Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Olho por olho, dente por dente?
Não tenho bem a certeza porque é que a frase acima, que já de si não é simples nem pura, me conduziu à imagem abaixo, toda ela indiciadora do que comumente se designa por impuro, pouco dada a simplicidades e bem mais amiga do complexo universo de Helmut Newton, que produziu este estranho quadro no início da década de 70, num qualquer apartamento de Paris. A perversidade que se adivinha por detrás das quatro paredes não será estranha a quaisquer outros casulos domésticos. Esse toque erótico-maligno, mais ou menos indecoroso, bem presente ou melhor escondido sob a pele dos nossos tabus, existirá sempre abrigado da moral da “vida em público”. Ainda assim, olhando para os recentes acontecimentos de Paris, é legítimo questionarmo-nos sobre onde reside agora o mais fundo da perversidade dos homens. É nos pecadilhos carnais que se adivinham nas sombras invisíveis que os cortinados escondem, ou é no sangue que escorre, lento e frio, para as sarjetas que outrora apenas recebiam as águas de Outono? Bin Laden, esse profeta das trevas, disse um dia: “Nós temos jovens que amam a morte mais do que vós amais a vida”. Como lutar contra isto? Como não ceder ao apelo do ódio, do olho por olho, do dente por dente?
P.s – Cruzei-me com esta imagem na passada tarde de sexta-feira, poucas horas antes do massacre de Paris. Encontrei nela uma perversa beleza que não soube traduzir, senti ao contemplá-la um ligeiro arrepiar na espinha sem razão aparente.