Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Da urgência e da importância das coisas
No top das frases um dia lidas de que nunca me esqueço, a qual já devo ter em tempos partilhado aqui pelo blog, está a seguinte: “Se é importante não deve ser urgente, se é urgente não é certamente importante”. A frase/adágio é atribuída aos “alemães” e lia-a num artigo escrito pelo antigo ministro Luís Campos e Cunha. Creio que não há dia em que não me depare com uma situação que me desperte a vontade de gritar bem alto esse adágio. As urgências são o sal dos corredores do poder deste país, das repartições, dos serviços, das empresas. Parece que em 99% dos casos só naquele momento exacto se soube que era preciso ter aquele documento concluído amanhã, só naquele minuto se soube que aquela encomenda tinha que ser preparada para expedição, só naquele exacto segundo o senhor ministro percebeu que tinha que fazer um balanço daquela medida para daqui a umas horas. Neste mundo de correrias loucas planear é visto como uma futilidade ou modernice, o que interessa é dar resposta na hora, não frustrar os gestores das urgências diárias. Enquanto corremos e suamos asseguramos que seja feito muito bem e a horas um mundo de tarefas que não são pensadas nem realmente importantes, fica por pensar e por fazer tudo aquilo que poderia, sem urgência mas com eficácia, ajudar-nos a sair deste buraco sem fim onde nos vamos afundando. No atletismo temos um fantástico histórico nas corridas de fundo, no mundo real somos os tristes campeões de sprints inúteis e de estéreis correrias.
Autoria e outros dados (tags, etc)
4 comentários
De Teresa a 13.01.2015 às 22:17
Quando comecei a trabalhar dentro de uma secretária que repetia - a toda a hora - "não há urgência que não possa esperar 15 dias". Um dia explicou o porquê da afirmação. Ela saía sempre à hora devida. Dizia ela "estou todo o dia no escritório o que houver a fazer deve ser pedido, exigido nesse período". A determinada altura teve um chefe que resolveu quebrar o ciclo (lógico) e quando ela estava para sair pedia-lhe uma coisa urgente para fazer, atrasando o momento de saída. "Muito urgente" dizia ele, "não pode ficar para amanhã."
Um dia essa minha colega foi a uma consulta mas prometeu voltar ao fim do dia para ver se havia alguma urgência. No entanto detectada uma situação (essa sim urgente) teve de ficar internada e foi sujeita a uma cirurgia. Esteve 15 dias em convalescença e quando voltou ao escritório estava em cima da secretária um documento, daquele dia fatídico há 15 dias, que dizia "Muito Urgente! Dar seguimento ainda hoje!"