Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A tempestade
Não havia forma da tempestade passar. Não percebia nem procurava perceber porque não conseguia parar de fixar loucamente os raios que rasgavam o céu cinzento, porque insistia em deixar que as golfadas de chuva torrencial o encharcassem até à raiz dos ossos. Os trovões soavam-lhe como música celestial, o frio era um convite irrecusável para se manter acordado e alerta, para sentir a vida atravessar-lhe as avenidas do corpo em níveis de velocidade alucinada e muito acima dos limites estabelecidos pelas confortáveis vidas dos vizinhos, dos amigos, da malta lá da empresa. Os dias de sol e modorra enfastiavam-no de morte, amava aquela tempestade naquele segundo, naquele minuto, naquele fim de tarde, sabia que ia ser assim até ao fim da sua vida. Há vidas piores e mortes bem mais fúteis.