Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Cabo Verde 0 - Gana 2
Por afinidade familiar e também por patriotismo lusófono (se não existe, invento o conceito) passei a CAN a torcer por Cabo verde, tendo hoje sofrido como nos bons velhos tempos das gloriosas noites leoninas pelos tubarões azuis. Mas, como tantas vezes no meu passado leonino e português, o futebol foi cruel comigo e com uma selecção marcada pela coragem e pelo espírito de luta. Cabo Verde jogou sempre simples, bonito, demonstrando uma consistência defensiva admirável e uma capacidade de jogo colectivo marcante. Depois, seguindo as pisadas da irmã selecção portuguesa, Cabo Verde fez tudo bem excepto marcar golos. Para ajudar à festa, e como já tantas vezes vimos acontecer à nossa selecção, na dúvida o árbitro decidiu sempre a favor do adversário. Quem realmente percebe de futebol sabe que a inclinação que os homens do apito dão aos jogos não é feita de erros escandalosos, mas sim de pequenos pormenores. O canto que não se marca, a falta que não se vê, as faltinhas que quebram o ritmo, aquele encosto que na dúvida será sempre a favor de quem se queria favorecer. É também por isto que o futebol já me encantou mais.
Depois de assistir à impossível exibição do guarda-redes do Gana, só me conseguia lembrar de um torneio escolar de futebol de 5, em que na baliza e contra uma equipa absurdamente favorita, defendi tudo o que havia para defender. No futebol a confiança é tudo, e se estamos naqueles dias em que nos convencemos que naqueles 90 minutos ninguém nos dobrará pouco há a fazer. A cara do guarda-redes do Gana dizia isso mesmo – ali nenhuma bola ia entrar, nem que ele tivesse que partir o pescoço contra um poste. Fica uma vitória moral bem à portuguesa, por trás fica uma equipa valorosamente digna, injustiçada e roubada. E no fim, como não podia deixar de ser, um golo ridículo como marca de ingenuidade de uma equipa a crescer mas ainda a sair da casca. Ainda assim, parabéns rapazes, foram gigantes!