Caçadores de Cabeças (Head Hunters) do Chelsea, o mais notório gang inglês de hooligans, inclui corretores da bolsa e caçadores de emoções de classe média. Além disso, a história humana tem muita gente pobre, e raramente estes se juntam em grupos para mutilar por mutilar."
No seu brilhante ensaio em que coloca o futebol a tentar explicar o mundo, Franklin Foer dedica boa parte do seu livro a analisar o fenómeno do hooliganismo. Aquilo que em Portugal é visto e descrito como uma franja de marginais e rufiões a quem umas bastonadas chegarão para colocar no lugar, é certamente muito mais do que isso. O facilitismo e superficialidade analítica tipicamente lusitana teimam em não ver todo o quadro, apesar dos sinais que deveriam convidar a uma visão mais abrangente do fenómeno. Foer embrenhou-se no fenómeno na Sérvia e demonstrou inequivocamente a força e influência daqueles adeptos na guerra dos Balcãs. Também percorrendo os pubs e os estádios da velha Albion Foer esmiuçou a importância dos hooligans no modo de vida dos jovens e menos jovens britânicos. Em Portugal, apesar de todos os sinais indiciarem o contrário, quer-se limitar o fenómeno a um bando desorganizado de desordeiros. Era bom olhar para o crime organizado e para as redes de tráfico de estupefacientes percebendo a sua relação com as claques organizadas. Era bom que os responsáveis do Porto e do Benfica percebessem o quão convidativas podem ser as suas baixas atitudes e impensadas acusações para estes criminosos da bola. Para que não venham depois chorar lágrimas de crocodilo e vomitar desculpas esfarrapadas.
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2 comentários
De Anónimo a 02.04.2011 às 16:18
pc
De bolaseletras a 02.04.2011 às 20:23
Em termos de associativismo criminoso das claques mdeixa-me dizer-te que os vossos meninos e os do porco nos deixam a milhas. Se o beto do cotonete recebia o papa do Norte como o recebia isso foi um erro, mas não confundas a obra prima do mestre com a prima sabes tu de quem. E quem lá tens no cadeirão da catedral é igual ou pior, apenas se preocupa mais em disfarças. E o Vilarinho, o Damásio, o Vale, gente que não deixa dúvidas sobre os vossos valores e modus operandi. Desculpa lá, para falares disto tens que tirar a encarnada venda.
Abraço