Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Gente feita de gente
Elizabeth Taylor a descansar, durante as filmagens de "Suddenly, Last Summer" (Espanha, 1959)
Precisa-se de gente que abra, gentilmente, alas para quem vem da esquerda ou da direita,
gente que não corra
que não salive quando vê o amarelo beijar o calor assassino do vermelho
homens e mulheres que respirem a serenidade de nuvens imperfeitas
de suspiros de algodão em forma de bolas de sabão
nuvens que não sabem se chovem ou se serenamente flutuam
indecisas entre imitar redondas baleias ou tesouros do tamanho do sonho das crianças.
Procura-se gente que não pergunte por razões
almas despidas de porquês
senhoras que não pintem os lábios ou tisnem os olhos,
mulheres com pestanas que se deixem levar p´lo vento sem toques nem retoques.
Anseia-se por homens com simpáticas e sorridentes barrigas
machos sem machezas nem mulherezas
apenas homens que riem alto quando ninguém dorme
e que ressonam quando a noite cai.
Buscam-se crianças de joelhos esfolados
com cheiro de riso e de relva molhada
tristes e felizes petizes de lágrimas embrulhadas em gargalhadas tolas
redondos de tanto chutar bolas
esqueléticos de tanto correr,
como se o mundo e a felicidade de o descobrir fossem uma estrada sem fim.
Precisa-se de gente feita de gente.