Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Desabafos sobre um país à beira mar sufocado
É nula a vontade de escrever sobre o triste estado da nação, os incompreensíveis desmandos da política nacional, sobre a incapacidade de quem nos representa acordar e delinear um caminho decente para o que resta deste cantinho à beira mar sufocado. Não tenho vontade mas tenho raiva, pelo que lá vou dedilhando os caracteres da revolta. Este país tarda em querer, por si, com a força, a vontade e a sabedoria das suas gentes e das suas supostas elites, caminhar rumo à felicidade e a um mínimo conforto das suas gentes. Reparem, não falo em prosperidade, em contos de fadas de que somos incríveis e que podemos ser produtivos como os nórdicos, fanáticos pelo trabalho como os japonses ou inventivos como uma turma de geeks indianos que criam startups como o Eusébio cuspia cascas de tremoços. Falo em termos uma vida razoavelmente feliz e fisicamente confortável, em podermos legar aos nossos filhos um país de que se orgulhem - ou de que pelo menos não se envergonhem muito - em não andarmos a contar os trocos ao fim do mês para comprar um frango assado para a família inteira ou para pagar a renda e a tv cabo (sim, isto é real, há demasiadas famílias em que os horizontes no final do mês são estes). Não, não falo em luxos e em euforia utópicas, há demasiada gente com demasiado dinheiro a encharcar-se em comprimidos, não pensem que é isso que nos fará eternamente felizes. Os senhores líderes dos partidos preferem defender as suas damas egoisticamente (os seus privilégios, os seus lugares, as promessas de lugares para os seus) a defenderem a dama que os colocou lá - somos nós a bela dama que deviam amar e estimar. Os milhares de especialistas do comentário e da análise relatam as atrocidades, os golpes palacianos, as ambições desmedidas, desenham os mil cenários da catástrofe que espreita por entre os corredores imaculados da Assembleia do povo, esquecendo-se do povo, o povo que quer esperança e ajuda para perceber, que não quer palavras negras e que desembocam em becos escuros, mas palavras que acendam luzes, palavras que conduzam a caminhos com futuro, palavras que inspirem acções grandiosas e certeiras. Será que para se ser jornalista, comentador, analista é obrigatório colocar sobre as costas a negra capa do fado? Fala-se muito, fala-se demasiado, debate-se tudo e mais alguma coisa e nada se concilia. Uma parte é uma parte e a outra é um adversário, não uma parte de um todo. Quem devia negociar acordos com seriedade absteve-se de o fazer, seguindo o exemplo do exército dos que já não acreditam, dos deserdados da política. Quem tem a chave de futuro na mão vê que o amanhã só trará passado, o mau passado, mas conforma-se com a nuvem negra que desabará, mais cedo do que mais tarde, e teima nas tricas de hoje em busca de sabe-se lá o quê, talvez da vitória pelo cansaço. É preciso dar um murro na mesa, é preciso estadistas de peso, mas ninguém o dá, mas ninguém tem esse peso. Este país é uma maravilha, só é pena os portugueses.
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3 comentários
De Anónimo a 20.10.2015 às 20:20
"não segovernam nem se deixam governar"... isto no sec. III ac...