Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Catarse póstuma
Não se viam há mais de um ano e aquele encontro, entre viagens, na esplanada do aeroporto de Lisboa, duas horas entre os voos de ambos, seria o momento em que celebrariam verdadeiramente a maior alegria desportiva das suas vidas. Desde que se lembravam, à excepção deste euro tinham visto todos os europeus e mundiais de futebol juntos, apaixonados, irmanados de esperança no início e de sonhos frustrados no fim. A vida dera-lhes agora a distância sem lhes tirar a amizade eterna e aquela paixão comum pela selecção de todos nós.
“- Epá, estive à beira de um AVC, eu sei que estive. O remate ao poste do Gignac, mais os 10 minutos até ao apito final depois do golo do Éder rebentaram comigo. Não ia aguentando a pressão, estive mais de uma hora catatónico a olhar para a televisão, eles a festejarem enquanto as lágrimas me corriam pela cara em silêncio, com o sorriso mais parvo e incrédulo do mundo.
- Ahahah, só tu, pá! Orgulho sem fim! A cena do Ronaldo a pedir para jogar todo estropiado, chorar, sair, ir para o banco e pôr aquela malta toda a entranhar no corpo a loucura e a vontade de ganhar dele, esta equipa de luta ganhar a toda uma nação como a França, a uma equipa mais forte no papel, é o maior feito desportivo de sempre!
- Nem a fuga para a vitória com o Stallone, porra, que argumento genial, nem o Tarantino!
- Sabes o que acho que foi isto. Acho que a realidade superou a ficção, nem nos nossos mais ambiciosos sonhos!
- Talvez, talvez. Em França, pá, na cara e na casa deles, e eles a magoarem o nosso menino. O gajo a querer, como quando no passado os gajos jogavam de braços ao peito, e ele a não poder, caramba, o nosso menino! Histórias que só os velhos contam mas nunca vimos, o nosso menino a ir chorar para a cabine!
- O gajo a saltar na área já todo entrevado, maluco do carassas, a dar tudo sem ter já nada para dar!
- Quando vi o Éder rematar, que sonho!
- Como me dizia hoje um velho amigo, ex-jogador, é golo com a mão de Belzebu, ele tirou aquele remate das caldeiras do inferno!
- O Patrício possuído, o Nani poucos falam mas fez um jogo do camandro!
- Mas para mim João Mário! Grande Euro e grande joga! E na defesa o Pepe, monstruoso, monstruoso!
- E o puto Guerreiro, que categoria, defesa esquerdo da selecção para mais 10 anos!
- Sim! Gostei dele! Certinho apesar de ser franzino!
- Certinho? Mas tu estás a bater mal? O gajo a atacar é uma máquina, parte-os todos!”
E a catarse continuou, imperial após imperial, a emoção a soltar-se em golfadas como se estivesse ainda presa depois da torrente descontrolada de comoções ininterruptas que pareciam, até àquele reencontro, não terem ainda encontrado a saída de emergência para explodir naquele fogo-de-artifício de glórias impensáveis. Obrigado rapazes, obrigado Engenheiro Fernando, obrigado Portugal!
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2 comentários
De Francisco Oliveira a 21.07.2016 às 23:33
Eu, que não tinha grande fé no Engenheiro, acabei convertido...! Numa palavra, foi do c$#")/o!!!