Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O jogo
Houve um momento, único e interminável, em que ele pensou que não mais ela se voltaria para um derradeiro olhar. Acreditou que não mais veria o medo da paixão refletido nos seus olhos de gata, desesperou por sentir que o amor fenecera para sempre. Foi então que percebeu que também ele tinha medo, que também o brilho dos seus olhos era mais medo do que outra coisa. Só quando entranhou o medo de a perder percebeu que o amor é um jogo cruel entre o querer ter e o temor da perda. Soubera gerir na perfeição os medos dela. O jogo desenrolara-se na estreita linha que separa o desespero do querer da queda no buraco negro da privação. Tanta energia gastou na gestão do tabuleiro que se esqueceu que todo o jogo tem um fim, que no jogo do amor não há finais empatados. Evitou sempre o xeque-mate porque o amor que por ela sentia era tão forte como o prazer que o jogo lhe dava. Na vida, como no jogo, quem não mata arrisca-se a morrer.