Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Mil máscaras
Quatro paredes que encerram o medo nos recantos do nosso assético casulo. A vida mascarada de vida, o medo convertido no novo normal. Pelo canto do olhar desconfiado as saudades do sorriso aberto de há 3 meses, há 3 meses foda-se, há 3 meses a rapariga da pastelaria sorria enquanto corava e corava enquanto sorria, desfazia-se no calor dos meus galanteios como o creme do mil folhas se evaporava na minha boca a ferver do sorriso dela. Não, não há na minha vida nenhuma loira de generosos e fartos seios da pastelaria do bairro, há apenas a raiva por não ver sorrisos abertos e tímidos por detrás das cirúrgicas máscaras que nos converteram a todos em doentes ambulantes, em hipocondríacos cinzentos e macilentos, zombies sonâmbulos cuja ambição maior é fugir ao bicho, ao Covid, ao coveiro, à cova onde todos acabaremos, com ou sem máscara. O caminho que faremos até deitarmos as costelas na terra fria somos nós que o escolhemos. Preferem fazê-lo a sorrir e a beijar, ou a sentir o bafo do medo encostado a lábios secos e carentes do calor da boca do vosso amor, do engate do momento, da moça da pastelaria de mamas de mil sonhos e folhas? Vejam lá isso, porra.