Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O efeito Carrillo (Sporting 1 - Nacional da Madeira 0)
Regredindo face ao que foi o início da época, o Sporting exibiu-se em Moscovo muito abaixo do que nos habituou, tendo confirmado ontem, frente ao Nacional da Madeira, que a curva exibicional tende mais para o descendente do que para o ascendente. Como exemplos paradigmáticos dessa preocupante oscilação, aponto o caso de Jefferson, que falhou quase sempre naquilo que melhor faz – os cruzamentos venenosos -, no que foi acompanhado na perfeição por Slimani, rei dos cabeceamentos, que insistiu em fazer festinhas à bola com a testa nas oportunidades que teve para fazer chocalhar as redes. O que mudou nestes dois últimos jogos? Sim, é inevitável falar nisso e fazer essa associação – o caso Carrillo. Se alguém tem dúvidas que este imbróglio pode deitar uma época a perder, aqui ficam 3 razões que justificam que isso seja uma possibilidade:
- O efeito directo da ausência de Carrillo na equipa – É o nosso melhor extremo, tem fantasia, remate, capacidade de assistir e cruzar, interpreta quase na perfeição o estilo de jogo que Jesus implementou de trocar entre a linha e o meio do terreno para confundir as defesas adversárias e dar dinamismo ao ataque do Sporting. Gelson é uma grande promessa, mas é ainda um menino com futebol de rua, com todas as vantagens e desvantagens que isso apresenta (JJ diz que Gelson está ainda a aprender a jogar com os colegas – mas para que serviram estes anos de formação e os 40 jogos o ano passado na equipa B???).
- O efeito “estão a maltratar um dos nossos” – Carrillo era um jogador querido no seio da equipa. Os laços de amizade criam solidariedade, quando um é atacado os amigos tendem a juntar-se em seu redor. A falta de intensidade e concentração de alguns jogadores nos últimos dois jogos, não poderá ser explicada por isso?
- O efeito “se o fazem com ele hoje, amanhã fazem-no comigo” – Um jogador que esteja perto de terminar o contrato vai sentir sempre esta pressão, este receio de passar pelo mesmo. Percebem que as dúvidas sobre o nosso futuro são uma fonte de perturbação importante?
Não vou entrar em juízos éticos sobre esta situação, até porque ninguém conhece ao certo todos os contornos da mesma. Concordo que um jogador tenha o direito de definir o seu futuro, mas também defendo que um jogador que foi tão valorizado pelo clube deve saber agir de forma a que o clube seja recompensado por esse investimento e valorização. Diz-se que Carrillo já tinha dito o sim e, sem sabermos porquê, voltou com a palavra atrás. Aqui sim, entramos no campo da ética e do cuidado para não ceder a chantagens de empresários, de clubes abutres e outros que tais. Não tenho a chave para a solução desta caso na mão, quem tem de a ter é a Direcção do Sporting, sob pena de este ciclo negativo se vir a agravar. Vejam lá isso, Bruno e companhia.