Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O verdadeiro problema da sustentabilidade - Sinais dos tempos
Esta foi a pergunta vencedora num congresso sobre vida sustentável:
"Todos pensam em deixar um planeta melhor para os nossos filhos... Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?”
Quer-me parecer que em vez de andarmos preocupados com os propalados recentes facilitismos promovidos pela Dr.ª Rodrigues, ou com as tentativas de fuga às avaliações e consequentes diferenciações de mérito alavancadas pelo Sr. Nogueira, devíamos todos, sem excepção, preocuparmo-nos com a qualidade da resposta que andamos a dar à pergunta acima colocada. Não sei, digo eu, é a minha opinião, que é como as cerejas, dizem alguns.
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Descoberta da semana
Solicitar a um jovem de 12 dias, ainda que com bons e paternais modos, que, no decurso de uma desesperante birra de mimo, se comporte como um homenzinho, não produz efeitos práticos visíveis. Não sendo difícil, a educação acaba por não ser uma missão nada fácil.
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Da série pérolas da blogosfera - Pénis tatuado na ignorância do povo
Custa tanto dar razão a ideias vindas de pessoas, partidos ou grupelhos dos quais nos habituámos, fiel e afincadamente, a discordar. Mas a questão é só uma: o Estado já ampara os desempregados, os inúteis, os que preferem ficar em casa a receber o subsídio da ordem em vez de fazer pela vida, só nos faltava que essa aborrecida tarefa que é educar a filharada passasse também para a esfera do grande pai invisível. Este texto da Ana Cássio Rebelo é tão duro e certeiro como um murro no estômgo do Mike Tyson. Leiam mais da Ana em ana-de-amsterdam.blogspot.com/, acreditem que os murros se vão repetir.
"Pela manhã, no comboio que vem de Alverca, uma mãe gabava a duas companheiras de viagem a tatuagem que o seu Leandro Miguel fizera no pénis. Linda, assegurava, assim tribal a fazer lembrar aquelas tribos da Indonésia, Polinésia ou lá o que é que é. As outras davam gargalhadinhas nervosas. A mulher devia ter uns quarenta e cinco anos e falava com entusiasmo do seu filho Leandro Miguel. Também tinha um piercing na língua. Usava as calças muito largas. Só queria roupa de marca. O boné custara-lhe quarenta e cinco euros. Os últimos ténis quase cento e vinte.
Tinha dois brilhantes nas orelhas. Às vezes, para desenjoar, tirava os brilhantes e colocava umas argolas de ouro branco. Não era bom aluno. Isso, porém, não parecia preocupar a mãe. Que o filho fosse medíocre como ela própria era algo que parecia quase confortá-la. Por fim, em jeito de remate, para mostrar que era uma mãe modernaça, muito prá-frentex, que comungava dos interesses do filho, mostrou a tatuagem que fizera no tornozelo. Um golfinho saltando nas águas do mar. Uma beleza.
(Custa-me reconhecê-lo, mas o CDS tem muita razão naquilo que diz em relação à polémica da distribuição de preservativos. Compete às família, pobres, ricas, remediadas, e não à escola educar os filhos. Compete às famílias e não à escola assegurar que os miúdos tomam as precauções necessárias quando iniciam uma vida sexual activa. Compete às famílias explicar que o sexo não se inicia aos doze, nem aos treze, nem aos quinze anos e que quem o pratica corre riscos.
Quem não quer educar os filhos, quem não está para os acompanhar, não os deve ter. Se o Leandro Miguel quiser foder, com o seu pénis tatuado, as feiosas todas do 10º ano da escola secundária da Arrentela que o faça. Se engravidar uma Bruna ou uma Micaela Cristina, cujo sonho secreto é participar numa novela da TVI ou ser capa da Maxmen, que engravide. Se apanhar uma doença infecto-contagiosa e morrer antes dos vinte e cinco é uma sorte para todos nós.)"
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Não há sistemas perfeitos, não há professores perfeitos
Há uns tempos, num velório em dia triste e escuro, encontrei o meu melhor professor do ensino secundário. Deu-me aulas durante 3 anos, isto já há mais de 17 anos. Como não moramos longe, de ano a ano ia-me cruzando com ele. Sempre foi um homem decidido, de convicções fortíssimas, um touro de energia que não via obstáculos para as suas iniciativas em prol dos alunos e do que julgava ser a melhor forma de os ensinar. Só para verem, sendo professor de Religião e Moral, chegou a presidente do conselho directivo da escola.
Mas notava-se ao longo dos anos. O desgaste, o cansaço, a descrença no sistema. Falou-me com uma amargura profunda da desilusão com a escola, os colegas, do que sentia ser uma política educativa errada que estava a destruir aquilo porque sempre lutara. Pelo que conhecia dele, confesso, fiquei extramamente impressionado com o rumo que a política educativa estaria a levar. Sim, não pensem que é nos jornais e debates que percebemos a bondade ou malvadez das soluções de que todos falam. É no terreno, nas vozes dos participantes do sistema que nos vamos aprecebendo das reais implicações deste espírito de mudança. Esta era uma voz, uma voz que me deixava preocupado.
Ouvi-o, questionei-o, a conversa fez-nos esquecer que estávamos ali para partilhar a dor de mais uma despedida de mais um familiar de uma pessoa amiga. Foi então que a amargura deu lugar a outra coisa distinta. Um desenrolar de queixumes por aquilo que sempre existira e lhe queriam tirar. Um discordar cego das correcções ao sistema que só o iriam prejudicar. O auge chegou com a revolta pelo facto de o quererem obrigar a deixar de exercer advocacia, coisa que sempre havia acumulado com as funções docentes. Os sacanas!
Há 17 anos era tão mais feliz perdido no conforto do desconhecimento. Deve ser a isto que chamam dores de crescimento.