Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Ó Senhores Zé Pedro, Tim, Kalu e Cabeleira
Ontem perguntaram-me: "Então pá, não escreveste nada sobre o bailarico que o Barça deu ao Manchester?"
Nem sequer pensei em escrever, respondi eu. Milhões já escreveram sobre isso, chover no molhado, refém do soundbyte do momento, não é bem a minha ideia de retirar prazer do acto da escrita. Prazer tenho quando escrevo sobre o que perpassa pelo meu espírito naquele preciso momento, sem os ditames da moda e da ditadura da actualidade.
Se o prazer que sinto ao escrever coincidir com o prazer de quem lê, epá, muito melhor. Se não, lamento imenso, mas escrever é e será sempre um acto egoísta. Quer porque quem escreve o faz para afagar o seu ego, porque escreve para se sentir mais realizado ou reconhecido, ou porque dá uso à pena para vender best sellers que, apesar de sentir que não o elevam à condição de de literato, sabe bem que lhe encherão a bolsa.
Por essa razão quase nunca escrevo sobre política, por isso cada vez mais fujo à hiper esmiuçada actualidade das notícias que nos invadem as casas, os olhos, os ouvidos. A política tem sobre pessoas inteligentes o mesmo efeito que o futebol tem sobre Miguel Sousa Tavares: transfigura-lhes a personalidade sob o jugo do fanatismo, turva-lhes a percepção sob a força de idealismos cada vez mais frágeis. Imaginem agora o que fará às meninges mais fragilizadas...
Toda esta conversa para atracar em que porto? Nos Xutos e Pontapés e numa música do seu último disco, "Sem eira nem beira". Parece que o disco que supostamente ataca o Primeiro Ministro de Portugal e sus muchachos, com o recurso ao pretenso estilo belicoso do saudoso Abrunhosa em tempos de Cavaquistão, tem sido fortemente censurado pelas rádios nacionais. Confesso que à música em causa não lhe encontro piadinha nenhuma, a melodia é fraquinha, a qualidade deixa muito a desejar face a um passado dos Xutos que marcou toda uma geração.
Pior que tudo é para mim a pouca ousadia do que se pretendia fosse um hino à revolta, ao descontentamento das massas, um Grândola Vila Morena do Século XXI. Ó malta, então para criticarem o Governo e o satus quo não se lembraram de história melhor do que a de um meliante que há 10 anos que está preso e há 30 que é ladrão? Então mas esta merda é uma crítica mordaz e credível? Então é um delinquente que vem criticar o Engenheiro Sócrates e a turba que o rodeia, referindo que a ele não o enganam, que sabe bem quem é que o anda a enganar? Por toutatis, arranjem lá uma coisa melhorzinha para fazerem de Abrunhosa e derrubar governos bem instalados.
De qualquer maneira, não me parece que seja pela falta de qualidade da coisa ou pela sua fraqueza crítica que as rádios não passam a música. Também tenho muitas dúvidas que estejam em causa pressões externas, era arriscar muito por tão pouco. Cheira-me mais ao habitual medinho tão português, ao "epá mais vale prevenir do que remediar", ao "deixa-nos lá estar quietinhos que isto ainda dá merda". Como este blogue é muita radical e não se deixa amordaçar cá fica o "Sem eira nem beira". Queira Deus que este não seja o acto mais corajoso que um qualquer cidadão possa tomar no decurso da sua mundana vidinha .
p.s. - Os Xutos são e serão sempre os maiores. XUUUTTOOOOSSS!!!