Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Portugal 6 - Bósnia 2
Na ressaca de uma noite de emoções fortes tudo surge mais clarividente. Para a selecção raramente existem noites perfeitas, prova dada pelos dois inconcebíveis golos concedidos frente à Bósnia. Começar a abordagem de tão magnífica vitória com os dois míseros golos bósnios serve exactamente para espelhar um sentimento que muito grassa pelas gentes lusitanas e que muito ouvi ontem pelo estádio e no pós jogo: destacar o que corre mal, mesmo que seja residual face a tudo o resto que correu bem, olhar só para o lado negro que todas as coisas têm ao invés de focar a atenção na luz que nos ilumina.
Como nos iluminou o fantástico golo madrugador de Ronaldo, a capacidade que demonstrou nos 90 minutos em colocar para trás das costas a sofreguidão tantas vezes vista na selecção para tudo fazer bem, dando assim lugar a uma liderança forte e inspiradora; como nos iluminou o golo indescritível de Nani, em que a bola descreveu uma parábola irreal apenas para ir incomodar a coruja que tão bem dormia no cantinho lá do fundo das redes; como nos iluminou um João Moutinho rejuvenescido que parece renascer nesta selecção; como nos iluminou um Pepe inabalável que manietou com a força da classe um fantástico Dzeko; como nos iluminou, contra tudo e contra todos, um Hélder Postiga que gritou a plenos pulmões que quer ter lugar nesta selecção. Esta vitória é destes jogadores e deste treinador, esta vitória é da coragem e da capacidade de inverter um caminho que no início prenunciava o desastre. Saibamos nós dar assim a volta ao desastre que nos paira sobre as cabeças com a mesma coragem, determinação e alegria com que estes rapazes carimbaram o passaporte para a Polónia e a Ucrânia. PARABÉNS RAPAZES!
Nota: Fotografias do site MaisFutebol
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1 comentário
De Marcelo Silva a 16.11.2011 às 23:19
Digo-o com pena, não merecemos ter um Cristiano Ronaldo. Como não merecemos todos aqueles que, jogadores da bola ou não, triunfam lá fora e fazem mais por este pequeno país situado aqui nos fundilhos da Europa, do que mil campanhas de publicidade e 10.000 governantes. Damo-nos mal com o sucesso dos outros. Para nós, a relação terá que ser sempre ganhar-perder, nunca ganhar-ganhar. E disto nunca sairemos.
Ontem, escrevo-o sem grandes ensaios, fiquei contente por ver os Bósnios derrotados, de tromba caída, pesarosos e vergados ao peso de 6 golos que lhe dedicamos. Com laser e assobios ao hino. Tiveram o que mereceram. E dá-me alguma raiva, ouvir esses fazedores de opinião, esses paineleiros da rádio e da televisão, a criticar o laser e os assobios. Tínhamos que ser muito educadinhos, muito elevados, muito desportistas. Vejam lá o que os franceses e outros que tais fazem. Vejam lá como se comportam. Como são sempre beneficiados. Mas sim, os franceses é que são muito cultos, muito desportistas, muito tudo e mais alguma coisa.
Ontem, gostei da atitude, da garra e de mais coisas. Não dá para sermos campeões da Europa assim que aterrarmos na Polónia, mas dá para lá estarmos. Não sei se vamos ganhar à Holanda, se é que iremos jogar com eles, mas pelo menos vamos estar no grupo ao lado. E será com os que lá estiverem, comandados por aquele que foi escolhido para comandar. Com as virtudes e os defeitos dele e dos outros.
Nós adoramos ‘ saltilhar ‘ as coisas. Colocar muito fado em cima, como se já não houvesse fado suficiente que nos acompanha e derrota. Na hora da vitória, lá vieram os comentários para os golos que sofremos mesmo que empurrados por uns alemães manhosos, a distracção momentânea, a falta de posicionamento dos defesas. E mais os que vão ver o jogo no conforto do sofá. Ontem, hoje, mais que nunca, seria tempo para gritar com toda a ‘ gana ‘ o nome de Portugal, o feito do Clube de Portugal, dos nossos jogadores e de quem os comanda. De dizer que o livre do CR7 e a revienga que aplicou aos 11 bósnios, são a coisa mais fantástica do mundo. Que só um predestinado como ele consegue fazer, aquela velocidade, o que ninguém mais faz. Mas não. As perguntas tinham que ir bater na chipala do outro que está em Londres e daqueloutro que está em Madrid. A vitória de ontem, que muitos não queriam e pensaram não ser possível, fica marcada pelos casos. Em vez de ser pelos golos. Vamos lá ‘ fazer sangue ‘ em vez de ‘ fazer a festa ‘. Mais português não há e somos assim e disto não vamos sair.
A terminar e mais uma vez chamando CR7 à conversa, recordo as suas palavras para com o colega Carlos Martins e para o problema pessoal e muito grave por que passa. Apelou para o ajudarem no sentido de encontrar rapidamente um doador de medula óssea compatível como filho. Ele próprio, se tivesse essa compatibilidade, o faria. Disso não tenho a menor dúvida. E tenho também a certeza que ele tudo fará para ajudar. Como sei que a vitória de ontem e o magnifico jogo que fez deixaram de ter sentido perante a enorme crueldade que a vida está a fazer aquele miúdo.
Ele que é um vaidoso.