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"O Retorno"

Terça-feira, 14.08.12

 

 

Independentemente do ângulo pelo qual se analise a obra, ocorre-me dizer que “O Retorno” é um livro maravilhoso. Para mim e para os meus companheiros de geração (malta nascida pouco depois do fim do obscurantismo, 1975 no meu caso) o conhecimento do que foi o fim da época colonial, o efeito do regresso dos nossos “colonos” africanos é um quase completo mistério. Culpa nossa porque pouco investigamos ou queremos saber sobre o assunto, culpa dos nossos pais e da geração que passou por tudo isso que prefere não relembrar histórias desses tempos idos. Mas também culpa de um país que pouco produziu sobre essas matérias, quer em termos de literatura, cinema ou mesmo produção jornalística. Por vezes parecemos os alemães a esconder sob o nevoeiro do esquecimento os tempos do nazismo.

 

O retorno é-nos contado por um rapaz de 15 anos que volta à metrópole. É-nos dado a conhecer o que era a vida dos portugueses em África, como se sentiam e comportavam, como tratavam os africanos, como por eles eram vistos. Racismo? Sim, terá havido, como poderia não haver se estivemos em África partindo de um papel de “somos melhores que eles”, “vamos lá educar e governar aqueles selvagens”. É duro, isto que digo? Talvez o seja, talvez não tenha sido sempre assim, pelo menos para alguns que amaram de facto África e os africanos e não se julgavam uma raça superior e mais esclarecida. Livros sobre África, sobre os tempos de colonialismo e do pós-colonialismo precisam-se. É o passado que nos permite entender o presente e preparar o futuro, nunca esquecer isso.

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publicado por bolaseletras às 18:30


20 comentários

De Anónimo a 16.08.2012 às 19:28

Subscrevo: é um livro maravilhoso e ainda sabemos muito pouco. Se me permite, recomendo-lhe outro: «Caderno de Memórias Coloniais», de Isabela Figueiredo (http://thecatscats.blogspot.pt/2009/11/li.html).

(Ah, é verdade: eu sou da colheita do ano seguinte. ;-)

De Carlos Azevedo a 16.08.2012 às 19:29

O anónimo sou eu; por lapso, não registei os meus dados.

De bolaseletras a 16.08.2012 às 20:25

Parece muito interessante o livro e é muito interessante o blog da Isabela Figueiredo. Obrigado Carlos, é sempre bom conhecer novos livros e blogs, sobretudo quando valem a pena.

Abraço

De Carlos Azevedo a 16.08.2012 às 21:46

Ora essa! Partilhar é um prazer. :-)

Abraço.

De Teresa a 16.08.2012 às 21:56

Ia falar no Novo Mundo mas depois como é um blog que tenho apreciado através dos destaques do Carlos esperei que ele aparecesse por cá . Lourenço Marques, Sá da Bandeira, Luanda... em todos os retornados o "Já aqui estou, contudo ainda lá estou." mesmo depois de todos estes anos.


De Carlos Azevedo a 16.08.2012 às 23:54

Sim, Teresa, é um pouco como diz. Mas, sobretudo, existe um conjunto de ideias feitas sobre a colonização e o processo de descolonização que não resiste a uma análise mais atenta ou até mesmo a umas quantas conversas com os ditos retornados ou com os colonizados. A realidade é sempre mais colorida do que o preto e branco a que tentamos reduzi-la; ou, pelo menos, tem alguns tons de cinzento.

Abraços.

De Teresa a 17.08.2012 às 09:48

Claro que existem ideias feitas e coloridas. Foi uma época terrível - e não falo só da descolonização - e houve "necessidade" por parte de muitos em (re)inventar um passado com o qual pudessem viver e sobre o qual se pudessem gabar...


Não muito diferente das vidas douradas dos nossos emigrantes na época de 60 e 70, onde a família na Terra os julgava prósperos até mais não, a viver algo entre Versailles e uma apartamento delicioso com vistas para o Sena quando a realidade era tão diferente. Vocês são muito novos :diz-ela-do-alto-dos-seus-45: mas então altura a RTP resolveu fazer uma reportagem sobre como viviam (a preto e branco para piorar o ar da coisa) e houve pessoas - família desses emigrantes - a precisar de tratamento médico tal foi o choque sobre as condições que muitos viviam.


Salvaguardando as devidas distâncias e diferenças todos manifestam a necessidade de inventar que o sonho foi mesmo dourado e não com as tais tonalidades de cinza que fala o Carlos. Que a Isabela traz à tona tantas vezes no seu blog (mesmo quando não está a falar de lá, sente-se que é lá que ela está quando reage assim a isto ou aquilo) e o que terá apaixonado o António neste livro.

Não António. Não comprei. Pelas razões no meu PS e também por pessoais durante muito tempo evitei este tema. Obrigada por teres trazido à baila e permitir abrir a porta desse quarto escuro. Mas vou comprar. Já há, imagino, o distanciamento - físico e temporal - que permite ler (outra) visão honesta e real... talvez.

Abraço,
Teresa


P.S. Se, durante anos, quando ouvia os zumzuns do colonialismo e dos seus tons preto e cinza eu rejeitava essa ideia e achava que eram vendettas de quem tinha ficado para trás, quando anos depois trabalhei com consultores que viajavam para Angola e Moçambique e assistia a conversas telefónicas entre eles e os empregados das casas onde se alojavam começei a respeitar e a acreditar mais em todas as verdades. Há verdades. Várias verdades.

De bolaseletras a 17.08.2012 às 15:52

Teresa,

Lendo o livro sinto que o quarto não ganhará muitas cores, há assuntos em que por mais perspetivas se olhe o cinzento é a cor dominante. Não sei o que foi a verdade, nem se há uma verdade única, mas parece-me que as verdades serão mais que muitas. Resta-nos viver razoavelmente com uma verdade que não atraiçoe demasiado a memória ou a verdade dos factos.

De Teresa a 17.08.2012 às 21:43

Infeliz ou felizmente conheci as cores e conheci as sombras e os negrumes. E sim, o cinza dominou e durante muito tempo e em tantas vertentes.

Por isso é sempre difícil (completamente) compreender a dos outros porque ligeiramente ou totalmente todas se parecem e não se parecem. No antes, no durante e no depois...

De Carlos Azevedo a 17.08.2012 às 21:54

Sim, Teresa, percebo o que diz.

De Carlos Azevedo a 17.08.2012 às 19:35

«Há verdades. Várias verdades.»

É isso, Teresa. Não sei se feliz ou infelizmente, mas é isso.
Abraço.

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