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Uma questão de números

Terça-feira, 27.11.12

 

 

“Apesar de dizermos que não somos números, quando falamos de nós, é de números que falamos: do que ganhamos, do que compramos, do que pagamos, do que temos. É com números que hoje definimos a nossa identidade, o nosso estatuto, o nosso bem-estar e as nossas expectativas. É por causa dos números que protestamos. Ao dizer que não somos números, queremos então dizer o quê? Talvez isto: que nós próprios somos os únicos juízes de quanto devemos ganhar, comprar, pagar, ter – e que ninguém pode fazer contas ao que queremos ou precisamos.”

 

Faz falta quem nos diga que andamos todos a gritar ao vento sem perceber o vento que passa. As palavras acima são da última crónica de Rui Ramos no “Expresso”, uma das vozes mais avisadas deste nosso país órfão de vozes que valha a pena escutar. Não somos números mas vivemos obcecados por cifrões. Pelos que temos e não temos, pelos que reclamamos merecer mas pouco fazemos por isso, pelos que não nos pertencem mas que pedimos emprestados, mutuados, empurrados para os nossos bolsos sem fundo. Para podermos ser considerados algo mais do que números temos que reeducar todo um estilo de vida e de sociedade que se sustentam sobre os pilares que estes alimentam. Temos que nos habituar a fazer os actos convergir com as palavras, convém que o que pregamos esteja de acordo com a religião que professamos. Também é por isto que chegámos a este buraco escuro e sem fundo.

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publicado por bolaseletras às 18:00


3 comentários

De Teresa Faria a 27.11.2012 às 19:41

Respondo-te com uma provocação, um excerto de um dos meus blogs...

"Para quem tudo gira em torno do material, do palpável, para quem se rege unicamente pelas leis de um sistema em visível decadência, acredito que não faça qualquer sentido que outro alguém se detenha com questões tão abstractas como SER.
Para quem vive sob a espada acutilante do medo do amanhã, há-de ser no mínimo intrigante que alguém se permita simplesmente apreciar e ser grato pelo hoje. Sentir e amar serão certamente coisas de somenos importância numa altura em que a preocupação fundamental é o TER.
A minha sentida compaixão por quem se sente esmagado pelo medo, assoberbado pela "realidade". (...) Não tomei uma decisão consciente de ser louca... mas na realidade, sempre se disse que os loucos e alienados são os mais felizes. E essa sim, foi uma resolução bem consciente que tomei na minha vida - Ser feliz."

Esta é a minha religião. Tento ser-lhe fiel. Não me revejo nos números. Preciso dos cifrões porque vivo numa sociedade economicista que a isso me obriga. Ponto. Não lhes permito que me definam ou que rejam a minha vida.
Sabes, é que eu oiço o vento que passa... ;-)

De bolaseletras a 27.11.2012 às 21:58

Felizmente, Teresa, o vento que passa não sopra da mesma forma para todos aqueles que se expõem aos elementos. Essa tua forma de encarar a vida é, como deves perceber, uma excepção à regra e tem a potencialidade poderosíssima de influenciar quem te rodeia. Boa sorte nessa missão, não vai ser fácil;-).

Eu não vivo despojado de nada, sou tudo menos exemplo de um seguidor de modos de vida franciscanos, mas há pequenas e valiosas coisas que me ajudam a estar ligado à terra que cheira a terra. Exemplos? Fazer as festas de anos dos meus filhos ao ar livre, em espaços públicos, contrariando a tese reinante que pagar e enfiar a canalha toda em espaços fechados, cheios de bolinhas coloridas e castelos insufláveis é o que está na moda e bem (Ok, ok, quem calculou mal a coisa e teve os putos a nascer no Inverno é capaz de se ver aflito). Comprar produtos hortícolas na feira do relógio. Ir com o mais velho ver os comboios passar, jogar à bola, andar de bicicleta, procurando que ele aprenda a apreciar o que não implica compras e bens. Escrever, ler e pensar em vez de gastar ou pensar no que me pode fazer feliz gastando. Sorrir e fazer sorrir, amar e fazer amar. Há tantas pequenas coisas que nos podem ajudar a ir esquecendo os números. O vento nem sempre sopra no mesmo sentido, basta-nos estar atentos, não é preciso muito mais.

De Teresa Faria a 27.11.2012 às 22:42

Oh meu caro António, vamos por partes.

Antes de mais, dizer-te que eu já não serei assim tanto a excepção à regra... felizmente já andam muitos mais malucos por aí!

Depois pedir-te que atentes bem ao que escreveste neste teu comentário.
Já está?... Repara como te aproximas mais da "minha" verdade do que da dos números...
Eu também não vivo despojada, António. Gosto muito da minha casinha, do meu carrinho, dos meus confortos, de alguns mimos... Não sobrevivo a pão e água, vivo plenamente! Simplesmente o meu "viver plenamente" não tem como foco principal os números, mas sim os seres.
A única diferença entre nós é que enquanto tu dizes "Há tantas pequenas coisas que nos podem ajudar a ir esquecendo os números", eu digo "Há tantas grandes, grandes coisas que tornam os números minúsculos..."

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